Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Filme Ensaio sobre a Cegueira

Poxa, lamentei muito a perda do trabalho que fiz sobre o filme "Cegueira", por isso, registro por aqui minha impressão sobre ele. A memória é caótica porque faz muito tempo que assisti ao filme. Bem, o que mais me chamou a atenção foi a possibilidade que aquela população específica de cegos tinha a oportunidade de criar um mundo novo, partindo de novos pressupostos e, no entanto, reproduziram exatamente o mundo como conheciam, com suas mazelas, suas injustiças e violências impostas pelo poder da coerção por meio de arma. A situação da mulher continuou sendo a de um objeto manipulado ao bel prazer dos homens.

Pensando um pouco sobre o ponto de vista da Gerusa Souza com relação a traição do marido, relembrando a situação, percebo que a mulher já não era mulher, era mãe e a dele para ela, era de filho. Do ponto de vista ocidental quem tem atração sexual pela mãe é louco e incestuoso, mesmo a razão indicando que ele não era filho dela. No final do filme, ela deixa ele tentar fazer as coisas sozinhos e só entao, o relacionamento deles, volta a uma normalidade entre homem e mulher.

Agora, o que ainda não tive tempo de pensar foi o porquê de ela ser imune aquele virus. Ela é uma testemunha da possibilidade de mudança e o que vê é exatamente o que antes seus olhos viam. Enfim, é um aspecto que só assistindo o filme e lendo o livro e um pouco mais sobre o Saramago, eu consiga especular mais um pouquinho.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Cantinho especial dos versos dos amigos

Resolvi fazer esse post em homenagem aos poetas:
  
Carlos Brunno S. Barbosa (Note or not ser?),  
Naldo Velho (Asas que tenho por dentro),  
Janaína Cunha (Entrega, a essência de uma mulher),  
Rita Magnano (Travessia do verso) e  
Ilnéa País de Miranda (Eu menina toda prosa...), 

pois como sou lerda na leitura, resolvi ler os livros de todos eles ao mesmo tempo. Então, vou  postando alguns versos que mais gostei ao longo da leitura. 

Eis os primeiros da série:

Janaína Cunha

"Santa Loucura, mãe de todas as vontades e realizações, não permitais que eu esqueça as minhas raízes e muito menos de quem realmente sou" 
 (Prece à loucura, p. 13)

Janaína, eu ainda não descobri completamente quem sou, mas quem sabe um dia?


"Descobri que estar sozinha não é ser só e que a pior solidão é a que sentimos ao lado de alguém" e "Perdi o fôlego ao investigar o mundo imenso que me aguardava do lado de fora da minha casa." (Pés no chão, p.14). - Eis que você e tantos outros, hoje, fazem parte desse mundo que descobri fora dos limites de minha casa.

Ilnéa País de Miranda

"Meu corpo conheceu taboa antes dos meus olhos. Conheceu-a morta, trançada em esteira, fazendo vez de cama e de colchão". (Taboa - não é um poema, mas amei essa visão descrita pela poeta - p.23)

"Um ser mítico, encantado / Um só, cavalgando sonho." (Centauro, p.45)

Carlos Brunno S. Barbosa

"Se tudo me convém, por que não me convencem? / Se não me convencem, por que me convém?" 
(Note or not ser II - o que convém e o que não convence. p.6)


"Hoje eu vou te falar de amor
enquanto os pedestres atravessam
os carros,
enquanto as ruas atravessam as pessoas,
enquanto as pessoas atravessam
a faca,
enquanto a faca atravessa
a carne
cujo preço atravessa 
a condição econônica
da maioria da população;" (Não se fazem poesias de amor como antigamente, p. 7)

Rita Magnano

"Eu sou o que não sei..." (Cacos de mim, p.10)

"Como responder sobre mim
se desconheço-me ainda?" (Loucas palavras, p.11)

Naldo Velho

"Realidade é coisa sem graça,...
(...) Por isso sou poeta,
ando misturado às pessoas
e consigo viver aqui fora,
sem me perder do que tenho lá dentro" 
(Asas que tenho por dentro, p.9)


"(...) O milagre da palavra existência,
a importância da palavra sagrada,
a delicadeza da semente do trigo,
o segredo do ciclo das águas,
a verdade em cada trecho da jornada,
a imponderabilidade da palavra tempo,
o aprendizado em cada detalhe que eu vivo,
a eternidade dos caminhos que eu sigo." 
(A cada tempo um pouco mais, p.11).

