Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Direito ao Delíro - Eduardo Galeano

Agora entendo porque sempre fui louca, porque sempre desejei aquilo que minhas mãos nunca alcançavam. Neste ano que desponta, desejo aos amigos utopia, sonho e o horizonte.

Assistam os dois vídeo e entenderão o porquê de desejar-lhes isso. Caminhem, caminhem, com sapatos, com chinelos, com saltos altos, com saltos baixos, com botas, sem botas, descalços, com meias, não importa como, apenas caminhem.

Não vivamos sem razão. bjs.

Eduardo Galeano

http://www.youtube.com/watch?v=m-pgHlB8QdQ

Pra não dizer que não falei das flores.

http://www.youtube.com/watch?v=BvxFwWdYVe4&amp...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Somos uma Sociedade Descartável?



Dia Internacional de Combate a AIDS

Hoje é o dia internacional contra a AIDS. E qual não é minha surpresa com o noticiário: o número de mulheres adolescentes infectadas pelo vírus cresceu muito nos últimos anos. Isso porque nossa juventude é dita “esperta”, uma mera aparência para uma completa vulnerabilidade a que estão submetidas pela ignorância, mas não pela ignorância de não saber, mas pela ignorância de não se dar conta de um “mínimo” do todo “parcial”, uso as palavras em oposição, por considerar que não conseguimos ver o todo do “todo”.

Voltemos ao telejornal. Parafraseando uma adolescente na entrevista: “fiz sexo sem preservativo com meu namorado porque ele disse que se eu não fizesse, ele ia fazer com outra”. Percebem o grau da ignorância? É como o fenômeno do analfatismo funcional. É exatamente isso. Como que diante de um total descaso, a mulher adolescente e as adultas também se submetem a um capricho do homem. Mas sabe o que é pior, os adolescente nem se dão conta disso, contudo, as mulheres adultas tem consciência, e ainda assim, se submetem (é claro que há exceções, as que se submetem pela violência).

Nós, e agora me refiro a homens e mulheres de todas as idades, por nossa “plena” liberdade do corpo, de nossa “modernidade”, estamos nos aniquilando gradualmente. Suicidamos gratuitamente. nossa liberdade sexual, acabou por impor um interdito a pleno acesso aos nossos corpos. De fato, vivemos o presente. Mas um presente fora do tempo, um presente que nos distitui de subjetividade, seremos meros números.

Mas que droga de engrenagem é essa. Não pode ser só o descaso na EDUCAÇÃO. Mas isso não cabe apenas a educação institucional, existem fatores e formação que só a família é capaz de dar. Entretanto, por necessidade de preservar o corpo físico ou o luxo, deixa-se todo o resto relegado ao acaso e ao meio.

Grande parte dos nossos jovens e de muitos adultos são autômatos, menos que máquinas e, menos ainda que animais irracionais, porque estes realmente não raciocinam (pelo menos em tese), mas são dotados de instintos que preservam suas vidas. Mas essas pessoas, por mais que se classifiquem como animais racionais, não tem percepção do que seja raciocinar. E, se não sabem, não utilizam. Portanto, não teem defesa alguma contra sua extinção. Suas vidas são massas informes.

Será que vivemos numa sociedade de indivíduos descartáveis? Por que perdemos o bom senso?

A razão é uma das armas que temos em nossa defesa, mas infelizmente, abrimos mão dela, ao não usarmos os preservativos descatáveis e confiarmos em ficantes, em relacionamentos pouco proveitosos, por uma necessidade física exacerbada ou não. Pois acredito que quem ama, cuida e preserva o outro. Se um homem, exige transar com uma pessoa sem preservativo, é o sinal mais claro de que deve ser descartado imediatamente.

Não se morre por falta de sexo, mas se morre pelo sexo sem preservativo e sem responsabilidade.

No Brasil, no estado do Rio de Janeiro, sábado, das 9h as 17h, todos os postos de saúde farão testes de HIV.
Para maiores informações, visitem o site: www.aids.gov.br

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

"Diário de uma perereca depilada" ontem às 16:02


Bem, é um conto longo, sobretudo, divertidíssimo, infelizmente não sou a autora, não sou tão boa quanto quem o escreveu. Recomendo a leitura a todo o gênero, sem distinção que queiram vislumbrar um tico do mundo feminino visto de uma perspectiva realista e sonhadora ao mesmo tempo. Às mulheres pudicas, não fiquem constrangidas com as palavras “menos reguladas pela norma culta da língua e pela moral hipócrita”


perspectiva sonhadora porque é por nós e pelos parceiros que nos submetemos ao “sacrifício”, é por eles que nos submetemos só para ver seus olhos brilharem de desejo ao nos ver e nos sentir em nossa intimidade mais externamente íntima [é redundante eu sei], esse é o nosso objetivo: a redundância dos prazeres advindos desse ato nosso de cada 7, 15 ou 30 dias.


Advirto que a minha história com esse texto é incompleta. Mas, pela repercussão que ele teve junto a meus amigos e amigas em outro site de relacionamento, decidi compartilhar com os meus amigos da netlog também. Na verdade, encontrei o texto numa dessas minhas incursões aos blogs alheios desse site. O fato é que houve uma enxurrada de pedidos para saber o nome do autor ou autora do texto, infelizmente não descobri, visitei o blog da moça que disponibilizou esse texto e não é ela a autora. Ela me respondeu que recebeu de uma amiga que também não é a autora e também não sabe quem é e que recebeu via e-mail. Coisas da internet, enfim, a história do telefone sem fio.


Peço que se alguém souber de quem é o texto, me informe para dar o crédito devido ao autora (o), pois adoraria saber e ver se tem textos tão bons quanto esse. Mas deixemos de lero lero e vamos a essa jóia feminina. Foi exatamente assim que copiei do blog.

Versão brasileira de algo que todas as mulheres sofrem


Diário de uma perereca depilada


"Tenta sim. Vai ficar lindo."
Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve, mas acho que pentelho não pesa tanto assim.
Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa.
Eu imaginava que ia doer porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria.
Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.
- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.
- Cavada mesmo.
- Amanhã, às.... Deixa eu ver...13h?
- Ok. Marcado.
Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui.
Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal.
Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.
Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas.


Uma mistura de Calígula com O Albergue.
Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- Querida, pode deitar.
Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca.


Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura.
Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça.
Meu Deus, era O Albergue mesmo.


De repente, ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.
- Quer bem cavada?
- É... é, isso.
Penélope, então, deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.
- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco, senão vai doer mais ainda.
- Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia p-o-r-r-a nenhuma do que ela fazia. Mas confiei.
De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).
- Pode abrir as pernas.
- Assim?
- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.
- Ar-re-ga-nha-da, né?
Ela riu. Que situação.
E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem.
Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.


Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca.
Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto.


Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu.
Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.


- Tudo ótimo. E você?


Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.


