Terminada a primeira leitura de Íon de Platão, pululam ideias e noções filosóficas semelhante à pipocas estourando dentro da panela. O rapsodo exposto como ridículo pela eurística platônica, me faz indagar sobre a ruptura entre a concepção mítico-poética como algo divino e menor, ao passo que a técnica é algo maior. A arte do rapsodo não aponta para uma técnica, portanto, pode ser tudo, menos algo que possa ser descrito ou levado a sério.
A poesia como tal não é tratada se não há uma técnica sobre ela. O rapsodo não é poeta. Exerce apenas a função de meio de manifestação divina e não de criação. Mesmo que Homero seja tratado como poeta que cria, interpretei do diálogo que, mesmo ele [Homero], também não o é, já que este seria induzido pelos deuses, numa segunda camada vem o rapsodo que de igual modo, mas que em segunda via, é perpassado pelo divino numa sucessão advinda por Homero. Eis o excerto que martela os pobres tico e teco:
"Pois coisa leve é o poeta, e alada e sacra, e incapaz de fazer poemas antes que se tenha tornado entusiasmado e ficado fora de seu juízo e o senso não esteja mais nele. Enquanto mantiver esse bem, o senso, todo homem é incapaz de fazer poemas e de cantar oráculos. Mas como não é em virtude de uma técnica que fazem poemas e dizem muitas e belas coisas acerca desses assuntos, como tu acerca de Homero, mas em virtude de uma concessão divina, cada um é capaz de fazer apenas isto a que a Musa o inspira...."
No último parágrafo, penso eu que, Sócrates termina por ressaltar que o ser divino talvez seja divino não somente pelos deuses, mas também porque nós (os espectadores) assim os classificamos como tal, quer os deuses quer os poetas e rapsodos. Enfim, como sempre, os diálogos de Platão nos põe mais minhocas na cabeça do que certezas. Vixe mãe do céu.
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