Bem, espero que gostem dos fragmentos dos meus poetas-amigos. Até breve!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A não sabedoria de ser e de não se fazer Ser

Sabe aqueles dias em que voce chega a conclusão de que há alguma coisa errada no mundo e essa coisa errada é você? Você é a coisa inadequada a esse mundo. Não serve, não presta, sua matéria ainda é informe, nunca aprendeu a ser Ser. Tudo te revela essa inadequação, só você é que ainda insiste em tentar, mesmo tendo consciência disso.


Por que viver nesse mundo mental se é tão mais prático viver no real amorfamente? Que coisa patética! Espero que essa sensação "brascubiana" passe logo. Pois ao contrário de Brás Cubas que afirma ter saldo positivo do outro lado porque "— Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria". Encontro-me, eu cá, ainda deste lado da vida, mas já sabendo que do outro terei uma dívida a ser paga, pois leguei a meu filho a minha miséria existencial. Affe que isso é uma culpa tenebrosa.

domingo, 25 de novembro de 2012

Pequeno Bordejo em Valença

Por duas vezes já ouvi um amigo reclamar a respeito da concepção do que seja um Sarau. No dicionário Priberam online encontrei a seguinte definição: "Festa noturna em que há dança, música, canto, etc." e no Aurélio "S.m. 1. Festa noturna, em casa particular, clube ou teatro. 2. Concerto musical noturno".

Bem, pode-se perguntar o porquê de eu estar começando um post turístico com definição de Sarau. Acompanhe-me! Estive em Valença para assistir um evento em que foi apresentado entretenimento, música e poesia. Portanto, dentro da acepção de Sarau. Bem, agora o que trago à baila é que para muitos, o Sarau tem de ser realizado nos moldes do século XIX, ou seja, com música "certa" (que eu não sei qual poderia ser, a clássica, chorinho, MPB?????). Caramba, não desprezo o passado, mas por que tenho de vivenciar meu tempo com os dois pés num tempo impossível de resgatar? Por que esse purismo fajuto ou por que manter esse evento cultural eletizado como era antigamente e que servia para agradar o convidado da casa? Pensando em tudo isso, me passou pela ideia que sendo Conservatória a cidade das serestas, por que Valença não poderia ser a cidade dos saraus? Saraus de todos os estilos, já que na definição não se especifica que tipo de música, dança ou literatura deveria fazer parte dele.


Bem, voltemos ao meu bordejo valenciano. O dia nasceu belíssimo e eu, no dia anterior, já havia procurado ver se perto do hotel onde fiquei hospedada havia lugares que eu pudesse visitar no outro dia. Não poderia deixar de dizer que fui muito bem tratada pelos funcionários do Rio Hotel e meu agradecimento pelo carinho a mim dispensado. Um hotel simples, mas que tem o necessário para se descansar, afinal de contas, as vezes é melhor uma boa acolhida do que muitas estrelas.

Como estava dizendo, vi uma placa indicando um museu, a Capela Nossa Senhora das Mercês e a Cadeia (essa eu dispensei a visita rsrsr). Tomei o rumo que a placa indicava e cheguei a capela.


Toda feliz, saquei a máquina que minha amiga havia me emprestado e qual não foi minha desilusão, ela não funcionava nem a pau, olhei desolada para a capela em estilo neogótico, construída em 1943, tão linda, cheia de detalhes nos portais, os pináculos, os vitrais e eu não podia registrar nada. Lembrei então do celular, mas quando fui tirar a foto, surgiu a mensagem "em espera", pqp isso me deixou pra lá de irritada. Eu quase tive um ataque de pelanca. Não estava conformada, comecei a voltar, então bateu uma ideia na cachola. Desmontei o meu jurássico celular e montei outra vez, deu certo. Toda contente fui tirar a foto. Até coloquei a mão para dentro das grades. Acho que não deveria ter feito isso. Mas fiz.


Até então, só tinha visto os garis na rua, que já estavam me olhando de esgelha achando estranho eu estar na frente da capela tentando a todo custo fazer a bendita máquina funcionar. Em seguida apareceu do nada um carro de polícia e fiquei a imaginar se os moradores haviam chamado a polícia, olharam para mim e acho que não viram ameaça nenhuma e passaram sem me revistar ou me interrogar (graças a Deus!). Mas de um interrogatório não escapei. Poucos minutos depois chegou uma senhora que mora do outro lado da rua, em frente à capela e, eu "proseei" um pouco. Ela me informou que a capela não é aberta à visitação, mas que as 6h ou 7h  toca a Ave Maria. O lugar é super bonito. Diponibilizo o link onde pode-se encontrar informção sobre a construção e sua história (http://valenca.rj.gov.br/turismo/atrativos-turisticos/). Enfim, achei prudente sair de fininho e procurar o próximo local de visitação.