O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer.
Todas recomendam a todas porque se cansam de sofrer sozinhas.
- Quer que tire dos lábios?
- Não, eu quero só virilha, bigode não.
- Não, querida, os lábios dela aqui ó.
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios? Putz, que idéia.
Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.
- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.
- Olha, tá ficando linda essa depilação. Menina, mas tá cheio de encravado aqui.
Olha de perto.
Se tivesse sobrado algum pen-te-lhi-nho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali.
Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. "Me leva daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei à terra quando entre uns blá-blá-blás ouvi a palavra pinça.
- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.
Estava enganada.
Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.
Pior não podia ficar. Obedeci a Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
- Segura sua bunda aqui?
- Hein?
- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o "olho que nada vê". Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, pei-dar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:
- Tudo bem, Pê?
- Sim... sonhei de novo com o c-u de uma cliente.
Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks.
Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação.
Sei que ela deve ver mil c-us por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bun-da tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha mais pra contar a história. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xin-ga-men-tos, preces, tudo junto.
- Vira agora do outro lado.
Por-ra.. Por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem?
Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope.
E agora a vizinha inconveniente.
- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.
- Máquina de quê?!
- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.
- Dói?
- Dói nada.
- Tá, passa essa me-rda...
- Baixa a calcinha, por favor.
Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção.
Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.
- Prontinha. Posso passar um talco?
- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.
- Tá linda! Pode namorar muito agora.
Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança.
Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada e matar o primeiro homem que ver e não comentar absolutamente nada.!!! Não fiz nada disso... Um mês depois...
- Normal ou cavada?
Coisas de perereca, vai entender...

Somos mescla de Matéria e Espírito


"Mas essas lutas no mundo moderno não são outra coisa senão os anos de aprendizagem, a educação do indivíduo na realidade dada, e adquirem dessa forma o seu verdadeiro sentido. Pois o término desses anos de aprendizagem consiste em que o sujeito apara suas arestas, integra-se com seus desejos e opiniões nas relações sociais vigentes e na racionalidade destas, ingressa no encadeamento do mundo e conquista neste uma posição que lhe é adequada". (HEGEL)

Para mim, o ser humano beira as raias da perfeição, não quando evita fazer o mal, mas sim quando o encara cara a cara. Acredito que isso que denominam ser o mal, seja apenas nossas pulsões mal ajambradas, condicionadas e recalcadas dentro de nossa mente por uma questão mais moral do que natural.

Quando vamos entender que tudo em nós é “santo” e que o que nos envenena a alma é a preguiça de vivenciarmos o Bem. Distorcemos “demoniacamente / ignorantemente” as questões fisiológicas do corpo e de nossa natureza humana para termos um bode expiatório, quando não temos coragem suficiente para assumirmos nossas responsabilidades diante da vida, da sociedade, mas, essencialmente de nós mesmos.

Sim, porque nos acovardamos mais diante de nós do que dos outros? É claro que no fundo sabemos ou suspeitamos o que e quem somos. Temos medo e buscamos máscaras para nos encondermos de nos mesmos, como se isso fosse possível. A nossa consciência é um Juíza impiedosa, por isso, é preciso que nos instruamos para conhecermos nossa fisiologia tanto material quanto espiritual e agirmos com sabedoria ou pelo menos com um mínimo de bom senso diante desse espetáculo que conheço como VIDA.

sábado, 19 de novembro de 2011

CARCARÁ

Música maravilhosa! Toda vez que a ouça, minhas vísceras se contorcem querendo ter nascido carcará também. Tantos a cantaram, mas os intérpretes que mais gosto são o Chico Buarque e João do Vale e Maria Bethânia, 1965. O número fez parte do espetáculo "Opinião".

Mas o que é Carcará? Segundo dicionários, o nome é uma variante etimológica da palavra tupi “karaka’rá”. Os ornintólogos classificam como uma ave de rapina da família dos falconídeos. Contudo, toda essa explicação acadêmica, nada fala dessa ave que é um símbolo, mais que representativo da região nordestina. É uma ave reincidiva, obstinada a viver. Tem garras, bico, força, perspicácia e uma vontade férrea para manter-se viva.

No post anterior, escrevi algo para um amigo, imbuida talvez por uma associação livre do meu consciente que captou, por instantes, o que meu inconsciente deixou escapar, toda vez que ouço algumas palavras e frases que me remetem ao que eu chamo de meu barro original, O NORDESTE. Árido, seco, mas por Deus, nunca entendi o porquê da potência que essa região exerce sobre seus filhos.

O que escrevi para meu amigo foi uma resposta a algumas palavras e frases de seu poema “Louco Querer”, cuja temática é amorosa e não regional. Mas tocou em meu íntimo e manifestei-me desse modo:

“Deu-me saudade do meu torrão natal, tão seco e tão árido. Respirei por longo tempo no lodo dos leitos dos rios intermitentes, assim como os peixes, para estar aqui, a frente do laptop a ler tão belas coisas que me levam de volta ao veio que me nutriu durante 13 anos. Ainda sinto nas veias aquele vigor de viver, viver profundamente. Obrigada, meu rosto está salgado”.

Talvez seja um chamado materno, que chora a ausência de seu filhos, pois aqueles que de suas entranhas vieram ao mundo, tem uma necessidade de voltar sempre, sempre e sempre. É uma fonte inesgotável e só ela consegue matar nossa sede. Mas por pura questão de sobrevivência e eternidade, saimos à revelia do berço e do regaço de seus braços, que protege até onde pode, mas depois, não consegue nos defender das intempéries cíclicas de sua própria natureza.

Talvez essa força advenha das vidas que sucumbiram e alimentam aquele solo. Ele está encharcado de nossos antepassados que, querendo resistir como o carcará, não perceberam que nossa natureza humana, tem nesgas racionais que nos impedem de “pegaR, mataR e comeR!”, pois isso não seria um ato isolado, mas o cotidiano, a via de regra.

Contudo, esse é um mantra gravado em nosso DNA. Respondemos a ele toda vez que necessitamos sobreviver, nos defender. Há um quê de irracional em todo ser humano, não somos os únicos, é verdade, Mas a natureza nordestina é forte, resistente. Para nos derrubar, é preciso ser mais forte, muito mais forte. Assimilamos muito rapidamente o que não podemos vencer, desse modo, é como se nos vacinássemos, e contivessemos dentro de nós, um antídoto para esse perigo latente e iminente de nossa aniquilação. Antes tê-lo junto do que longe. Numa simbiose que cura e mata simultaneamente.

http://www.youtube.com/watch?v=NZbxncygOPQ - Maria Bethânia
http://www.youtube.com/watch?v=4L0DInKUnzc - Chico Buarque e João do Vale

Carcará!
Lá no sertão...
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará....
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando
Carcará...
Vai fazer sua caçada
Carcará...
Come inté cobra queimada
Mas quando chega o tempo da invernada
No sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa no bico inté matá
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
"Em 1950 mais de dois milhões de nordestinos viviam fora dos seus estados natais. 10% da população do Ceará emigrou. 13% do Piauí! 15% da Bahia!! 17% de Alagoas!!!"
(Carcará...)
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come!!!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Eternidade Efêmera do Amor

Ontem li num post de M J S Barroso um texto de Arnaldo Jabor em que ele fala sobre os relacionamentos. Concordo com ele plenamente. Quem quiser ler o texto na íntegra pode acessar o link http://pensador.uol.com.br/comeco_de_namoro/. Neste outro link http://pensador.uol.com.br/autor/arnaldo_jabor... . Tem coisas ótimas do Jabor, mas não está bem organizado.

