Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

domingo, 29 de abril de 2012

Um voo suicida

Hoje lendo um post do face de um colega do clube de leitura que falava sobre o aprisionamento de animais silvestres para falar de algo mais profundo que é a teoria do ter e do ser. Perfeita e brilhante a colocação dele.

Então, relembrei de um acontecimento em minha pacata vida. 

Meu vizinho gostava de ter passarinhos presos em sua casa. Certa vez ele pegou um passarinho que estava machucado. Ele tratou da ave, mas quando ela ficou sarado, não quis soltar. Propus um valor pela pequena ave e ele aceitou. Numa ensolarada manhã, ele soltou o pequeno pássaro, mas, na ânsia da liberdade, o passarinho cometeu um erro de ótica: voou para o céu refletido na janela envidraçada do quarto de meu filho e bateu muito forte. Não resistiu ao impacto! Morreu ali mesmo. 





 Fiquei tão triste! 
 Muitas vezes a liberdade é tão desejada que não sabemos lidar muito bem com ela. Em outras, ela é tão vital, que decididamente é melhor perder a vida por ela do que viver aprisionada.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Edith Piaf

Piaf - um hino ao amor



Piaf, a voz do pardalzinho engendrada na sarjeta. A trajetória de Piaf foi uma sucessão de abandonos e infortúnios, que só o instinto de sobrevivência poderia ter sustentado aquela pequena criatura até o topo de seu indiscutível talento e posterior sucesso. 


Quanto a montagem do filme, eu não gostei muito. Há muitas idas e vindas que não facilita a compreensão do espectador que não conhece a hístória da cantora. A tentativa de começar pelo fim e ir alternando e intercalando os eventos, para mim, não agradou. 

A respeito do temperamento de Edith Piaf, que o filme explora em demasia, é forte, mas acho que deve haver mais coisas que deveriam ser abordadas e que eu fiquei esperando até o fim e não vi.

Fora esses pormenores, que são definitivamente menores mesmo diante da música "La vie en rose", a letra e a tradução encontrei neste link http://letras.terra.com.br/edith-piaf/30686/traducao.htm

La Vie En Rose

Des yeux qui font baisser les miens,
Un rire qui se perd sur sa bouche,
Voilà le portrait sans retouche
De l'homme auquel j'appartiens

[Refrain]
Quand il me prend dans ses bras
Il me parle tout bas,
Je vois la vie en rose.
Il me dit des mots d'amour,
Des mots de tous les jours,
Et ça me fait quelque chose.
Il est entré dans mon coeur
Une part de bonheur
Donc je connais la cause.
C'est lui pour moi,
Moi pour lui dans la vie,
Il me l'a dit, l'a juré
Pour la vie.
Et dès que je l'aperçois
Alors je sens en moi
Mon coeur qui bat

Des nuits d'amour à plus finir
Un grand bonheur qui prend sa place
Des ennuis des chagrins s'effacent
Heureux, heureux à mourir.

Quand il me prend dans ses bras
Il me parle tout bas,
Je vois la vie en rose.
Il me dit des mots d'amour,
Des mots de tous les jours,
Et ça me fait quelque chose.
Il est entré dans mon coeur
Une part de bonheur
Donc je connais la cause.
C'est toi pour moi,
Moi pour toi dans la vie,
Il me l'a dit, l'a juré
Pour la vie.
Et dès que je l'aperçois
Alors je sens en moi
Mon coeur qui bat

A Vida Cor-de-rosa

Olhos que fazem baixar os meus
Um riso que se perde em sua boca
Ai está o retrato sem retoque
Do Homem a quem eu pertenço

(Refrão)
Quando ele me toma em seus braços
Ele me fala baixinho
Vejo a vida cor-de-rosa
Ele me diz palavras de amor
Palavras de todos os dias
E isso me toca
Entrou no meu coração
Um pouco de felicidade
Da qual eu conheço a causa
É ele pra mim,
Eu pra ele na vida,
Ele me disse, jurou
Pela vida.
E assim que eu o vejo
Então sinto em mim
Meu coração que bate

Noites de amor que não acabam mais
Uma grande felicidade que toma seu lugar
Os aborrecimentos e as tristezas se apagam
Feliz, feliz até morrer