Tinha visto uma torre grande de uma igreja e lá fui eu atrás de mais turismo. Cheguei à Igreja Nossa Senhora da Glória ou Catedral de Nossa Senhora da Glória que teve sua fundação entre os anos 1789 e 1803, juntamente com a própria origem da cidade. O que era mais do que comum na época, uma cidade nascia a partir da Igreja. Em 2004 foi concluída a reforma. Está belíssima. Eis o link para conhecerem a história da Catedral: http://www.catedraldevalenca.org.br/


Cheguei no finalzinho da missa. Tantas crianças com seus pais. Sei o quanto as vezes a religião é um subterfúgio para muitas pessoas esconderem suas pulsões. Mas é muito bonito ver as crianças de mãos dadas com seus pais numa manhã de domingo. Tão serelepes, quão bom seria que o que muitos representam frente à comunidade se estendesse à vida real.


Mas sei que é ilusão. A vida não é esse oásis divino. Aliás, acho que a vida só é divina quando passamos pelas tormentas e conquistamos o idílio, a calmaria tão almejada.


As fotos não são uma brastemp, mas dá para ver o quanto a restauração foi criteriosa e bem feita. As portas da Cripta são um primor. Infelizmente não sei quem foi o artista, mas são belíssimas. As escadarias em madeira que levam ao Museu são outra obra de arte. Isso sem falar no órgão que tive o prazer de ouvir acompanhando a bela voz de uma mocinha que cantava.


Não posso deixar de agradecer a querida Senhora Maria das Dores que não é guia, mas se prontificou, mesmo apesar de idade, a subir toda a escadaria e abrir o Museu para que eu conhecessee. Toda orgulhosa daquele pedaço de chão que é parte dela também. Agradabilíssima senhorinha me falou de todos os padres que ela conheceu ao longo de sua vida de paroquiana naquela igreja. E convida a todos para participar da festa do Jubileu de 200 anos da Paróquia em 15 de agoste de 2013.

Ao sairmos da igreja, nos defrontamos com um bela praça que nos faz recordar tempos passados. O cheiro das igrejas católicas tem essa característica de cheiros idos mesclados com a atualidade. Ve-se também uma belíssima construção que abriga a Escola Estadual Benjamim Guimarães.


Já na rodoviária, fiquei a observar as palmeiras, sinal de nobreza, em frente a praça e do outro lado o Hotel Valenciano, cuja fachada é um primor de arquitetura com ar europeu. Vi-me de sombrinha passeando naquela praça e indo me hospedar no hotel. Na próxima vez que eu for, lá estarei rsrs, acho que até de sombrinha se possível. Vamos fazer um sarau à caráter na praça uma vez por ano?



Enfim, foi um prazer ir a Valença e conhecer um pouco de sua história e mais ainda, amigos que só conhecia por facebook. Quem puder, não perca essa oportunidade. Uma pena que não pude ver a luz incidindo através dos vitrais da Capela Nossa Senhora das Mercês.
  

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Oitavo Sarau Solidões Coletivas In Bar de Valença

Uma data memorável para mim. Acreditem, nunca irei me esquecer. Com toda certeza ficou gravada em minha memória e na minha pequena alma (minha amiga Teresinha que o diga).

É muito legal quando conhecemos pessoalmente alguns entusiastas das artes que antes viviam apenas na virtualidade das redes sociais. O Carlos Brunno comentou a respeito do evento ser humilde. Nunca me incomodei com isso, como falei para ele, nasci e vivo desprovida de pompas e circunstâncias.  A simplicidade do Sarau em nada desmerece a riqueza que fui em busca e encontrei: versos salpicados de almas. Pedaços de sentimentos que saboreei. Além das músicas e intépretes que deram todo o encanto para a ocasião.

Jaqueline e eu - Valença - 17/11/12
Antes de começar a festa, eu e a Jaqueline coversavamos sobre o modo como o Sarau faz com que pessoas comuns se sintam a vontade para expressar seus sentimentos sem receios. Ia me esquecendo de mencionar o companheirismo entre vocês. Cito um exemplo: a karina que veio mostrar o poema dela, tão empolgada para você dar sua apreciação. Sei que o artista tem sim sua dose cavalar de ego, mas acredito que pode-se conviver egoicamente não é? Achei superdemais essa aproximação sem mestre e sem discípulo, apenas pessoas trocando expressões e visões de mundo entre si. É claro que tudo isso regado ao bom e velho de nervosismo, afinal de contas, não estamos acostumados a refletores. O que lá se mostrou não foi encenação, mas algo que todos temos dentro de nós e que sempre pede para se mostrar. Esse algo é sempre saliente, ele é que gosta de se mostrar. É quase uma criança que quer chamar a atenção dos que estão a sua volta. E por que não? Acho que deu certo.

