Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Meu percurso afetivo com Tarsila do Amaral

Não sou uma pessoa culta e acho que nunca serei. Não é essa a minha intenção na vida. Mas aprecio a beleza da vida, a beleza natural das coisas e a beleza transformada pelas mãos habilidosas de determinadas criaturas. É esse, em minha diletante opinião, o caso da Tarsila do Amaral. As imagens que posto aqui, são algumas que vi na exposição (24/02/2012).

Tarsila nasceu na cidade de Capivari (SP), em 1º de setembro de 1886 e morreu em janeiro de 1973, aos 86 anos de idade. Tarsila nasceu em berço de ouro sim, no entanto, não se negou ao trabalho árduo quando perdeu quase tudo na Crise de 1929. Segundo Bel. José Roberto Guedes de Oliveira, ela foi à Paris para vender o único bem que lhe restou após a crise. Sem dinheiro, nesta cidade, começa a  procurar emprego e, "Andando uns dias pelas ruas viu numa construção a placa 'Precisa-se de pintor'. Entrou e foi admitida entre os pintores – todos homens – que lhe ensinaram o ofício. Com alguns dias, pediram-lhe os documentos para contratá-la, mas o dono da construção era o arquiteto Adrian Claude, que ao ver o seu nome mandou chamá-la. Ficou muito chocado de ver Tarsila fazendo aquele trabalho, convidando-a para decorar o seu apartamento. Tarsila desenhou nas paredes a baia de Guanabara em sépia. Ganhou dinheiro bastante para voltar ao Brasil e ficar algum tempo com folga."

Foi uma profissional apaixonada por seu ofício.  O que terá acontecido com essa mulher para que ela mudasse seu estilo, ou poderia dizer a sua repetição mimética da tradição. Será que enjoou, que cansou de sempre ver a mesma coisa em todas as obras em Paris. Terá sido o tédio de ver a variação da mesma coisa que a fez olhar para seu interior e sentir saudades de nossas cores vibrantes, vivas e isso a impulsionou a assumir um estilo próprio, diferente de todas as recomendações e sugestões de seus antigos mestres.
Academia nº 4 - 1922 (antes do Movimento do Modernismo)
Abaporu, 1928 (depois do Movimento Modernismo
















 
O "Abaporu", de 1928, foi um presente de Tarsila a Oswald de Andrade, seu marido. Em depoimento sobre esta monumental obra, de conhecimento universal, Tarsila explica: "Fiz este quadro para dar de presente ao Oswald, no seu aniversário. Aproveitei que ele não estava em casa e fiz aquela coisa monstruosa, aqueles pés enormes. Oswald levou um susto e telefonou para Raul Bopp, pedindo para vir correndo. Procurei um dicionário tupi – sempre gostei de ler dicionários – o que era aba: "homem". Na última página achei uma coisa diferente: poru: gente que come carne humana. Então ficou "Abaporu", "homem que come carne humana". (http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=186&rv=Literatura)

Na âmbito pessoal, casou-se quatro vezes. Viveu a vida da melhor forma que foi possível.Teve seus disabores amorosos com a traição de Oswald de Andrade com Pagu e tristezas profundas pela morte da única filha Dulce e a trágica morte de sua neta Beatriz, que ao tentar salvar a amiga que se afogava na piscina, acabou se afogando também. 

Beatriz, 1940
 No quadro composição (figura só), talvez seja um reflexo da dor de ter sido trocada por outra e da solidão terrível que a abateu pela separação de Oswald. Nesta pintura podemos inferir um quê de melancolia, de tristeza e saudade. Uma figura só com seus cabelos esfoaçantes, uma paisagem árida e um vazio muito grande na tela. O período em que ficou casada com Oswald, foi um dos mais produtivos da artista.
Composição (figura só), 1930






Trabalhadores, 1938
Ela também retratou diferenças na esfera social, embora alguns possam dizer que ela apenas retratou, não se envolveu na questão propriamente. Muitos estudiosos também afirmam essa mesma falta de vigor em Machado de Assis. Eu digo que seria muito hipócrita da parte de Tarsila denunciar a questão social, já que toda a sua vida, foi pautada nas benesses que o dinheiro propiciava. Quanto a Machado, na condição social dele, a denuncia arraigada, provavelmente o teria eliminado do meio literário de sua época. O que muita gente faz é querer comparar um comportamento anacrônico de determinadas personalidades históricas.
A Negra




Esta foto foi encontrada em meio as coisas de Tarsila, não é certo que seja a foto da ama de leite da artista, mas é possível que seja. Óbvio que A Negra é uma imagem afetiva de sua infância.