Quando ele me toma em seus braços
Ele me fala baixinho
Vejo a vida cor-de-rosa
Ele me diz palavras de amor
Palavras de todos os dias
E isso me toca
Entrou no meu coração
Um pouco de felicidade
Da qual eu conheço a causa
É ele pra mim,
Eu pra ele na vida,
Ele me disse, jurou
Pela vida.
E assim que eu o vejo
Então sinto em mim
Meu coração que bate
E "Hymne a l'amour" O link da letra e tradução é esse http://letras.terra.com.br/edith-piaf/80990/traducao.html


Hymne A L'amour

Le ciel bleu sur nous peut s'effondrer,
Et la terre peut bien s'écrouler,
Peu m'importe. Si tu m'aimes,
Je me fous du monde entier.
Tant qu'l'amour inond'ra mes matins,
Tant que mon corps frémira sous tes mains,
Peu m'importe les problèmes,
Mon amour, puisque tu m'aimes.

J'irais jusqu'au bout du monde,
Je me ferais teindre en blonde,
Si tu me le demandais.
J'irais décrocher la lune,
J'irais voler la fortune,
Si tu me le demandais.

Je renierais ma patrie,
Je renierais mes amis,
Si tu me le demandais.
On peut bien rire de moi,
Je ferais n'importe quoi,
Si tu me le demandais.

Si un jour la vie t'arrache à moi,
Si tu meurs, que tu sois loin de moi,
Peu m'importe, si tu m'aimes,
Car moi je mourrais aussi.
Nous aurons pour nous l'éternité,
Dans le bleu de toute l'immensité,
Dans le ciel, plus de problèmes.
Mon amour, crois-tu qu'on s'aime?

Dieu réunit ceux qui s'aiment.

Hino Ao Amor

O céu azul sobre nós pode desabar,
E a terra pode bem desmoronar,
Pouco me importa. Se você me ama,
Eu me lixo do mundo inteiro.
Enquanto o amor inundar as minhas manhãs,
Enquanto o meu corpo tremer sob as suas mãos,
Pouco me importam os problemas,
Meu amor, já que você me ama.

Eu iria até o fim do mundo,
Eu tingiria meus cabelos em loiro,
Se você me pedisse.
Eu iria desprender a lua,
Eu iria roubar a fortuna,
Se você me pedisse.

Eu renegaria a minha pátria,
Eu renegaria os meus amigos,
Se você me pedisse.
Podem muito bem rirem de mim,
Eu faria o que quer que seja,
Se você me pedisse.

Se um dia a vida te arrancar de mim,
Se você morrer, se você estiver longe de mim,
Pouco me importa, se você me ama,
Pois eu morreria também.
Nós teríamos para nós a eternidade,
No azul de toda a imensidão.
No céu, mais nenhum problema.
Meu amor, você acha que a gente se ama?

Deus reúne os que se amam.

sábado, 21 de abril de 2012

Frida Kahlo

Frida Kahlo foi excepcional como mulher, para além dos padrões da sociedade da época e também como artista tardia.   
A estética do filme é super interessante. Tem umas montagens que dá leveza até mesmo no diagnóstico do acidente da pintora. As cores bem ao estilo latino, vibrantes, bem como o vestuário e os acessórios. As músicas são outro elemento excitante e forte. A história da pintora é amenizada no filme e alguns acontecimentos da vida dela foi romanceado.

Não se intimidem com as tragédias da vida de Frida Kahlo, o filme não é um drama pesado, embora isso não queira dizer que não tenha sido para ela, porque foi. Mas o diretor não quis ressaltar essencialmente a desgraça, mas a genialidade e perseverança dessa artista que contra toda a "sina", fez de sua existência uma experiência muito impactante tanto para ela e seus contemporâneos quanto para mim, que aqui me encontro em pleno feriadão a espreita do outro lado de seu tempo.
A montagem da conquista de New York por Rivera é cômica. E a gringolândia, melhor ainda huahuahua. Muito bão. 

Abaixo cito alguns diálogos e frases do filme que me comoveram. 

Sobre Diego Rivera
 
 "Tudo se encaixa na mão dele", "é a maneira como ele olha pra você", "ele acha beleza na imperfeição", "Diego não pertence a ninguém, pertence a si mesmo ..." (com toda certeza foram essas qualidades que fez com que Frida se apaixonasse por ele perdidamente até o dia de sua morte e quem sabe até depois?)