 Respiramos os ares de Bram Stocker, Cruz e Souza e Led Zeppelin.Cada um dos partícipes, em seu estilo, explorou o terror. A Jaqueline com sua delicada e sensual poesia, cujo eu lírico foi seduzida e sua "Essência Roubada" por um vampiro (http://deliciosailusao.blogspot.com.br/2012/11/essencia-roubada.html#comment-form). O comediante Ronaldo Brechane a indagar-se sobre como seria o laboratório que a Bruna surfistinha queria que a Débora Secco tivesse feito com ela. Intessante pensar nessa possibilidade, afinal de contas a moça tinha uma vida bem agitada entre blog, cama ou qualquer outro lugar apropriado ou não para sua atuação profissional. O Habib a instigar a fantasia feminina ao eleger os vampiros como ótimos amantes, desse jeito vou até querer ser mordida por um deles rsrsr. A Cíbila Farani declamando "as estrelas" de Cruz e Souza, "Tempestade", de sua autoria e desejando uma nova realidade pelo rock tão sonhado, assim como cantando lindamente "meu doce vampiro" da Rita Lee. Aliás, as parcerias musicais são muito boas. O Zé Ricardo e o Fael, se não me engano, fazem parte do Vibração, cujo slogan é de uma criatividade imensa, o que já prenuncia um prazer para sermos felizes, assim como a vontade de fazer o melhor sempre. O Fael cantando e acompanhado pelo Zé bateram um bolão. Ops, desculpe, cantaram e tocaram um bolão rsrsr. A gaita e seus acordes a chorar em nossos ouvidos. Escutar que "Eu não preciso de auréola, nem de religião porque eu tenho a inspiração, não é bão pra lá de metro sô.

Alguns versos esparsos que costumo pegar no ar e anoto em meu caderninho de sempre: "te entrego meu corpo por ti despido", parece um presente desembrulhado com ânsia e prazer contemplativo o que não elimina uma intensão mais do que ativa. Alías, tinha um rapaz com um cadernão que eu adorei. O caderno parecia uma parte dele, um membro não de seu corpo, mas de seu eu. Definitivamente não era um caderno comum, era um livro de vida. O Alexandre a anunciar que a porta do paraíso a estrada leva.

Ainda falando de vampiros, outro verso avulso fala de sugadores de almas e sonhos. Um contraponto com a sedutora figura de Jaqueline e Habib. E continuando noite a dentro, versos brilhantes e enluarados que protegem. Gilson Gabriel com versos que talvez contradigam Parmênides que, segundo ele, o não-ser não é de modo algum. Mas quando Gilson diz que "Você carrega o tudo e o nada... o ser e o não-ser", parece que esse não-ser é de algum modo algo, acho que o Górgias concordaria com o poeta valenciano. Patrícia com uma permanencia quer de dia quer de noite, eis que permanece. Juliana Maia (agora não me lembro se é a Guida) fazendo um pedido a noite. Uma reminiscência socrática me bate de repente com cicuta e licores divinos que me lembram o néctar dos deuses, muito embora até mesmo a cicuta possa ser um instrumento de ligação entre o condenado que aspira ver os deuses ou Deus (não sei, deixo a critério da crença de cada um). Ou ainda uma fusão de morte prazerosa entre um beijo de cicuta (sabe-se lá, o amor as vezes mata de prazer ou não).

Ressalto a participação sempre contagiante do Carlos Brunno. Não posso me esquecer da Dona Isabel, mãe de Juliana Guida Maia, com seus haicais belíssimos e que podem ser lidos na íntegra no blog Diários de Solidões Coletivas (http://diariosdesolidao.blogspot.com.br/2012/11/solidoes-orientais-compartilhadas-os.html). Agora já não posso dizer com certeza quem é a autora de "Noite Mórbida", acho que é a Karina. A primeira estrofe fez minha imaginação me transportar para "onde epitáfios, são presos por magia, e guardados por fantasmas da solidão", não tem um quê de aventura cinematográfica e mágica? Olha que eu não assisto filmes de terror, morro de medo, tenho pesadelos e tudo rsrsr (é sou mulherzinha mesmo rsrsrs, não tenho vergonha de admitir). O link para esse poema é: http://diariosdesolidao.blogspot.com.br/2012/11/solidoes-macabras-tres-noite-morbida-de.html. A Raquel com agudeza do olhar quer "analisar seus sentimentos... quanto suportar", caramba é isso que chamo de imaginação. Cheguei a querer colocar a tristeza, a alegria no microscópio e ver de que são feitos esses e tantos outros sentimentos. A Juliana Guida com o poema danado de bão da Clarice Raquel "Cartas ao Don Juan: você é apenas um 'apenas'" é de lavar a alma de muitas de nós no quesito vingança contra porcos chauvinistas.  Há tantos meros "apenas" neste mundão de Deus. Ainda no mesmo clima, ela declamou o poema de sua autoria premiado e intitulado "O Ruído do Fim" e me sai com um verso lindo "barulho inaudível da sua ausência" e que foi publicado no Jornal Valença em Questão. Por falar nisso, adorei o quadrinho de Panta. Profundamente filosófico Tantos outros participantes que eu infelizmente não consigo atinar obra e autor e, para não cometer mais gafes do que normalmente cometo, peço que me perdoem por não citar todos.