Ele começa dizendo que "Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. ". Vinícius de Morais ratifica afirmando num soneto "que seja eterno enquanto dure". Raul Seixas endossa dizendo "hoje eu sei que ninguém nesse mundo É feliz tendo amado uma vez...". Ora vivemos encharcados de esteriótipos e conceitos utópicos que não condiz com nossa realidade. Nos deixamos levar pelo que os outros dizem ser verdade, nunca buscamos a nossa “verdade” que pode ser agora e que pode não durar por toda a nossa vida. Nos colocamos sempre como refém do que se diz ou que a sociedade tenha ditado como regra.

Amo um poema intitulado “AMAR” de Florbela Espanca que não põe limites a seu amor, que se doa, que se entrega ao que eu poderia chamar de amor essencial e não particular, mas que dá margem a uma querela entre o que seja universal e particular, pois quando ela diz “E não amar ninguém” já fico esvaziada, pois o amor a dois é completamente singular. Mas diante de minha realidade, como negar que “quem disser que se pode amar alguém / durante a vida inteira é porque mente!”.

Eis o poema na íntegra:

“Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!

Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...”

(In: Obras Completas de Florbela Espanca, vol II, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 3ª ed. 1987)

Filme "A Pele que Habito"

Filme de Pedro Almodóvar, em exibição. Estrelado por Antonio Banderas, Elena anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, entre outros.


Sinopse

Roberto Ledgard (Antonio Banderas) é um conceituado cirurgião plástico, que vive com a filha Norma (Bianca Suárez). Ela possui problemas psicológicos causados pela morte da mãe, que teve o corpo inteiramente queimado após um acidente de carro e, ao ver sua imagem refletida na janela, se suicidou. O médico de Norma acredita que esteja na hora dela tentar a socialização com outras pessoas e, com isso, incentiva que Roberto a leve para sair. Pai e filha vão juntos a um casamento, onde ela conhece Vicente (Jan Cornet). Eles vão até o jardim da mansão, onde Vicente a estupra. A situação gera um grande trauma em Norma, que passa a acreditar que seu pai a violentou, já que foi ele quem a encontrou desacordada. A partir de então Roberto elabora um plano para se vingar do estuprador.

Primeiro quero dizer que detesto ver o filme legendado, pois não me deixa tempo para observar o todo do filme. No caso de Amodóvar é mais complicado ainda. Ele explora todos os planos com cores, espaços ampliados e, com o raio da legenda, não consigo prestar atenção aos detalhes que são da maior importância, em se tratando desse esteta.

Segundo, quero dizer que discordo em alguns aspectos dessa sinopse, por exemplo, a questão do estupro. Deixei porque a situação sugere isso. Mas as coisas não se dão exatamente assim. Não falo mais, senão vai perder a graça.

Minha opinião é que o filme centra um gênero de terror. Mas um terror diferente do que comumente aparece. As cenas se apresentam com uma assepsia hospitalar (não no sentido de bactéria, mas no sentido da quase ausência de sangue). O nível de violência é tão intenso que chega a ser inclassificável. Logo pensei em Walter Benjamin, o filósofo alemão, que se interessou pela questão do mutismo dos soldados que haviam voltado da guerra. O grau de terror, diante do vivido naquela situação, não é contemplado no plano da linguagem ou da compreensão racional do homem de modo geral, daí o mutismo que nada diz, mas que tudo diz ao mesmo tempo. O não expressado é denso, é tenso, beira o absurdo, a loucura na sua mais alta patologia, que, no entanto, é possível nos colocarmos no lugar do vilão e termos por ele pena ou até mesmo uma certa empatia.

A cena do aprisionamento, me fez lembrar do Mito da Caverna de Platão, em que o homem encontra-se acorrentado e circunscrito a um lugar que não conhece o que tem a sua volta. Só que ao invés de ele se preparar para conhecer a realidade do mundo externo, terá que desvelar dentro de si, um recôndito onde sua alma possa sobreviver.

Na cena final, existe um contraste entre o mundo material e o mundo humano impressionante. Ao passo que o mundo material é pujante, a expressão das personagens revela-se abatida, numa apatia visível em suas faces. É como se a vida dessas pessoas estivesse por um fio, e este fio se equilibra na tensão entre está se mantendo vivo fisicamente e estar quase que completamente morto internamente.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Por que a Sexualidade da Mulher tem de ser Escamoteada?



Desde que o mundo é mundo, a questão do corpo e da alma se impõe. Ao longo de todos esses séculos, a sexualidade passou por diversas interpretações e, ao que parece, a que mais permaneceu foi a de que o corpo é traiçoeiro e a alma deve ser pura, imaculada. Hoje, as coisas mudaram bastante, mas ainda persiste determinado julgamento moralista e preconceituoso. Por exemplo, o "deslize" do homem é sempre considerado e respaldado na clássica frase "a carne é fraca", no entanto, quando esse mesmo delize é dado por uma mulher, ela é taxativamente tida como "puta ou prostituta".Ora essa conotação passa por um cunho ou critério machista que nos oprimi e denigre nossa condição de mulher. Mas o pior é muitas mulheres compartilham dessa mesma opinião. O fato é que tanto homens como mulheres devem encarar a sexualidade como um componente integrante da nossa condição humana e que ambos generos ainda não sabem reconhecer que o problema não se encontra na matéria e sim em nosso pensamento que usa a matéria como subterfúgio para satisfazer nossos desejos confusos e não assumir de frente a responsabilidade de nossas escolhas e tudo o que ela acarreta.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

“(...) minha inabilidade ante teu infindo contexto (...)


Sempre fui fascinada por Literatura, em especial, pela Poesia. O que mais me extasia é a combinação das palavras. Essa é a fonte de tudo. Drummond em seu poema “procura da poesia” também se pergunta sobre essa questão e afirma onde podemos encontrar a poesia no reino das palavras:

“(...)Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...)”

Não se sabe como a combinação das palavras se efetua. Ela tem vida própria. É arisca, não se verga a qualquer um. Ela sabe que é querida, que é esperada, mas ela só se doa a poucos, a poucos mesmo. Diria que esse encontro só se compara ao encontro de duas almas. E isso se dá no ambito do imponderável, do incomensurável, do mísitico, do inaudito, do indizível. Desse encontro, nada se pode dizer, não há o que dizer.