Segunda Classe






Interessante essa pintura. Tarsila, acostumada a viajar em primeira classe, tão diferentes de seus retratados. Não devia ser muito agradável viajar nesses vagões ou ela interpretou a partir de uma comparação?
Morro da favela, 1945





 Gostei muito da visita guiada, porque a guia, quase sempre, nos dá uma visão do todo da exposição. Tivemos sorte com a que nos guiou, super extrovertida e fazia com que o público interagisse com o que estava exposto, além de situar a obra à vida da autora. Como por exemplo a pequena reflexão sobre o convívio na favela e nos grandes centros urbano, nas obras Morro da favela e E.F.C.B (1924). Uma visitante falou algo curioso sobre a convivência social. Muito embora, alguns possam achar ingenuidade por causa da violência. Mas eu confirmo, porque sou testemunha ocular e "auditiva" (rsrsr). Num morro, favela ou o que agora denominamos comunidade, existe uma certa construção coletiva sim. Conhecemos os vizinhos pelos nomes ou os nomes de seus pais. Até a figura da fofoqueira foi lembrada. Figura que sabe todas as "notícias" locais e se encarrega de informar a todos. Lembrei, nesse ponto, de Walter Benjamin por lamentar o desaparecimento da narrativa oral. Ora, quem mais exerce essa função do que ninguém menos que a fofoqueira. rsrsrs
E.F.C.B. (Estrada de Ferro Central do Brasil) - 1924
Por outro lado, nos grandes centros urbanos, apesar dos grandes ajuntamentos humanos, a convivência social é baseada num distanciamento completo. Uma pessoa pode morrer sozinha dentro de um apartamento e sua presença só ser notada quando o estado de putrefação se fizer insuportável aos vizinhos de porta. Só então, é que se aciona os bombeiros ou a polícia. Quase ninguém sabe o nome de seu vizinho. São uns completos estranhos.

Manacá, 1927
Também é chamada de Quaresmeira
Agora falo sobre a tela Manacá, que é uma árvore de 8 a 15m de altura e que eu não conhecia. Só conheço o Grupo Manacá, que por sinal é maravilhoso. Disponibilizo tanto a imagem como o som em homenagem a essa pequena árvore.

O Grupo Manacá, a voz e as letras das músicas desse grupo são maravilhosas, tão suaves como as cores presentes nas flores da árvore.

 
  Grupo Manacá no programa Altas Horas
 Aproveitando um pouco as cinza do Carnaval do Rio de Janeiro, a guia nos brindou com o samba "Meu lugar" de Arlindo Cruz. Explicou que o quadro Carnaval em Madureira, foi pintado por conta da ida de Tarsila à Madureira com alguns amigos franceses.
Carnaval em Madureira, 1924
Um gostinho do samba Meu Lugar de Arlindo Cruz. E aqui termino meu relato da visita que fiz a Exposição de Tarsila do Amaral, no CCBB. Não posso deixar de lembrar da carta exposta, que a artista escreve para a mãe. Um toque da intimidade da relação que ela mantinha com a figura materna.
 