Sempre que penso em  pintores, concluo que eles transformam suas impressões em expressões mediadas pelos cinco sentidos e depois as imprimem em suas telas e estas chegam até nós, estranhamente estáticas, mas profundamente tagarelas. Nos dizem tanto. Algumas vezes nos expôem a alma do pintor e, em outras, nos faz expor as nossas. É mais ou menos o que sinto com alguns textos em que o autor escreve o que sente. Gosto de sentir o gosto da alma de quem escreve no que leio, talvez seja por isso que também escrevo o que sinto, por mais que isso me exponha. Quem sabe eu não tenha medo de esquecer o que sinto (como Manuel Bandeira que em uma poesia reclama que confiou em sua memória e ela o traiu) ou o que penso que sou. Seja lá o que for, são apenas vestígios de mim ante o Universo.

O diálogo do intelectual /filósofo marxista Leon Trótski com Frida sobre a dor é espetacular! De tirar o chapéu a sensibilidade do roteirista. Reproduzo as falas na dublagem do filme para o português:
 - Frida, como é conviver com a dor?
- Nem dá para explicar direito. Já me cortaram e me remontaram tantas e tantas vezes. Eu pareço um quebra-cabeças. Na verdade todas as operações fizeram mais estragos que o acidente. Tudo dói, mas a perna ... a perna é o pior. Mas eu estou bem. No fim das contas o nosso corpo mostra que suportamos mais do que podemos.
- É isso o que eu adoro nos seus quadros. Eles trazem essa mensagem. Você disse que ninguém os entende, mas acho que está enganada, porque seus quadros expressam o que cada um sente quando está sozinho e sofrendo
- Talvez. Leon, me fale sobre os seus filhos.
- Meus filhos... as meninas foram assassinadas, assim como um dos meninos. Nos pensávamos que o outro estava vivo na prisão. Mas aí recebemos uma carta... ele tinha sido executado também. No fim, todos morreram. Eu condenei minha família e também estou condenado.
- Não deve dizer isso.
- Mas é verdade. Stalin tem mais poder do que qualquer czar. Estou sozinho com alguns amigos e nenhum recurso contra a maior máquina assassina do mundo. A única coisa que me resta é continuar trabalhando e vivendo. Você não pode nem imaginar que alegria é para mim estar aqui vendo tudo isso. É a primeira vez em anos que me sinto gente de verdade.

Outro ponto alto do filme é o depoimento de Diego Rivera sobre a obra de Frida, na exposição que montaram em homenagem a ela em seu país, é comovente.

- Vi uma garota magra com olhos arregalados, gritando para mim "- Diego eu quero te mostrar meus quadros". Mas é claro que ela me fez descer até ela. Então eu vi e nunca mais parei de olhar. Mas eu quero falar sobre Frida não como marido, mas como artista. Um admirador. O trabalho dela é ácido e meigo. Duro como o aço e suave como uma borboleta. Admirável como um sorriso e cruel como a amargura da vida. Eu não acredito que antes tenha existido uma mulher que colocasse tanta agonia poética numa tela.

Esta é a última anotação em seu diário. É uma sentença majestosa: "Espero que a partida seja festiva, e espero nunca mais retornar". E quem poderia condená-la? Depois de passar por tudo o que passou?
Enfim, recomendo a película. 

 

sábado, 14 de abril de 2012

NUNCA APRENDI A EXISTIR

Estranho esse dia. Dia "pessoano". Ainda estou infusa nesse poeta. Ele disse que "Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino". Infelizmente não sou poeta para escrever uma poesia em homenagem a esse brilhante observador de si mesmo e das coisas. Sou apenas uma criatura apagada neste exato momento. Agora lhe digo Fernando: você de fato "encarna a substância de milhares de vozes", e entre elas, lá estou.

Selecionei o fragmento 215 do Livro do Desassossego para externar minha concordância contigo e um pouco a estranheza que esse mundo me causa, mas que você foi bem mais capaz de o dizer do que EU.

