Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Consciência Poética: elemento fundamental da poesia de Mário Quintana

Merda - ponte engarrafada. 01/03/2012 - 10:18 - Mário Quintana a me salvar do desespero total e da claustrofobia.

Prefácio da obra "Poesia Completa de Mário Quintana" de Tania Franco Cavalhal. Muito bem escrito.

Itinerário de Mario Quintana

Consciência Poética

 "A reflexão sobre a poesia, sobre sua natureza e seu fazer, está presente desde o primeiro livro, A rua dos cataventos, de 1940. Ali ele já se auto-retrata como um 'carpinteiro' e como um 'operário triste' (soneto VI). [Há alguma coisa nisso, não sei ou não lembro o que é. Será que é a Metalinguagem. Talvez seja a consciência de Quintana do seu ofício, de sua função, de sua matéria prima e de sua técnica, com a qual ele cria].

No conjunto de sua produção, entre os diversos temas e motivos que a tornam peculiar, é possível identificar vários poemas que tratam da figura do poeta, outros que convertem em tema o próprio poema e ainda outros que, ao pensarem a poesia, iluminam sua função. Mas talvez a maior comprovação da consciência artesanal de Quintana seja a ordem de publicação, não cronológica, de seus cinco primeiros livros. Preservar no primeiro deles a forma fixa do soneto, em um momento no qual essa forma estava em desuso, foi não só um ato de coragem ou de rebeldia contra a poética vigente: foi a certeza de que se não os reunisse no primeiro livro, possivelmente não mais os publicaria. além disso, sabia Quintana que seus sonetos eram peculiares e não se submeteriam a padrões de uso. Mesmo que neles predominem os versos decassílabos, estes se combinam com outros de distinta medida e acento, criando a variedade no interior dos poemas. Se visualmente seguem a disposição tradicional dos quatorze versos em dois quartetos e dois tercetos, adotando esquema de rimas conhecidos, em geral o autor se permite uma série de liberdades que revitalizam a convenção. É essa combinação admirável de versos de 8, 10 e 12 sílabas que acontece exemplarmente no Soneto XIV de A rua dos cataventos". (p.14)

Mário fala sobre a mudança da organização de lógica para cronológica

"'(...) antes se reuniam numa ordem lógica: sonetos com seus companheiros de lirismo um tanto boêmio, canções com suas irmãs de dança, quartetos filosofando uns com outros, porém num riso mal contido, diante da seriedade que se presume existir num simpósio, poemas em prosa proseando amigavelmente sobre isto e aquilo, poemas oníricos com suas perigosas magias de aprendizes de feiticeiro'. Como se percebe, esta é uma maneira de Quintana explicitar que na organização dos livros anteriores predominaram o componente formal e uma ordem lógica de combinação que agrega elementos da mesma família". (p.15)

Unidade do Conjunto - Outra característica do estilo do poeta 

"(...) processo de reescrita a que submete muitos de seus poemas, Quintana altera a pontuação, a disposição dos versos e os faz passar de prosa poética para versos convencionais... repetição de poemas em alguns de seus livros ... receio de que os poemas se percam em livros esgotados... um poema deslocado de um livro para outro ganha nesse processo outros sentidos, pois integra um novo contexto, diferente do anterior. Deverá, assim, soar ali de forma distinta, sendo ainda o mesmo, mas também outro". [lembrei de Hegel e sua aufhebung (superação)]

O Poeta  no Espelho

"Há na obra de Quintana uma redução geográfica do mundo observado. Nela as pequenas coisas ganham uma dimensão diferente, aumentada. São vistas em si mesmas, mas adquirem ainda outros significados que lhes são atribuídos pela imaginação do poeta. A propensão ao animismo é fartamente explorada nesta poesia na qual os objetos, personficados, assumem, por vezes, maior relevo que os seres". [eu, ao contrário do Mário, amplio numa visão "googleearthiana" de tal modo que, a passagem é tão veloz que me provoca vertigem. Meus olhos não conseguem capturar e acabo não conseguindo dizer ou descrever tudo o que fui capaz de pensar e ver imageticamente. Por isso, sou sempre prolixa. Uma tentativa (clara) consciente de fracasso, pois não há como apreender o todo desta ação].

Diz Mário em Caderno H: "Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas" e "Antes de escrever, eu olho, assustado, para a página branca de susto". (p.19)

QUINTANA, Mário. Poesia Completa de Mário Quintana. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2005.

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