O meu lugar,
é caminho de Ogum e Iansã,
lá tem samba até de manhã,
uma ginga em cada andar.
O meu lugar,
é cercado de luta e suor,
esperança num mundo melhor,
e cerveja pra comemorar.
O meu lugar,
tem seus mitos e seres de luz,
é bem perto de Oswaldo Cruz,
Cascadura, Vaz Lobo, Irajá.
O meu lugar,
é sorriso é paz e prazer,
o seu nome é doce dizer,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
O meu lugar,
é caminho de Ogum e Iansã,
lá tem samba até de manhã,
uma ginga em cada andar.
O meu lugar,
é cercado de luta e suor,
esperança num mundo melhor,
e cerveja pra comemorar.
O meu lugar,
tem seus mitos e seres de luz,
é bem perto de Oswaldo Cruz,
Cascadura, Vaz Lobo, Irajá.
O meu lugar,
é sorriso é paz e prazer,
o seu nome é doce dizer,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
Ah que lugar,
a saudade me faz relembrar,
os amores que eu tive por lá,
é difícil esquecer.
Doce lugar,
que é eterno no meu coração,
e aos poetas traz inspiração,
pra cantar e escrever.
Ai meu lugar,
quem não viu Tia Eulália dançar,
Vó Maria o terreiro benzer,
e ainda tem jongo à luz do luar.
Ah que lugar,
tem mil coisas pra a gente dizer,
o difícil é saber terminar,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
Em cada esquina um pagode um bar,
em Madureira.
Império e Portela também são de lá,
Em Madureira.
E no Mercadão você pode comprar,
por uma pechincha você vai levar,
um dengo, um sonho pra quem sonhar,.
Em madureira.
e quem se habilita até pode chegar,
tem jogo de ronda, caipira e bilhar,
buraco, sueca pro tempo passar,
Em madureira.
E uma fézinha até posso fazer,
no grupo dezena, centena e milhar,
pelos setes lados eu vou te cercar,
Em madureira.
Lalalaialalaialalaia, em madureira
Lalalaialalaialalaia, em madureira





sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Dúvida

 Engraçado que sempre pensamos a vida como um sujeito distinto de nós, autossuficiente e, por vezes, até ditatorial. Será que somos sempre o predicado e nunca sujeito? Afinal de contas a vida é imanente em nós ou somos nós que somos imanentes a ela??????????????



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

BANCOS: Templos do deus DINHEIRO

Eita gente, que essa campanha me surpreendeu. Mas como já não sou tão inocente no mundo, fico com uma pulga atrás das duas orelhas e mais os dois pés atrás. Contudo, por hora, vou me forçar à inocencia e crer na reflexão positiva (contrária) partindo de um dos grandes representantes do mundo financeiro e de um dos detentores do poder divino do DINHEIRO.


Outdoor do Citibank em SP
Campanha publicitária do Citibank espalhada pela
cidade de São Paulo através de Outdoors:

"Crie filhos em vez de herdeiros."

"Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete."

"Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe a vista da janela."

"Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama."

"Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas."

"Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?"

"Quantas reuniões foram mesmo esta semana? Reúna os amigos."

"Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça, vírgulas significam pausas..."

"...e quem sabe assim você seja promovido a melhor (amigo / pai / mãe / filho / filha / namorada / namorado / marido / esposa / irmão / irmã.. etc.)   do mundo!"

"Você pode dar uma festa sem dinheiro, mas não sem amigos."

E para terminar:

"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o valor das coisas e não o seu preço."

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Poesia Perfeita

Sabe, acho que as melhores poesias são aquelas que não foram escritas, apenas pensadas e que povoam nossa mente sem uma forma especifica que a comporte em letras, palavras 
ou seja la que suporte for.

¿Qué es poesía?
Gustavo Adolfo Bécquer (1835-1870) 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Som do Silêncio - Simon & Garfunkel

Uma bela canção para tentarmos entender o efeito da internet, dos silencios propositais, da falta de vontade de falar, apenas a de ser escutado, do profundo egoísmo que cada vez mais se acirra num abismo talvez sem retorno, parece que já não sabemos dialogar, apenas escrever e tentarmos ter milhares de visitantes, de amigos, seguidores e seu lá mais o que. 


sábado, 11 de fevereiro de 2012

A vida Sempre a nos Surpreender

As vezes um pequeno gesto nos causa grande emoção

Há uns três ou dois anos atras, eu e meu ex presenciamos um crime horrendo. Estávamos voltando da casa de minha ex-sogra de moto, quando o meu ex-marido desviou-se bruscamente de algo na pista (BR 101). Um carro a nossa frente piscava o alerta desesperadamente, pedindo passagem para encostar. Paramos junto com ele, o rapaz saltou do carro tremendo muito e falava desorientado que não tinha sido culpa dele ter matado alguém, estava completamente em choque. 