"Tenho as opiniões mais desencontradas, as crenças mais diversas. É que nunca penso, nem falo, nem ajo... Pensa, fala, age por mim sempre um sonho qualquer meu, em que me encarno de momento. Vou a falar e falo eu-outro. De meu, só sinto uma incapacidade enorme, um vácuo imenso, uma incompetência ante tudo quanto é a vida. Não sei os gestos a acto nenhum real,
Nunca aprendi a existir.
Tudo que quero consigo, logo que seja dentro de mim." (p.222-223).

Eis que é assim que estou me sentido, uma estaferma diante da vida. Lembro de um excerto da correspondência de Florbela Espanca para Guido Battelli, fiquei impressionada. Pois ela em poucas palavras, revela não apenas alguns traços de sua personalidade, mas também traços que conheço tão bem em mim, excetuando o trecho em que ela fala sobre as pessoas que lhe fizeram mal, para mim, mesmo aquelas que tentaram me derrubar, acabaram me fortalecendo.

"O meu talento!... De que me tem servido? [ela está bem melhor do que eu, pois eu nem bem ao certo sei qual é o meu talento] Não trouxe nunca às minhas mãos vazias a mais pequena esmola do destino. Até hoje não há ninguém que de mim se tenha aproximado que me não tenha feito mal. Talvez culpa minha, talvez... O meu mundo não é como o dos outros; quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudades sei lá de quê!"

Amanhã serei outra que eu mesma, mas por hora, serei uma provisória heterônima de Pessoa, pois assim como Bernardo, eu nunca aprendi a existir. Acho que nunca aprenderei. Serei uma eterna ignorante na arte de viver. Sou infinitamente angustiada e tenho saudades de quem ainda não sou.

domingo, 8 de abril de 2012

O Desassossego de Fernando Pessoa

BR - 101 - Congestionamento colossal, após uma greve de ônibus (esqueci a hora, mas era umas 10:00 ou 11:00).

A obra escolhida para a conversa do mês de abril foi o "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa. Como já disse em um post anterior, a obra é um pouco dificil de ler, pois não foi pensanda linearmente. São fragmentos de pensamentos colhidos e enterrados nas páginas dos manuscritos. É um livro extraordinário. De retas, curvas, desvios.





Mas quero e preciso navegar nessa obra, que assim seja! Navegarei nessa estrada.
Diante da não-linearidade da obra, decidi não le-lo todo de uma vez. É sábio le-lo em doses  homeopaticas. Ele é um homem profundo e abissal, deve-se ter prudência.  


Fernando não é homem para um curto espaço de tempo. É homem para gozos tântricos. Ele amanhece e entardece muito rapidamente. Mas é sempre um espetáculo extraordinário trafegar em suas estradas, linhas sinuosas e difusas. 

Acrescento o resultado do encontro do Livro do Desassossego. Eis-me no encontro que quase nunca posso ir, que aconteceu no dia 13/04/2012, às 19:30. Mas dessa vez a Elô registrou, pois achava que eu era um fake, já que faço comentários e nunca apareço, morri de ri com a ideia do tal fake. O encontro foi maravilhoso e divino, assim como o docinho do céu que a aniversariante nos presenteou. 
Eu considero o Clube um patrimônio dos amantes da leitura em Icaraí. Mesmo com minhas ausências constantes por conta do trabalho, tenho no Clube e em seus participantes, a permanência do espírito / essência do prazer que a Literatura é capaz de nos proporcionar.  
Sobre a reunião, não poderia deixar de agradecer a Dília, por compartilhar conosco seu conhecimento estrondoso sobre Fernando Pessoa e que me pareceu ter uma paixão arrebatadora pelo poeta (bem, Pessoa tem amantes em todo o mundo, eu entrei para o rol de seu harém, por isso Dília, não fique brava, também estou amando o Fernando). Foi ótimo e enriquecedor a apresentação que ela fez do livro e do contexto em que ele se insere, pois particularmente, assim como a senhora que estava a meu lado e leu divinamente passagens do livro, costumo fruir a leitura primeiro pelo puro prazer e só então ver as opiniões e reflexões acadêmicas depois. Daí a riqueza desse clube, pois temos opiniões de especialistas e de leigos como eu.

Assim como a Rosangela, fiquei um pouco tímida de falar na reunião, logo porque não tenho um conhecimento nem do autor nem da obra de Fernando Pessoa. Esse é o primeiro livro dele que leio (pois não passei da pág. 95 - estava desassossegada em ler rápido, mas isso é impossível para mim, pois sou demasiadamente lenta na leitura. Logo, decidi para sossego de minh'alma, le-lo aos poucos, em doses homeopáticas, pois em muitas das falas de Bernardo, reconheci-me perigosamente.