Ao longo de minha vida, busco esses poucos privilegiados quer sejam célebre quer seja amigos, conhecidos, busco em todos os lugares que tenho acesso. Classifico-me como uma olheira poética, a serviço de mim mesma. Busco a beleza dos versos para mim. Cada indivíduo tem um contexto de vida que difere do meu, isso produz nele um olhar e um sentir diferente, contudo, eventualmente, pode coincidir com o meu gosto.

O mundo virtual está sendo um campo muito fértil para minha labuta e, por incrível que pareça, encontrei num site de relacionamento, cuja fama não é das melhores, um desses privilegiados. Ainda bem que não sigo legiões, sigo meus instintos, meu coração e minha alma, que vezes sem conta, me deixam mais confusa do que equilibrada, diga-se de passagem. Mas o fato é que encontrei um desses escolhidos da poesia. Abaixo destaco um verso do poema de Leilson Leão, intitulado “Poema e Poeta Vazio”

“(...) minha inabilidade ante teu infindo contexto (...)” --> Leilson Leão

Não sei o que passou na cabeça do poeta nessa hora, mas eu sei exatamente o que enterliguei automaticamente quando li esse verso. Talvez ele tenha me permitido traduzir um sentimento que antes estava velado no encontro de minha alma com outra alma.

Leilson, recorro ao nosso poeta Drummond, para que me defenda, pois este afirmava que um poema só é do poeta antes de ele o publicar, depois que isso ocorre, é de todos. E peço que me perdoe se fui leviana em usar teu verso com fins egoísticos. Pois como não tenho talento como tu, me apropriei de tua obra para expressar algo que não conseguia dizer com minhas reles palavras.

http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema02... (aqui encontramos o poema “Procura da Poesia” recitado pelo próprio Drummond).

www.recantodasletras.com.br/autores/leilson e http://pt.netlog.com/leilsonleao/blog/blogid=22...- (Nesses dois links encontramos disponível “O poema e o Poeta Vazio” do poeta Leilson Leão)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vicky Cristina Barcelona

Wood Allen - O SALVADOR do dia dos mortos

Filme Vicky Cristina Barcelona de Wood Allen, de 2008.

Só mesmo Wood Allen, boa companhia e um bom vinho para salvar o meu dia, do dia dos mortos literalmente. Filme belíssimo. Atores extraordinários como Javier Bardem, Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penelope Cruz.

Vicky representa, a meus olhos, a prudência, a razão, mas ao mesmo tempo o desvelamento de coisas que normalmente escondemos embaixo do tapete, para não pensarmos nas razões que nos move na vida.

Cristina figura o impulso, a busca constante de razões para viver, nunca se contentando com o já estabelecido, a ansia de novos caminhos é seu motor imóvel.

Maria Helena é a desmedida, o descontrole completo e seu inquestionável conhecimento disso.

Juan Antonio, ah!!!!!!!!!!!!! esse é o degustador, a presença quando nos olhamos no espelho e que nos revela a ausencia de algo que denuncia a incompletude de nossas almas.

Daug ou é Doug? Não sei. É o que chamamos normalidade. É o que eu chamo de hipocrisia sociática. Ele é o GUARDIÃO dos valores que a sociedade elege como o ideal. Ele condena, mas se excita com o "anormal" de Cristina, com o que a sociedade censura. Não é isso o que todos fazemos?

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Niver de Carlos Drummond de Andrade

Com o corre corre do dia de ontem (31/10/2011), acabei esquecendo de dar meus parabéns para o meu queridíssimo poeta Carlos Drummond de Andrade. Beijos meu querido, no entanto, como não precisas de presentes da matéria, deixo que sintas o prazer que minha alma goza ao ler teus poemas. Olha que só escolhi alguns versos, minha alma ainda é muito pequena pra te caber inteiro.

SENTIMENTO DO MUNDO

"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, (...) "

POEMA DE SETE FACES

(...)
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração. (...)"

sábado, 29 de outubro de 2011

O Mensagista


O destino é a ponte que voce constrói até a pessoa desejada. Em meio a milhões de constelações encontrei uma única estrela, mas será que ela é única mesmo ou sou eu que desejo que ela seja a única? Será que é possível construir essa ponte até essa estrela? Mas, e se eu não conseguir habitar sua alma, seu corpo, e se ele algum dia perceber que tem alguém ou alguma voz a lhe chamar, sou eu. É tantos ses. Talvez seja precipitação minha, chegar a essa conclusão, por isso, deixo esse post para que, no futuro, eu possa retornar e verificar se de fato era isso mesmo.

Faço-me presente, nos textos que escrevo. Ele, no entanto, terá todo o direito de pedir que me afaste, que me cale, que não escreva mais. Atenderei sem titubear. Não seria capaz de me fazer presente sabendo que não me deseja por perto, pois se preservo minha liberdade, por que cercearia a do outro. Tudo isso, talvez esteja acontecendo porque ainda não sei definir onde fica a linha divisória entre o romance (supostamente real) e a ilusão (que a mim, pareceu mais real do que o real). Muitas vezes a gente confunde estar vivendo num mundo que só existe dentro de nossa cabeça, porém, esquecemos que ninguém tem acesso a esse mundo a não ser que você mesmo diga que ela lá habita, que ela transita livremente, contudo não pode obriga-la a viver dentro de você. Isso seria prisão.

Meu Deus! Como pode alguém se imiscuir em sua alma em tão pouco tempo. Minha alma chora, lamenta a ausência gráfica de suas mensagens, porque foi só isso que tive dele, nada além de mensagens escritas no celular. Nada físico, nada que pudesse remeter a um encontro "real". Mas foi tudo tão real para mim, talvez seja carência, mas no fundo sei que não é. Poderia ter o encontro físico com outro, mas não quis. Não tinha mais sentido depois dele. Sinto constrangimento de falar com outros, pois estou sempre a comparar a plenitude com ele e a aridez com os outros.

Contudo, por mais que me doa não te-lo junto a mim, tive a felicidade de constatar que existe alguém lá fora que de fato é alguém por quem eu esperei toda a minha vida. Ou será apenas por esse momento? Não sei, espero o Devir.

Nove meses depois e eu ainda não consegui encontrar alguém que pudesse superar a presença de Rá. Rsrsrsrs. Mas, como toda ilusão, ele é só um ideal e os ideias são difíceis de se extinguir. Porém, para tudo há um remédio, aprendo cotidianamente a reservar o mundo ideal do "Real" e assim caminharei como todo o resto da humanidade, sempre em frente. Já não sinto tanto sua ausência, estou substituindo-o para outras presenças mais concretas, embora sem grandes picos de adrenalina. 

Aguardemos por mais Devir e quem sabe eu não aceite que fui apenas uma 

 Como dizia minha avó: "Não sei, não quero saber, mas não tenho raiva de quem sabe.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Razão Flutuante ou Flutuação da Razão


Ouvindo “Ain't no Sunshine” (mudo na letra da música apenas o pronome de she’s para he’s) e a pensar em bons momentos e na aula de Teorias e Sistemas Psicológicos de hoje. Grande aprendizado ainda não assimilado, portanto, exposto aleatoriamente para ir refletindo ao longo do tempo. Os registros segundo a Psicanálise: Real é aquilo que não pode ser simbolizado, é o que retorna sempre ao mesmo lugar. Simbólico é o registro da consciência. Imaginário é condicionado ao significante e não ao significado.