Por último, falo um pouco de minha participação. O poema que li não é meu, é de Fernando Alves Carneiro "O homem e o Cão" que exalta a fidelidade canina. O conto que li foi do Carlos Brunno do livro "Diários de Solidão: quando a ausência faz companhia". Adorei esse conto "Amor é fogo que arde sem se ver (http://diariosdesolidao.blogspot.com.br/2012/11/contos-mortais-de-solidao-amor-e-fogo.html)" porque toca num ponto nevralgico da solidão que mata. Tantas solidões, inclusive a dos saraus proposto por este autor que é pra lá de benéfica. Muito triste passar uma vida inteira sem sentir o calor do abraço de amante, dos beijos e dos afagos que alimentam a alma humana. Quão triste é a morte do eu lírico que só viveu, no exato momento da morte e, quando finalmente se sente abraçado pelo fogo, deita-se em sua companhia agradecido por experienciar sua quentura, face a ausência de uma relação verdadeiramente humana. Dois terrores tenebrosos: a suspeita da não fidelidade (isso não se restringe apenas ao âmbito da relação amorosa) e da solidão. 

Bem é isso que fui capaz de lembrar. A todos agradeço a companhia de uma noite muito especial para mim. É só. Abraços e um até breve.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ocorrência Urbana

Hoje, mais um dia de dia comum, sem grandes expectativas, logo porque nesse calor, minha única expectativa é de estar à sombra e num lugar fresco. 


Fui para o trabalho normalmente. Deu minhas aulas e ao fim do ofício, louca pra chegar em casa, tomar um longo banho frio e almoçar. Qual não foi meu desprazer ao colocar o tal bilhete único (único mesmo, não tinha outro) e ver a informação SALDO INSUFICIENTE. 

E agora? Sem dinheiro (porque a anta aqui, não anda com dinheiro), nem cartão (só o único) e mesmo se tivesse, onde estava nem caixa eletronico tinha. Enfim, estava na merda. Quem me salvaria? Quem? Quem? Meu filhote. Fiquei esperando numa praça até meu filho chegar. Sentei em baixo de uma árvore. Tinha uma brisa gostosa.

Pouco tempo depois, um morador de rua senta junto a mim. Um aluno veio falar com ele. Depois ele tirou sua marmita e começou a almoçar. Como é de se esperar, é claro que ele não me ofereceu, mas do que justificável. Mas a comida dele estava com um cheiro tão bom que meu estomago chegou a roncar timidamente. Ele comeu tudo, para a sobremesa banana e laranja. 

Satisfeito, iniciou uma conversa comigo e se apresentou. Seu nome era Paulo Sergio, reclamou que a Cedae havia demorado para reparar um cano estourado em frente a UERJ e ao ponto de ônibus lotado de alunos que sairam de 4 escolas no entorno e o trânsito começou a dar nó. O Paulo ficou sonolento e disse que tiraria um cochilo, mas estava com medo que eu o roubasse. Afinal de contas, ele tinha escutado minha conversa com meu filho pelo telefone e eu disse que estava sem um tostão furado no bolso - acho que ele devia ter umas economias guardadas na mochila. Bem, o tranquilizei e prometi quenão o roubaria e, logo depois, o cochilo tinha se transformado num sono quase profundo.


Paulo é um mendigo conhecido, pois eu velava por seu sono até que meu filho chegasse, quando um outro homem veio de bicicleta e o acordou. Nesse mesmo instante chegou meu filho. Levantei e deu um tchau pro popular Paulo e segui meu trajeto interrompido pelo bilhete único. Mas, por via das dúvidas, vou passar a andar com uma graninha no bolso que possa pagar pelo menos a passagem de ida e volta para casa. LIÇÃO APRENDIDA. Mas sai no lucro, conheci o Paulo Sergio, um homem e não um mendigo, que hoje me deu a honra de sua companhia.