Ao Clube o meu agradecimento profundo e elogioso.

Carpe Diem - Sábado de Páscoa

07/04/2012 - Varanda lateral esquerda da Barca - Niterói / Pça. XV - 10:09

Dia nublado, estranho e lindo.  Já perceberam que meus gostos são meio esquisitos não?


É solene a visão que se tem do afastamento que a barca faz em direção ao outro lado da Baía. Um afastamento cotidianamente repetitivo e mecânico. Um afastamento isento de vida, mas que proporciona um movimento nas vidas dos viventes que se interessam e veem a vida com prazer de viver.


O céu plúmbeo, mas ainda assim, é uma visão muito bela. Uma perspectiva de 180º do lado esquerdo da barca. O Pão-de-açucar, Campus da UFF (Gragoatá que é lindíssimo), Forte do Gragoatá, Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem que fica no alto da ilha da Boa Viagem; era aberta a visitação um único dia por mês (não sei se ainda é). Mas é linda a visão que se tem de lá de cima. A pista do Aeroporto Santos Dumont (no exato momento em que escrevo isso, um som ensurdecedor - era um avião a seguir para a aterrissagem). Os barquinhos tão pequenos em comparação à Baía, são como pontos de resistência e relação entre homem e mar. São pontos de vida humana sob a superfície da água nesse abrigo de àguas antes do Mar Aberto.

Um ganho extraordinário esse "passeio" para ir fazer um exame nada animador. Mas como dizem, tudo tem dois lados. Nada mais compensador não?

Na volta, um solzinho acanhado. Perambulei pela tradicional Feirinha de Antiguidades da Praça XV. Vi um lindo Gramofone (pena que não tirei foto, ia ficar lindo aqui). É uma belíssima peça de decoração. Vi cristais, porcelanas, roupas usadas, livros em bom estado por apenas 1 real. Não posso deixar de falar da própria Estação das Barcas, que tem uma arquitetura muito bonita, uma lástima que seja tão mal conservada, assim como as barcas. Somos tão ricos arquiteturalmente falando, ricos em geografia, em biologia e tão pobres em conhecimento e auto estima enquanto cidadão do nosso próprio PAÍS. 

Enquanto escrevo o post, "(re)sinto" o gosto prazeroso de ontem e gozo até a brisa que tocava meu rosto e corpo. As crianças fazendo algazarra, correndo e gritando dentro da barca deixando os pais loucos rsrsrs. MUIIIIIIIIITO BÃO GENTENNNNN
.

Pensamentos avulsos 6 (2012)

15/03/2012 - 9:57 - Ponte

A pior morte é aquela em que se vive morto. 

Existe uma diferença entre ser tolo e patético. O tolo é ingênuo, ao passo que o patético é apenas um ser ridículo que se pensa astuto, ou seja, um Ser que tem uma patologia crônica de megalomania.

Somos um ser de linguagem, portanto, passível completamente de atos falhos e falas contraditórias, mas que não nos exime de responsabilidade em nossas ações.

Somos provas vivas da incompetência humana nas relações pessoais (pensando no ex), consequentemente, testemunhas mútuas de enganos e agravos. O fato é que cada um de nós, em certa medida, somos o calcanhar de Aquiles na consciência de alguém.

Pensamento Avulso 5 (2012)

12/03/2012 - 8:40 - Indo para o Rodo

A sensação de libertação de sentimentos opressores é a melhor coisa que se pode sentir na vida. Pena que essa sensação dure tão pouco (coisas de TPM).

sábado, 7 de abril de 2012

A Mecânica das Borboletas

SINOPSE

É a história de dois irmãos gêmeos (Rômulo e Remo) que se separam na adolescência e se reencontram 20 anos depois, desestablilazando as certezas que cada um criou para si. Texto de Walter Daguerre. Direção de Paulo de Moraes.