Consciência é uma superfície onde as imagens se refletem. Lacan define como uma montanha refletida no espelho d’agua de um lago.

Hiância = Hiato; Hiato = atos falhos = hi-a-to, vê como o “a” tem a natureza livre do hiato, mas se não estiver ligado aos extemos, não tem sentido, mas tem significado. De certo modo, somos hiatos. Somos e estamos ocupando esse lugar específico. Estamos sempre ligados ao sensível (físico) que nos possibilta a emoção na alma. Contudo, o real é o eterno retorno ao mesmo, muito embora faça o simbólico trabalhar, porém, ele mesmo nunca responde a contento nem para ele mesmo nem para outrem. De modo que sempre buscamos respostas, porque em si mesmo, já somos a pergunta, o enigma a ser desvendado, se possível, por cada um de nós e ninguem mais. O ato falho que ao se tomar consciência desse lugar, busca equacionar seus eus e seus nós. Como numa cena onírica em que o real é o que não se encaixa, é o estranho à racionalidade. No sonho, nossos desejos são satisfeitos à revelia do ego (ou será que ele fecha os olhos deliberadamente – como numa bacante ou nosso canarval para aliviar o peso da vida com a permissão da sociedade). Acho que a Psicanálise denomina “cena onírica = umbigo do sonho”, o umbigo é o resultado do corte e do nó. É algo que simboliza o início de sua entrada no mundo e de sua individuação física ante sua genitora. O umbigo é a cicatriz do início da vida, mas é sobretudo a possibilidade de nos construir e nos reconstruir, a medida do possível, de nos vivificarmos e plenificarmos nossa existência ao máximo.

Tudo isso é apenas um esboço reflexivo sem nenhuma pretensão de verdade, por isso, deu o título de “Razão Flutuante ou Flutuação da Razão”, que não é uma frase minha e sim de meu professor, que achei que justificava esse texto.

O Retrato de Dorian Gray - o filme

Embora não tenha lido o livro ainda, mas vou ler, vi o filme para ter uma reles noção.

Assumo todos os riscos do que busco. Os mestres são apenas facilitadores, não delego a eles o direito de decidir por mim. Mesmo que a liberdade seja apenas uma quimera, ainda assim, não abro mão dela. Quero andar lado a lado, mesmo não tendo o mesmo conhecimento ou a ingenuidade da juventude, para imprimir em minha alma, escolhas de outrem. Quero as minhas próprias. Talvez por não ter mais a juventude do jovem Dorian e nem o desejo de fixá-la no corpo, talvez, e só talvez por isso, não tenha sucumbido minha alma a prisão da Hybris, temida até pelos deuses gregos, da desmedida, do excesso e do total descontrole sobre si. Mas me entreguei a tentação e não me arrependo sequer por um momento. Vivi tudo o que queria viver, com quem escolhi. E se tivesse que repetir, o faria de novo. Pois também acredito que aqueles que vão além da superfície, vão por sua conta e risco.

A outra lição que Henry ensinou a Dorian, também sigo, sempre procuro novas sensações. Não tenho quadro que possa sofrer fisicamente as consequências de meus atos. O que eu tinha, realmente, já foi incinerado, quando encomendei uma nova moldura. Mas estou viva e muito viva e, minha alma, ainda, quase intacta, porque ninguém passa pela existência incólume, só os que não viveram. De fato, o esplendor da existência é terrível, porque é difícil de comportá-la plenamente. O infinito é angustiante, amedrontador.

Abaixo, exponho algumas frases ditas no filme e que eu gostei. o ponto de interrogação é problema de configuração rssssss

Filme: “O Retrato de Dorian Gray” – 27 – 10 – 2011
Extras
Sobre interpretar Dorian Gray
BEN BARNES
As críticas do filme original diziam ser impossível interpretar Dorian Gray. Era um quadro em branco. Barnes diz que Dorian Gray é descrito no livro como um Stradivarius (dado o seu pontencial, é muito bonito e tudo o que o outro intentar fazer com ele, o resultado será sempre muito bom) [quer seja para o bem ou para o mal]. e um potencial de um Stradivarius”.

Do Livro para o Filme
Segundo Ben Barnes, nas outras adaptações, o foco da história não é o Dorian. O foco é o mundo e o que aconteceu a ele, as coisas que ele faz, ao invés de como ele se sente ou como suas ações e seu passado passam a mudá-lo como pessoa.

Redenção¿ Ele estará perdido para sempre¿ ou há a possibilidade de ele mudar de uma forma positiva¿

Música: é belíssima, de uma melodia sombria, melancólica e extremamente vigorosa.

Henry: “Não existe vergonha no prazer Sr. Gray, o homem deve ser feliz. Mas a sociedade quer que ele seja bom, e quando ele é bom, raramente ele é feliz, mas quando se é feliz é sempre bom”

“A vida é um momento e não há futuro.”

“Somente coisas sagradas vale a pena serem tocadas. Todo o impulso que reprimimos nos envenena”

“o casamento torna uma vida de ilusões absolutamente necessária. Consciência é só um nome educado para a covardia. Nenhum homem civilizado se arrepende do prazer. A única maneira de se livrar de uma tentação é se entregando a ela. Sempre procure novas sensações Dorian. Não se prive de nada Dorian”

“Será que Henry acredita em tudo o que diz¿”

“senti o esplendor de cada momento, o esplendor da existência que é terrível, afiado como uma lamina, esse desespero prover, tocar-me.... querido Henry ensinou-me que a vida deve queimar como uma chama forte, sua luz não me cega, nem seu calor me queima, eu sou a chama Henry, eu sou a chama de Deus”

“Prazer é diferente de felicidade. Algumas coisa são preciosas justamente porque não duram. Aqueles que vao alem da superficie vao por sua conta e risco”

sábado, 22 de outubro de 2011

Ruminações III

Jejum, Abstinência, Ascese

Tudo o que digo aqui, nesse texto, pode até parecer apenas lamento, mas não é. Algumas mulheres como eu, são infantis ou adolescentes ainda, talvez não tenham vivido essas etapas no devido tempo. Contudo, digo que para mim, essa é uma forma de organizar e tornar vivo o vivido e ao mesmo tempo eternizar os instantes junto aquele que me seduziu completamente. É choro, é dor, mas é sobretudo um grito orgástico do gozo experimentado. Rssssssssssss, o humano e suas idiossincrasias. Fico a imaginar como esse texto não deverá ser motivo de riso e esgar. Por isso, tenho diante de mim um espelho, para que o outro possa se refletir, como diz na Bíblia: "Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra", Maria Bethania reitera: "que todas as cartas de amor são ridículas, se não o fossem, não seriam cartas de amor.", e eu acrescento: quem nunca foi rídiculo, aproveite a oportunidade, de vez em quando é ótimo, alivia a alma, expõe dela o seu vigor, sua ânsia de viver.