sábado, 3 de novembro de 2012

Identidade e Movimento Poliédricos



Dentre bilhões de adjetivos, escolho o poliédrico para dar significado a minha visão das belas formas que se ofertam no Identidade Cultural e Movimento Culturista. É sempre um prazer ir ao evento. Não sou uma neófila compulsiva, mas sou viciada no novo que os participantes trazem em suas bagagens. Gosto desse movimento meio que mambembe e de improvisação. Para mim é isso que dá todo o vigor a arte. Impulsos que se manifestam naquele exato momento. Sabe porque digo isso? Vejamos, quando vejo um Márcio Bragança, uma Mel ou a filha da Bia Rustan que sentam naquela caixa acústica (gente, perdão, mas não sei o nome desse instrumento) e nela marcam o rítmo da brincadeira, (séria e lúdica ao mesmo tempo) qual crianças que sentem o mais genuíno prazer no que estão fazendo. Gosto de ser penetrada pelos versos e acordes do Identidade. Como posso eu também não gozar de tal momento. Outro coisa que faz do Identidade ser um movimento em construção é o envolvimento de pessoas desde o início como é o caso de Carlos Orfeu que distribuia panfletos na rua para divulgar esse intento artístico e que fez uma bela homenagem ao Naldo Velho.

Hoje não seguirei uma sequência quase exata rsrsr, logo porque já faz algum tempo e realmente não tenho uma memória privilegiada. Dependo em muito de meu caderninho em que anoto frações do que é dito e também estou meio, como um colega da tchurma disse, em manutenção (adorei essa expressão). Bem, começamos com o mote musical "Vinícius de Moraes" com o Marcio. Em sequência, a Wanda Monteiro nos deu uma visão da fronteira entre a língua e a linguagem. Segundo a escritora, a primeira dá a forma que traduz o que é e, a segunda, é a substância que molda o que pode ser. Na terceira capa do livro de Naldo Velho que foi lançado no evento, Wanda descreve a obra do poeta "Sua lavra cumpre o propósito da poesia, que é o de revelar novas significâncias aos entes e as coisa do mundo", ou seja, um "Nadavelho" em constante construção de neologismos semânticos (liga não, adoro as redundâncias. Como são intensamente saborosas, de lamber os beiços rsrs). 

Em seguida, houve uma sucessão de participantes que desfiaram versos do "rosário" de Naldo. Repetimos nós, os espectadores, um amém a cada poema lido. Foi aí que me perdi na cronologia. Transcendi e perdi o fio da meada. Espero que não fiquem bravos comigo. Foi uma sucessão vertiginosa entre poemas e músicas. Muito bom perder o rumo desse jeito. Quem precisa de retidão quando gestamos tantos embriões in loco?

"O céu está morto e a pedra mais viva que ele" - Não sei o porquê de ter anotado esse verso que Wanda declamou, mas que é lindo é (aliás, proponho que quem participou do evento possa preencher as lacunas do esquecido por mim). Lembrei da pedra de Drummond que tanto pano pra manga deu, pura polissemia. Adoooooro! É chato se ter apenas um lado chapado, nem dá margem a ser 3D. Wanda ainda fez brotar outros excertos dos poemas "É tempo" e "Liturgia da palavra" de Naldo que nos dá uma noção de seu belo trabalho. Poemas que "gostam de andar do lado errado da estrada ou caminhar em silêncio.

Naldo Velho preencheu parte de minha existência com esses versos: "lamber madrugadas" e "não me peçam poemas mansos, só sei caminhar aos tancos e barrancos. Sua dedicatória para mim, mostra o quão humano é a função do poeta "Poesia é ato de coragem/é dizer diferente/aquilo que todo mundo sente". Não li o livro ainda, apenas folheei e nessa ação dei de cara com o poema "Gente Enluarada" que tem a mania de desentranhar coisas do seu e de muitos umbigos. Essas pessoas conseguem sobreviver à ruina e constrói a cada dia um sonho. O autor se autodenomina como não sendo um poetas e sim, um exorcista e buscador de amplitudes. Digam, essas palavras dele não fazem doer a alma de tão boas que são?

Eis mais uma lacunar anotação. É sobre a música (não me lembro qual). É uma música que se deve ouvir ao abrir a janela todos os dias, deixar que o sol aqueça o corpo e os versos a alma. A Mel falou que "já bebi caminhos de puro desassossego".