Minha Opinião

No dia 04/03/2012, às 19:00, no Centro Cultural Banco do Brasil, assisti ao espetáculo "A Mecânica das Borboletas". O cenário era simples, muito apropriado para que o enfoque fosse dado a história que merece reflexão. Focava a questão da estagnação e tentativas de descobrir o sentido da vida de cada um de nós. Não foi um espetáculo espetaculoso. Foi um espetáculo introspectivo e, por vezes, mediado por uma comicidade sutil. Recomendo a peça. Para mim foi ótima.



Tantas coisas tinha a comentar, mas como demorei muito, não consigo lembrar com detalhes. Então vou partir de duas frases que durante o espetáculo eu (mesmo na penumbra) anotei em meus inseparáveis caderninhos (tenho um número expressivo deles. Quando partir para outra dimensão, darei trabalho para meu filho jogar todos eles no lixo. rsrsrs. É uma tentativa quase insignificante de ativar a memória cada vez mais fugaz).

Rômulo (Eriberto Leão) diz que durante todo o tempo em que esteve longe, nunca tirou a chave da porta da casa materna do bolso. Fiquei a pensar nessa afirnação e me passou pela cabeça que ela [a chave] esteve dentro do bolso dele para que soubesse para onde voltar ou para que se sentisse sempre em casa. E quantos de nós podemos ter o privilégio de retornar à casa? As vezes, podemos até voltar, mas para uma casa vazia e cheias de recordações boas ou más, isso vai depender de como foi o contexto de sua vida.

Rômulo teve a coragem de tentar viver, se arriscou, errou, mas conseguiu não ter o arrependimento de não ter tentado. Remo (Otto Júnior), ao contrário, teve medo, se fechou, recuou, negou a si mesmo o direito de atuar na vida. Lisa (Ana Kutner) foi namorada de Rômulo, mas quando este partiu, ela casou-se com o irmão Remo. Com o retorno de Rômulo, 20 anos depois, reabrem-se as feridas do ressentimento entre as personagens. 

Rômulo agora é um escritor com relativo sucesso. Remo matém o negócio do pai (uma oficina mecânica). No fundo, estagnou, perdeu a coragem de lutar por seus sonhos que ficaram no passado. Ele se ressente com o irmão porque não teve a mesma coragem dele, Entretanto, mantém ainda uma chamazinha acesa dentro da alma, na esperança de se aventurar no mundo com sua moto Harley Davidson que está reformando, porém, ainda falta uma peça. A mãe, diante de tanto sofrimento com o abandono do filho, cai num estado de desespero e que avança para um estado de demência quando seu marido morre. Cultiva o jardim como personificação do marido falecido, pois foi nele [o jardim] que ela jogou as cinzas dele. Portanto, cultiva é a memória do marido. A persongaem faz alusão a uma frase atribuida ao poeta Mário Quintana [digo atribuída porque não sei em qual texto ela se encontra]. Mas é uma frase retirada de um contexto maior: "O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você", mas não vou colocar ele aqui para não me desviar mais ainda, como é de meu costume. Lisa, por ter sido abandonada por Rômulo, acaba sendo de certa forma, carcereira de Remo. Pois sempre soube que ele começou a reconstruir a moto para viajar mundo a fora. Contudo, falta apenas uma peça: a borboleta do carburador para concluir sua obra prima e realizar seu grande sonho. Ela compra a peça, mas não entrega a ele, privando-o da liberdade tão sonhada. Por outro lado, não é bem assim, pois quando queremos algo, devemos batalhar até conseguir atingir nosso objetivo. Ambos se acomodaram, ela por medo de ficar só outra vez e ele por covardia. 

No fim, a história é um grande acerto de contas. E a mãe demente, conclui numa frase toda a reviravolta das vidas dessas personagens: "Estava morto e reviveu, estava perdido e se achou". Remo estava morto e reviveu ao decidir retomar sua vida e seus anseios. Rômulo que mesmo tendo sucesso estava perdido, se encontra ao retornar a sua cidade natal e à casa materna. Lisa, apoia o marido a realizar seu sonho e ao mesmo tempo realiza o seu que ja havia dado início. 

E tudo acaba bem. Todos vivem felizes para sempre, principalmente minha amiga, que ao término da peça, foi presenteada com um sorriso e um olhar delicioso do Eriberto, pois estavamos na primeira fila. Ela até esqueceu do choque [ela depois confessou isso] que foi ver a personagem de Lisa tirar a roupa numa cena. Lembrei, depois que ela contou, seu olhar ao redor dos espectadores para ver se eles estavam tão chocados quanto ela, foi um pouco cômico. 