MEU DEUS, QUE SAUDADES DO SOL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Encontro-me numa viagem filosófica entre a corrente epicurista e a corrente estóica. Uma via crucis. Viver um pico hedonista quase a la Diógenes - o cão - à queda estoica súbita e vertiginosa, em direção à abstinência quase que completa do objeto de prazer. Hoje eu entendo como deve se sentir o dependente em suas mais diversas crises, também eu estou buscando a desintoxicação nesse tratamento radical e extremo.

As vezes penso que tudo isso não tem o menor sentido. Que o que quero mesmo é me levar pela dependência e gozar mais uma vez. Então lembro da ideia de alguns esportistas que decidem se aposentar em plena forma, de que vão parar de jogar enquanto ainda estão sendo ovacionados pelos torcedores. Contudo, duvido que ao fim, ao cabo, eles não amargam essa atitude até o fim da vida. Mas eles estão certos. Depois de tudo o que foi possível ser vivido, aguardar o esgarçamento de uma relação, é ser no mínimo um urubu a espera de que o prato tombe sem vida e chegue ao estado de putrefação para se deleitar com o alimento. Não, decididamente, nao sou necrófila. Estou de luto sim, mas um luto deliberado, e nem por isso menos doloroso. É irônico como nunca somos capazes de prever o que o outro sentirá mediante o contanto estabelecido.

Tudo está impresso na alma, ela está ainda muito impregnada do objeto de prazer. Certa vez li uma mensagem linda, que se os dois amantes se encontrassem realmente, talvez virassem pó. Logo pensei na teoria da antimatéria; que ao se deparar com o seu outro, a matéria original, se aniquilariam. É essa a impressão que tenho também. Enfatizo que falo por mim, não pelo outro, dele, nada posso falar. Sempre fui um tanto quanto visceral, até mesmo para mim. Talvez tenha sido apenas uma expressão fortuíta do outro, mas para mim, senti assim. Antes eu fui adepta do meio termo, hoje já não sou mais. Ou é ou não é. Não quero menos, ser for para ser menos, é melhor o nada.

Jejum, jejuo, me abstenho do contato com o meu algoz-vítima, ou eu como vitima-algoz (foi um jogo acordado entre as partes [eu e ele]), não se sabe bem quem é quem, tudo se misturou. Estou tentando arrancar a pele e deixar que ela se regenere, mas pelo que sei, esse orgão não tem essa propriedade, apenas a da cicatrização, portanto, mera ilusão. Certo é que a pele crie um queloma, assim como as árvores que sofrem algum dano, mas com os anos, as novas cascas envolvem o ferimento, no entanto, fica registrado o evento em seu tronco.

As vezes quero tocá-lo, alcançá-lo com um grito que reverberasse por essa tela e chegasse até ele, mas para que? Para que perturbá-lo com minhas angústias, tem coisas que só dar para serem vividas individualmente. Não sei se meu objetivo ascético transcenderá minha pequena alma e ecoará no cosmos, mas vou torcer pelo menos para que ela tome a direção do autoconhecimento. Por ora ficarei no jejum do meu objeto de prazer e de minhas palavras. Desejo, ansio, agradeço, grito pelo SILÊNCIO, SILÊN, SI, ....................................

A distância de nove meses não diminuiu o sentimento que senti por Rá, mas já posso olhar para tudo sem dor apenas com saudades. Em homenagem àquele que me ressuscitou do mundo dos sentimentos mortos, ofereço esse vídeo que tanto diz o que sinto por ele.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ruminçãoes II

Ruminçãoes II

"Guardo inteira em mim a casa que mandei um dia pelos ares e a reconstruo em todos os detalhes intactos e implacáveis" Lindos e dolorosos versos da Adriana Calcanhoto. Ah!! Sinto saudades, muitas do sol. Será que algum dia voltarei a sentir explosões solares??????????? Oh! Devir olha pra euzinha. kkkkkkkkkkkkkk

Mês Sabático e Ruminações Resultantes

Mês Sabático e Ruminações Resultantes

Certa vez me falaram que toda forma de amar é válida. Tinha razão, basta estarmos dispostos a isso. Mas existem certas limitações que nos deixam desorientados, sem saber bem o que fazer. Todas as certezas se dissipam, e só resta o sujeito com ele mesmo, tendo que decidir o que é melhor para si, entretanto, lá no fundo, sabendo que é o melhor possível. Contudo, o humano tem de viver dentro de determinadas circunstancias, estas, por vezes, até são burladas por um tempo, mas só por um tempo.

Mas um tempo tao valioso, tao proveitoso, capaz de nos fazer viver intensamente, coisas que nunca vivenciamos antes.

Não há como voltar atrás e apagar tudo. Falo apenas por uma consciencia, nao pela outra, assim como em qualquer relacionamento dito "normal". Nunca temos consciencia do todo, apenas de uma parte, a nossa.

A decisão de dar um novo passo, nos faz titubear entre retornar a ignorancia de antes, saber que tudo foi um istmo. Mas acredite, a vontade que o istmo permaneça é tentador. Que vontade dar de estender o tempo, a relação. Contudo, nao se sabe ao certo o que vai acontecer, por quanto tempo se resistira ou se se esquecerá. Sabe-se la o que o devir nos possibilita?

MDCs

MDCs

KKKKKKKKKK, li essa frase e adorei, graças a Deus que nao me encaixo mais nela: "MDCs - Mulheres numa Droga de Casamento!" - Pergunta retórica: "fugir ou não fugir?" - permanecer num "ex-casamento" ou sair para o desconhecido? Acreditem é melhor o desconhecido, já dei esse passo e foi a melhor coisa que me podia acontecer.

Inflexibilidade

Inflexibilidade

Certa vez fiquei envergonhada de perceber que minhas antigas opiniões não eram mais as que eu defendia. Envergonhei-me porque pensei que mudar de ideia fosse coisa de alguém sem caráter, mas refletindo mais sobre a questão, percebi que só os que não mudam por comodismo, é que de algum modo, estão tentando engessar tanto o mundo quanto a si mesmo, pois o fluxo da vida é incessante. Porém, isso não quer dizer que nada deve ser preservado.

Claro que vivemos em sociedade, mas há de se ter um certo equilíbrio entre o que pensamos ser melhor para nós e para a sociedade. É claro que existem opiniões que devem ser defendidas sempre, mas devemos ter no bom senso um ponto de equilíbrio, de partida e de chegada.

O humano é a espécie que por razões que desconheço, revela-se de modo contraditório, entretanto, nem sempre tem coragem de assumir essa característica particular. Nem sempre somos 100% coerentes com o que pensamos, sempre há uma exceção, um adendo e com isso tentamos consolar o ego em sua racionalidade aceita socialmente, mas que no fundo, não é bem o que pensamos. Mas para sermos politicamente corretos, seguimos a onda sem nem refletir sobre o que a turba grita "inflamadamente".