Tentamos acalmá-lo o máximo possível para que ele pudesse nos dizer o que estava acontecendo. Em pouco tempo a pista começou a encher de gente, gritos, alaridos, uma confusão grande se formou nas imediações. Chamaram a polícia e ambulância. O rapaz chamou parentes e amigos para vir socorrê-lo, o gás do carro estava escapando, pedi para meu ex fechar com medo que explodisse.

Enfim, resumindo o que aconteceu foi que uma criatura que se julga gente, discutiu com a mulher e enfurecido, empurrou a mulher grávida e com um bebê no colo na pista de alta velocidade. O rapaz havia atropelado a mulher com a criança e meu ex tinha se desviado do que na hora achamos ser um animal na pista, era a criança que estava no colo da pobre mulher. A confusão que se fez, foi porque algumas pessoas viram o que aconteceu e começaram a correr atrás da dita criatura para linchá-lo.

Não tive coragem de deixar aquele rapaz desalentado e completamente desamparado, ficamos esperamos que os familiares chegassem e, logo em seguida, chegou a polícia e foram fazer a ocorrência, o pai do rapaz nos pediu para testemunharmos a favor do filho e assim o fez meu ex.

Mas, por que disse que a vida nos surpreende? Hoje, (11/02/2012), quase três anos depois, o pai do rapaz me ligou agradecendo por termos acudido seu filho e por nosso testemunho. Já nem lembrava mais, foi preciso ele contar a história para eu recordar (minha memória é péssima). Ele provavelmente devia esta fazendo alguma limpeza em algum lugar e encontrou o meu telefone, que na época, fornecemos para que pudessem entrar em contato conosco quando fossemos testemunhar.

Fiquei feliz em saber que o rapaz está bem, que a criatura foi presa pelo assassinato da mulher, do filho nascido e do filho que estava por vir. O pai nos convidou para um café em sua loja, caso passemos um dia pela loja dele (Loja de São Jorge - esqueci de perguntar que tipo de loja é. Coisa minha, sempre a memória a me falhar, rsrsr). O fato é que talvez nunca mais nos encontremos, mais uma pequena ação se estendeu até o dia de hoje. Ela nunca foi esquecida pelo pai do rapaz, o agradecimento verbal foi apenas adiado. E, se não tivesse sido expressado, não teria o menor problema, pois mesmo sem as palavras, ainda assim, teria sua validade.

Filme: Uma Lição de Amor


Um filme belíssimo que trata dos diversos tipos e maneiras de amar. Das impossibilidades dos ditos normais e das possibilidades dos tachados anormais.

"Você é o vermelho na pintura dela", essa é a frase que elejo para representar a sensibilidade, a ternura, o cuidado e primor do roteiro do filme. Não há como não se emocionar com o enredo. 


Reproduzo um pequeno fragmento da resenha escrita por Léa Leduc e Juliana Fernandes. A resenha pode ser acessada na íntegra, no blog:


http://educacaoespecial2009.blogspot.com/2009/09/uma-licao-de-amor-e-um-filme-que-conta.html 

"Uma lição de amor é um filme que conta a história de Sam Dawson (SEAN PENN), um adulto com deficiência intelectual, ou seja, o funcionamento de sua inteligência fica aquém do esperado, pois corresponde a de uma criança de sete anos de idade.

Sam tem uma filha, Lucy (DAKOTA FANNING), com uma moradora de rua que se hospedou em sua casa durante alguns dias. Lucy foi abandonada pela mãe ao sair do hospital. Ele cria a menina com muito amor e com ajuda de seus quatro amigos, todos deficientes também. Ao perceber a deficiência de seu pai, Lucy começa a não querer se desenvolver, principalmente, na escola para não ficar mais inteligente que ele."