Por fim, estou outra vez desanimada, o post ficou bem maior do que eu havia pensado. Mas o que se há de fazer, começo escrevendo, e acabo emendando um pensamento a outro e o texto vai se alongando. E só vou dar por encerrado porque tenho que fazer alguma coisa para comer. O estômago está reclamando muito. Assim, termino elogiando e recomendando mais uma vez o espetáculo, àqueles que lerem esse post. 

PONTO QUASE QUE FINAL, POIS SE EU LEMBRAR DE ALGO MAIS, ACRESCENTAREI, COMO FAÇO COM ALGUNS POST QUE JÁ PUBLIQUEI.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

PORNOFONOGRAFIA - Ouvidos brutalizados

02/03/2012

Atualmente, em determinadas circunstâncias, sinto que meus ouvidos são violados brutalmente pela paisagem sonora da PORNOFONOGRAFIA. Estou a usar esta palavra e devo acrescentar que não é de minha autoria. Sei que alguém me falou e eu disse que iria anotar porque achei interessante e definitavamente, sintetiza exatamente o que muitas músicas são, para mim, pura pornografia de péssima qualidade ou, para alguns "eruditos" do meio, sexualmente sugestivo.

Por outro lado, com as novas tecnologias, podemos nos dar ao luxo, se quisermos e for possível é claro, termos ao alcance de nossos ouvidos, trilhas sonoras o tempo todo. Porém, devemos ter o bom senso de ajustar os decibeis adequado ao ouvido humano, para que não nos tornemos uma geração de surdos.

Consciência Poética: elemento fundamental da poesia de Mário Quintana

Merda - ponte engarrafada. 01/03/2012 - 10:18 - Mário Quintana a me salvar do desespero total e da claustrofobia.

Prefácio da obra "Poesia Completa de Mário Quintana" de Tania Franco Cavalhal. Muito bem escrito.

Itinerário de Mario Quintana

Consciência Poética

 "A reflexão sobre a poesia, sobre sua natureza e seu fazer, está presente desde o primeiro livro, A rua dos cataventos, de 1940. Ali ele já se auto-retrata como um 'carpinteiro' e como um 'operário triste' (soneto VI). [Há alguma coisa nisso, não sei ou não lembro o que é. Será que é a Metalinguagem. Talvez seja a consciência de Quintana do seu ofício, de sua função, de sua matéria prima e de sua técnica, com a qual ele cria].

No conjunto de sua produção, entre os diversos temas e motivos que a tornam peculiar, é possível identificar vários poemas que tratam da figura do poeta, outros que convertem em tema o próprio poema e ainda outros que, ao pensarem a poesia, iluminam sua função. Mas talvez a maior comprovação da consciência artesanal de Quintana seja a ordem de publicação, não cronológica, de seus cinco primeiros livros. Preservar no primeiro deles a forma fixa do soneto, em um momento no qual essa forma estava em desuso, foi não só um ato de coragem ou de rebeldia contra a poética vigente: foi a certeza de que se não os reunisse no primeiro livro, possivelmente não mais os publicaria. além disso, sabia Quintana que seus sonetos eram peculiares e não se submeteriam a padrões de uso. Mesmo que neles predominem os versos decassílabos, estes se combinam com outros de distinta medida e acento, criando a variedade no interior dos poemas. Se visualmente seguem a disposição tradicional dos quatorze versos em dois quartetos e dois tercetos, adotando esquema de rimas conhecidos, em geral o autor se permite uma série de liberdades que revitalizam a convenção. É essa combinação admirável de versos de 8, 10 e 12 sílabas que acontece exemplarmente no Soneto XIV de A rua dos cataventos". (p.14)

Mário fala sobre a mudança da organização de lógica para cronológica

"'(...) antes se reuniam numa ordem lógica: sonetos com seus companheiros de lirismo um tanto boêmio, canções com suas irmãs de dança, quartetos filosofando uns com outros, porém num riso mal contido, diante da seriedade que se presume existir num simpósio, poemas em prosa proseando amigavelmente sobre isto e aquilo, poemas oníricos com suas perigosas magias de aprendizes de feiticeiro'. Como se percebe, esta é uma maneira de Quintana explicitar que na organização dos livros anteriores predominaram o componente formal e uma ordem lógica de combinação que agrega elementos da mesma família". (p.15)