Agora um ponto de quentura corporal foi o estilo repentista de Janaína Cunha e Wanda Monteiro com poemas que enlaçam o corpo e ascendem a um patamar nada casto, mas extremamente divino. Adorei a disputa poética, que por tabela, atingiu um rosto que rapidamente se enrubesceu, mas morro e não digo quem foi, kkkkk. Sabe que me passou pela cabeça que gostaria de ler um poema intitulado "Palavras desavergonhadas" (alguém se habilita? é só uma sugestão). A Érica, solícita, logo aparece com seu "Terapia" trazendo uma rima toda prosa que escorregou na corda bamba. Além disso, trouxe paliativos como poemas aromáticos com odor de cedro, cerejeira e ipê. Contudo, não fugindo ao momento de inquietude, anotei esse verso: "se poesia fosse prostituta seria infeliz, mas venderia". Ananita declara que Jorge, o amado, era maior que sua carne". Depois Marcio e Wanda me faz recordar com saudades profundas a Elis. O sambinha que alegrou meu corpo e sacudiu a alma e nos incita a vivermos de amor. Para que de dia ela (e) lave roupa e de noite me beija a boca (sorry, não sei de quem é).

A dupla Joilson e Ingrid foi maravilhoso. Ingrid sacode os versos de Joilson que saracoteiam entre as mesas, quase peguei alguns, mas os deixei ir, versos são de natureza livres e quando vem até nós, eles são revestidos por nossas interpretações (como bem disse Janaína) e partem para outros portos onde serão novamente reinterpretados. Mel contribuiu com seu característico vigor que faz tremer o coração quando pega aquela caixa. Uma alternância perfeita entre música e poesia. Lá fiquei a ver o desfile de ambas. Em seguida tivemos a Alessandra Moraes que ama "todas as formas de vidas" e nos faz ver que "todos temos uma casa abandonada" onde os fantasmas nos olham. Eu digo que amo a forma de viver poeticamente dos poetas. Hélio Sória canta os Beatles e foi uma festa danada. Mel e Bia Rustan entram numa Bifurcação e afirmam que "hoje [sabem] que [seus] passos certos são os mais incertos" e que "nosso amor é miragem e areia no deserto". Uns atravessam e outros escorrem pelas mãos.

Por último, falo do projeto "Trilha sonora para livros". Achei a ideia muito inovadora. Sempre temos trilhas para filmes, mas nunca havia pensado numa música que me remetesse a um livro. Adorei a ideia do leitor ser embalado com a voz da garota que é muito bonita. Da performance do Don Juan que queria ir embora para a casa poesia e ficar entre o silêncio e a mudez. Por fim, cito a poesia mística que respeita "o universo por me fornecer tudo isso". Cara, a garota tem uma memória que me deu uma inveja tenebrosa. O poema dura em média, pelo que ela falou para a Janaína, uns 15 minutos. Mas acho que ela precisa trabalhar melhor o modo como deve apresentá-lo (precisa de tempo e vagar. É um poema-livro, algo meio que biográfico, não sei ao certo, pois o tempo era curto e não foi possível ela apresentar tudo). Mas fiquei impressionada, me fez lembrar um ator portugues, António Fonseca, que apresentou "Os Lusíadas" de cor. Um feito pra mim, por isso dediquei-lhe um post http://omundomentaldemaria.blogspot.com.br/2012/06/apresentacao-teatral-de-os-lusiadas-de.html (para quem quiser saber um pouco mais).

Bem, é isso. Até breve!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Romantismo

"Eu queria pedir que você nunca roube, minta ou traia.

Mas se você tiver que roubar, roube todas as minhas tristezas.

Se você tiver que mentir, minta, mas para poder passar todas as
 horas comigo.

E se tiver que trair, traia a morte porque eu não posso passar
 um dia sem você".


Quando ouço palavras como as que coloquei em evidência, percebo que apesar de todos os pesares, ainda continuo romântica, do mesmo modo que era em minha adolescência, se isso é démodé ou brega, sinto desapontar, mas ainda quero encontrar alguém a quem um dia possa pedir tais coisas. 

Por mais que a realidade diga que isso não existe, minha alma teima em ser ridícula, burra e irracional. O texto foi retirado do filme Casa Comigo? Um filme tipo "mamão com açucar" (como dizem os céticos em relação ao amor), mas com um enredo tão simples e encantador. A paisagem (acho que é irlandesa) é deslumbrante. Eu também tenho minha dose de ceticismo. Contudo, ainda tenho fé no amor. Vivemos à sombra de ideais televisivos ou cinematográficos. Existe amor em sua plenitude real, isto é, são amores que nascem de modo parecido ou não como os que são retratados nesses veículos de comunicação. São amores que brotam, se constroem ou as duas coisas ao mesmo tempo. Muitas vezes deixamos de ver esse amor porque nosso imaginário está sobrecarregado desses ideais socialmente ou economicamente criados. 


