Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

segunda-feira, 26 de março de 2012

A LITERATURA SEGUNDO FERNANDO PESSOA NA VOZ DE BERNARDO SOARES

Atuamente estou lendo o "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa. Se antes eu era confusa, com certeza ficarei muito pior rsrsrsrsr. Mas um pior justificável, pois esse homem diz coisas impressionantes e maravilhosas nesse livro, que ele mesmo afirma ser um não-livro. 

Le-lo é como se lançar num voo que atinge a maior altitude possível e, de repente, desce vertiginosamente num looping desconcertante. Ora, pensar na Literatura como sendo algo de mais valor do que o próprio viver, que ela preserva maior intensidade das coisas da vida do que a própria vida. A sensação que se tem é de que o nosso chão desaparece e ficamos a refletir sobre o escrito angustiadamente.

27.

"A literatura, que é a arte casada com o pensamento e a realização sem a mácula da realidade, parece-se ser o fim para que deveria tender todo o esforço humano, se fosse verdadeiramente humano, e não uma superfluidade do animal. Creio que dizer uma coisa é conservar-lhe a virtude e tirar-lhe o terror. Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verdor. As flores, se forem descritas com frases que as definam no ar da imaginação, terão cores de uma permanência que a vida celular não permite.

Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada de real na vida que o não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar que tal poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Temos pois que conservar o dia bom em uma memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira. 

Tudo é o que somos, e tudo será, para os que nos seguirem na diversidade do tempo, conforme nós intensamente o houvermos imaginado, isto é, o houvermos, com a imaginação metida no corpo, verdadeiramente sido. Não creio que a história seja mais, em seu grande panorama desbotado, que um discurso de interpretações, um consenso confuso de testemunhos distraídos. O romancista é todos nós, e narramos quando vemos, porque ver é complexo como tudo.

Tenho neste momento tantos pensamentos fundamentais, tantas coisas verdadeiramente metafísicas que dizer, que me canso de repente, e decido não escrever mais, não pensar mais, mas deixar que a febre de dizer me dê sono, e eu faça festas com os olhos fechados, como a um gato, a tudo quanto poderia ter dito." (Fernando Pessoa, livro do Desassossego, p. 60, Companhia de Bolso)

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