Por isso, hoje digo desavergonhadamente que sou contraditória sim, que mudo de opinião quando estas já não dão conta do que penso sobre elas.

Ainda bem que não perco a esperança rsss

Ainda bem que não perco a esperança rsss

Quando será que eu cantarei essa canção a plenos pulmões??????????????????
Sei que é meio mulherzinha, mas acho que é isso que sou. rssssssssssssss

Ainda Bem
Marisa Monte
Composição: Marisa Monte / Arnaldo Antunes

Ainda bem
Que agora encontrei você
Eu realmente não sei
O que eu fiz pra merecer
Você

Porque ninguém
Dava nada por mim
Quem dava, eu não tava a fim
Até desacreditei
De mim

O meu coração
Já estava acostumado
Com a solidão

Quem diria que a meu lado
Você iria ficar
Você veio pra ficar
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

O meu coração
Já estava aposentado
Sem nenhuma ilusão

Tinha sido maltratado
Tudo se transformou
Agora você chegou

Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

Relacionamento na Internet

Se considerarmos que os relacionamentos na vida "real" são complicados, descobrir que os da internet são bem piores para aqueles que querem um envolvimento não apenas físico mas também emocional. Na vida real esse mesmo problema se apresenta, mas com uma leve diferença.

Na internet o que está do outro lado, não precisa ouvir ou vivenciar aquele momento, caso não esteja a fim. Basta que feche as janelas e bloqueie a pessoa em questão. Mas na vida "real" isso não dá muito certo. Você esta frente a frente com a pessoa, mesmo que viremos as costas, ela pode vociferar e você mesmo sem querer vai ouvi-la. Pode também usar o velho artifício de que ouviu, mas na verdade o dito entra por um ouvido e sai pelo outro. No entanto, o que se ouviu pode até ser desconsiderado, mas passou de algum modo pela consciência, na internet se desligarmos nem chegamos a ouvir, por isso o dito se perde e seu interlocutor nunca saberá o que foi dito depois que ele fechou a janela, a não ser que o outro tenha outros meios de entrar em contato com você.

Um pacote recheado de pecado e paixão desmedida
Na internet você pode ser de tudo; de prostituta à freira casta que é mais difícil de ser desmascarada assim como homem também (estou falando do meu ponto de vista e não de modo geral), na vida real isso também acontece, entretanto, o convivio com atenção vai revelando o escondido. Na vida "real" com a proximidade é possível, como numa lupa ou microscópio, enxergar coisas e comportamentos que a distância isso é improvável. Na net a única coisa que não se pode fazer é, dizer o que pensamos ou queremos ou ser o que realmente somos (quando sabemos). Ou adotar tudo isso como premissa e ver o que cai na rede, normalmente caem alguns sem noção o que me deixa fula da vida, pois sequer sabem identificar esses critérios, enxergam apenas uma coisa A FOTO OU AS FOTOS. Isso é o mais importante, o resto é resto.

Ou uma fantasia de freira

O discurso esperado pelo o outro é algo mirabolante seja ele qual for, nada de real existe. É uma idealização louca. Se uma palavra for mal interpretada, pronto, perdeu, perdeu. O terreno é completamente minado. O que o outro espera de você é pura utopia. Você cria um frankenstein lapidado no bisturi do Ivo Pitangui e submetido ao mais avançado processo de formação de carater que se quer encontrar no outro. Citei apenas os extremos [prostitura e freira], mas há uma infinidade de outros pedidos fantásticos e esteriotipados.

De minha experiência "internética" tirei algumas máximas: se quiser ter milhares de amigos, basta colocar uma foto supersensual (decote profundo, lingerie, biquini), mas atenção! Tem de se fantasiar toda vez que for falar com os "amigos" e a camera tem que ter zoom ou uma posição estratégica para que a visualização da mercadoria seja bem observada, avaliada e passar pelo crivo da excitação (aqui tem graus diversos), o próximo passo é a movimentação do corpo, uma ginástica só: levanta, dá um giro de 360 graus (frente e verso), debruça perto da camera para ressaltar os dotes superiores e para finalizar pode parar de costas para que possam ver a elevação traseira. Mas e o rosto? Ah! isso é só um detalhe, e o que a pessoa pensa? Loucura isso não deve existir em uma mulher. Seja apenas objeto e nunca morrerás sozinha, Ah! detalhe quando tiver que morrer, morra jovem com o corpo ainda com muito colágeno, senão, morrerás sozinha.

Mas o mais engraçado é quando voce é objetiva, tipo assim: Quero apenas transar com alguém interessante a meus olhos, de modo algum quero casar, além de você quero outros parceiros sexuais etc. Ai é de cair na gargalhada, pois o carinha diz: "e o sentimento? onde que fica?". Ou seja, ele quer as duas coisas de nos. Tanto aquele que busca "apenas" sexo quanto aquele romantico, querem uma mulher prostituta que os ame.

Conclusão: Estou mais confusa do que nunca. Que ser? Uma mulher-prostituta ou mulher-santa, mas que saco. Porque não sou lésbica ou bissexual, mas já me disseram que tanto sendo uma quanta a outra, também vou enfrentar as mesmas dificuldades que sendo heterossexual. P Q P, melhor ser hetero que já conheço um pouco a dança e torcer que apareça algum maluco que leia esse post e que seja interessante.

Já sentei, porque sei que vou esperar uma eternidade, tipo fila de hospital público.

sábado, 17 de setembro de 2011

Ode ao encontro

Passamos por tantas fases na vida. Hoje ao ler o poema (A Selva e o Mar - Cantos do pássaro encantado - Rubem Alves) , tenho certeza de que o encontro seguido da despedida é mais estável do que a permanência do encontro.

A selva e o mar

Vou contar uma estória de separação,
Todo separação é triste.
Ela guarda memória de tempos felizes
(ou de tempos que poderiam ter sido felizes...).
E nela mora a saudade.
A saudade ficou no rosto de uma criança,
partida entre dois lugares,
e o seu corpinho se estendia
de viagem a viagem,
entre a casa do pai e a casa da mãe,
esticado, querendo fazer uma ponte imensa
que juntasse de novo
aquilo que a vida separara.
E ela ficava a se perguntar: Por quê?
E é por isso que conto,
para ajudar a entender...

Sua mãe nasceu no mar
e era, inteirinha,
amor ao mar.
Ah! Você que saber
o que é o amor...
Amar é querer trazer para bem perto
aquilo que está longe,
abraçar, esforço de pôr dentro
aquilo que está fora,
beber, com prazer, aquilo que fez
os olhos sorrir.
Pois é: ela bebia do mar
tudo o que via,
e o mar nela morava
e ela o mar namorava:
a imensidão azul mistério,
as coisas que viviam nas suas funduras:
corais vermelhos,
algas verdes,
peixes de cores brilhantes,
icebergs branco-gelados
de mares não vistos,
músicas silenciosas de catedrais encantadas.