O que nos vendem como amor? Por que gostamos de ser iludidos quanto a esse tema ou será que ele não é um tema, e sim uma parte de nossa natureza latente? As vezes nos equivocamos entre a ficção e o possível real (que pode ser mais belo que o ficcional). A pergunta mais do que batida retornou a minha mente: a vida imita a arte ou é a arte que imita a vida? Poxa, quando ouvi a personagem falar esse texto para o noivo, vi que para mim não faz a menor diferença se é ficcional ou não.  Constatei, além disso, que meu ceticismo é muito falastrão. rsrsrs Eita como é constrangedor nos ver como de fato somos: meros mortais humanos, contraditórios e ilusionistas de si mesmo.


sábado, 20 de outubro de 2012

Minha Primeira Noite na Taverna



Acreditem! Há esperança para o mundo.

Ontem fui ao encontro de Uma Noite na Taverna pela primeira vez. Encontro às cegas sem dúvida. Pois com uma Carminha de partida e ainda por cima as ofertas de aniversário do supermercado Guanabara. As chances de fracasso absoluto pairava nefastamente sobre o evento. Mas para minha surpresa, nem essas duas pedras, a midiática global e a do trânsito cada vez mais caótico dos centros urbanos foi capaz de deixar a Taverna às escuras para o público que foi assistir.

O homenageado foi Ferreira Gullar que ressalta a ideia de que "a arte existe porque a vida é insuficiente". Não sei se já falei, mas Gullar e Marcos Lucchesi foram os poetas que fiz questão de que meu filho conhecesse pessoalmente aos 8 anos de idade. Ele adorou os cabelos de Gullar e uma história de uma galinha (se não me engano, e quase sempre isso acontece). Dois poetas por quem tenho o maior apreço.

Mas voltando a Taverna, a apresentação da Banda Nova Ordem Alternativa foi ótima. As músicas com letras extremamente poéticas e o som e a voz do vocalista super gostoso de ouvir (como não sou muito dada aos movimentos dançantes, limito-me a mexer a cabeça, os pés e os dedos, tudo quase imperceptivelmente - tão sutil que ninguem vê, só eu. Isso porque estava empolgada, pois quando estou terrivelmente tímida, os movimentos são só interno, digo, mentalmente). Destaco a música "Inteligência Artificial". Alguns versos que adorei "histéricos sem luz e ainda cegos", "os filhos da miséria estão armados para matar", "amarelos homens girassóis" e "inércia da evolução"

A apresentação de Lara trouxe um tom militante interessante de conferir mais de perto. O pandeirista que a acompanhou em dado momento, deu um tom improvisado e bem vindo. Carlos Eduardo entra em cena com foco no existencialismo simples e fugaz, desde o religioso às contradições humanas. É bem eclético. Do poema Erê cito o verso "filhos bastardos do Brasil". Do Marcos Vaseck (não sei se é assim que se escreve) saliento o verso "o novo é repetição de algo que ainda não se viu". Concordo com ele, pois, para mim, existe um Logos (é como um pomar que se oferece para ser colhido por aqueles que saboream seus frutos - interpretação vulgar minha e não a definição filosófica) como pano de fundo que dá todas as ferramentas do dito e o ainda não dito. Toda a criatividade humana está imersa nesse logos. "num mar de gente, todos os desiguais tornam-se iguais" e "a vida só consome o que alimenta", anotei esses versos por alguma razão que agora não me ocorre o porquê. Mas fica aqui o registro de mais uns algos que se perderam em minha mente confusa.

Para finalizar o evento, relato uma produção poética de Narducci e outro poeta (que não lembro o nome) que gostei pra caramba. Acho que posso dizer uma disputa temática sobre o pavão. De um lado o pavão como uma mera figura estética de beleza cujo conteúdo é questionado; de outro (o Narducci) criou uma apologia poética a pobre ave que como fenix ressurge gloriosa beleza, propriedade que lhe é natural em essência.

Quase ia me esquecendo de falar do ambiente agradabilíssimo. Uma noite fresca, de vento suave e cheiro de velas a queimar como num retorno as antigas tavernas com suas lamparinas e meia luz. Lá não dava para apagar todas, mas o simulacro foi de bom tom. Um vinho tipicamente tavernesco que adorei, trouxe-me a ideia da embriaguez de tais locais. A formação de uma estalactite de cera nas garrafas postas nas mesas me remeteu as pinturas rupestres que os pré-históricos legaram a nossa civilização como vestígios da arte que extravasa o ser mesmo sem que este se dê conta (ou dava e não sabemos, nada temos senão hipóteses do que eles intentavam ao fazer tais desenhos - será que um dia saberemos?) e para por fim ao que digo, não apaguei a vela de minha mesa. Que a chama da arte ali ofertada tenha trespassado o próprio local e tenha se espalhado pelo pedaço de céu que vislumbrava de meu lugar de observação que me dá a nítida sensação de que não sonho sozinha. É isso minha gentennnn (agora convoco a Amélia que há em mim, para a faxina).