Unidade do Conjunto - Outra característica do estilo do poeta 

"(...) processo de reescrita a que submete muitos de seus poemas, Quintana altera a pontuação, a disposição dos versos e os faz passar de prosa poética para versos convencionais... repetição de poemas em alguns de seus livros ... receio de que os poemas se percam em livros esgotados... um poema deslocado de um livro para outro ganha nesse processo outros sentidos, pois integra um novo contexto, diferente do anterior. Deverá, assim, soar ali de forma distinta, sendo ainda o mesmo, mas também outro". [lembrei de Hegel e sua aufhebung (superação)]

O Poeta  no Espelho

"Há na obra de Quintana uma redução geográfica do mundo observado. Nela as pequenas coisas ganham uma dimensão diferente, aumentada. São vistas em si mesmas, mas adquirem ainda outros significados que lhes são atribuídos pela imaginação do poeta. A propensão ao animismo é fartamente explorada nesta poesia na qual os objetos, personficados, assumem, por vezes, maior relevo que os seres". [eu, ao contrário do Mário, amplio numa visão "googleearthiana" de tal modo que, a passagem é tão veloz que me provoca vertigem. Meus olhos não conseguem capturar e acabo não conseguindo dizer ou descrever tudo o que fui capaz de pensar e ver imageticamente. Por isso, sou sempre prolixa. Uma tentativa (clara) consciente de fracasso, pois não há como apreender o todo desta ação].

Diz Mário em Caderno H: "Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas" e "Antes de escrever, eu olho, assustado, para a página branca de susto". (p.19)

QUINTANA, Mário. Poesia Completa de Mário Quintana. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2005.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Pensamentos Avulsos 4 (2012)

 Indo para o trabalho - 29/02/2012 - 7h e 58 min -

Estou a pensar numa guerra poética. Uma epopéia de versos perfeitos. Será que algum leitor-poeta gostaria de fingir digladiar comigo? Tenho um roteiro, mas como não sou poeta, provavelmente morrerei na praia. É vitória mole, mole.

Pensamentos Avulsos 3 (2012)

Baía de Guanabara - Ponte Rio-Niterói - visão do Cais do Porto (congestionamento) - 24/02/2012 às 17:25

Gruas e guindastes: Grandes monstros. Girafas de aço em meio a neblina da Baía. São imponentes. Cada uma com uma forma estranha, meio oval no alto como uma cabeça e um imenso pescoço. Observa a vida humana e marinha acima da superfície da água como uma soberana a divisar seu reino em toda sua extensão.

Gasômetro - (ainda pensando nas formas dos guindastes e gruas) - 20/03/2012 - 10:48

Máquinas semelhantes a pessoas. Movem coisas e destinos. Tal como os humanos. Transportam e atravessam coisas pelos oceanos até chegar a seus destinos específicos. Também nós somos assim, nos movemos e atravessamos espaço e tempo, impulsionados por algo desconhecido e pelos nossos desejos e impulsos vindos não se sabe de onde.

Pensamentos Avulsos 2 (2012)

A caminho do trabalho. Acordei às 4h da manhã e só o que faço além de pensar durante o trajeto e bocejar, já estou com as mandíbulas doloridas - 02/02/2012

Se a UFF é o abrigo ou lar dos cachorros abandonados, a Prefeitura do Rio é a dos gatos (gente, são tão grandes que mais parecem cachorros). Outro dia passei e vi um em cima do caixa eletrônico no maior sono. 
Olha ele aqui na fila do caixa eletrônico, muito lindo e folgado
  Hoje, ao escrever essas atualizações "pensamentais" em meio virtual, ri e pensei sobre esse pensamento: é o mundo mecânico / tecnológico com um toque de "humanidade" animal.


Pensamentos Avulsos 1 (2012)

Pensando se não me engano em Drummond em 28/01/2012

Poesia não é religião. Ela não existe para apaziguar a alma. Ela existe para causar conflito. Mas por que ela causa tudo isso e, ainda assim, é desejada por nossas almas.

Pensamentos Avulsos (2012)

16/01/2012

É difícil esticar as asas quando se passou quase toda a vida presa em uma gaiola.