Assim era o corpo da jovem.
Você acha estranho?
Pensava que o corpo era feito de carne,
de sangue e de ossos?
Puro engano.
Nosso corpo é feio daquilo
que o amor pôs lá dentro.
E onde o amor quis, mas não pôde,
ficou um vazio,
que é onde mora a saudade...
Assim era o corpo daquela jovem,
quase menina:
havia os sons acolhidos
por seus ouvidos, barulhos de ondas,
um paciente ir e vir sem fim
como a vida...
Odores de coisas marinhas
entravam lá dentro
pelas narinas pulsantes
e faziam bem a lugares ocultos;
perfumes azuis de marolas
e aromas de pérolas brancas...
(Você já sentiu isso, o bem
que um perfume faz, num lugar de dentro da mente
que a gente nem sabe onde fica?)

Sua pele brincava com a água
e se arrepiava toda
quando a brisa lhe fazia cócegas.
E em seus olhos se viam gaivotas de brancas asas
e barcos a vela ao vento.
Quem lhe ouvisse o coração bater
juraria que eram ondas...
Seus seios, conchas lisas que abrigavam
criaturas macias.
Seu ventre, lugar de mistérios,
como a vida secreta do mar,
caverna escura onde nadavam peixes minúsculos
e invisíveis sementes ficavam à espera.
Mas havia uma coisa que ela não podia entender:
era uma tristeza,
suave,
nostalgia.
Não lhe bastava o mar infinito.

Havia os Vazios,
Desejos,
Ausência imensa,
Saudade de algo que lhe faltava.
E ela sonhava com coisas longínquas,
e as amava:
o mar e a selva se encontrassem
e o azul e o ver se misturassem.

Ela amava o mar que nela morava,
e a selva, ausência,
pedaço que lhe faltava.
E cantava o nome de seu amado:
“Os bosques são belos, sombrios,
fundos...” (Frost).
Seus olhos se voltavam então
para o alto das montanhas, ao longe,
e viam as silhuetas de árvores
ao céu, e imaginavam
belezas e mistérios diferentes
daqueles do mar.
E amava a floresta
com que sonhava.

Seu pai nascera no meio da selva
e o seu corpo crescera
com árvores velhas de muitos anos,
frutas silvestres de muitas aves,
musgos macios de muitos verdes,
borboletas de asas de muitas cores,
aves de vozes de muitos cantos,
grilos ocultos em muitas noites,
correntes de águas de muitas pedras,
flores silvestres de muitos cheiros,
terra macia de muitos brotos,
vidas que renascem de muitas formas...
Ah! Assim era o seu corpo.
“E como ele se entregava!
Amava seu mundo interior, caos selvagem,
bosques antiqüíssimos,
sobre cujo silencioso despertar verde-luz
seu coração se erguia.” (Rilke).

Mas ele também tinha
um sentimento triste, vazio,
doía-lhe o lugar da Falta.
E quando o sol
se punha sobre o mar,
ele sentia
uma nostalgia imensa.
Como se a floresta
não lhe bastasse,
o desejo por algo
belo-distante,
ausente.
E, da sombra
verde das árvores,
olhava a luz azul do mar,
solene no horizonte,
brincalhão na areia,
e desejava mergulhar nele,
e pensava que a felicidade é isto:
a selva penetrando no mar.

Um dia os dois
se encontraram,
se amaram,
a floresta mergulhou no mar,
o mar abraçou a floresta,
suas sementes se misturaram
e uma criança nasceu...
e ela tinha no seu corpo
um pouco de mar
e um pouco de selva...

Ah! felicidade maior
não poderia haver,
e até pensaram que seria eterna...
Foram morar lá em cima,
no lugar do Pai,
os três.
Felizes...
O pai, no seu mundo verde,
velho amigo, conhecido.
A mãe, no mundo verde,
mistério com que sempre
sonhara e desejara.
A criança, feliz,
por ser selva e ser mar.

Mas o tempo passou
e a felicidade acabou.
No peito da jovem
foi crescendo uma dor.
Primeiro era saudade mansa
que virou tristeza:
e a floresta, tão bela de longe,
virou prisão...
E o jovem que tanto amara
ficou estranho, gigante verde,
senhor da floresta,
seu carcereiro.

Ah! Ela já não podia amar a selva
e sua face se transtornou.
E o mar que morava nela ficou sinistro,
uma tempestade enorme
cresceu por dentro,
e no seu rosto quebraram ondas
em cuja fúria até mesmo a criança
se debatia. E a jovem virou tristeza
por se ver assim, tão feia.
(É preciso que você saiba disto:
nós amamos as pessoas
por aquilo de belo que elas fazem
nascer em nós.
Como se fossem espelhos.
Se nos vemos belos
naqueles olhos que nos contemplam,
nós as amamos.
Mas, se nos vemos feios, as odiamos...)

E ela então compreendeu que,
por belas que as matas fossem,
ela seria sempre uma estranha,
exilada, sem lar.
E foi o que disse ao seu companheiro,
que a entendeu
e disse que não importava.
Viveriam à beira-mar
para que ela reencontrasse
a felicidade perdida.
E assim aconteceu.
A alegria voltou.

Mas o tempo passou
e a saudade chegou
agora ao peito do jovem,
onde a solidão foi crescendo,
tristeza de quem vive em degredo,
prisioneiro de ilhas cercadas de mar sem fim.
E a jovem que ele tanto amara
se transfigurou num mar de tristeza,
ondas que repetiam
de noite e de dia,
sem parar:
“Nunca mais, nunca mais...”

E a floresta que morava nele
se enfureceu,
e acordaram bichos sinistros,
que dormiam nela,
cobras e escorpiões,
e aflorou tudo naquele rosto
outrora manso,
e ele ficou sinistro,
e havia fogo no seu olhar,
e espinhos cortantes no seu falar.
E ele chorou ao ver o espanto
nos olhos da sua criança,
espelhos tristes,
e sentiu que já não era o mesmo,
e nunca o seria,
longe da selva,
que era o seu lar.
E então compreenderam que,
para continuar a ser belos,
era preciso que o mar e a floresta
fossem verdadeiros consigo mesmos
e morassem nos seus lugares.

E assim viveram, longe:
a jovem, à beira-mar, saudosa da floresta,
o jovem, na floresta, com saudades do mar...
E é por isso que as pessoas se separam,
por mais que isso as dilacere,
para ficarem bonitas de novo
e voltarem aos mares e florestas perdidos...
Cada separação é uma busca
de um amor que se perdeu:
em cada partida, um desejo de reencontro.

Quanto à criança,
diziam os outros, que nada sabiam:
“Não tem onde morar...”
Ignoravam os mundos onde vivera
e que no seu corpo pequeno moravam
um mar e uma selva.
E se ora estava com a mãe, à beira-mar,
ora com o pai, na floresta,
não é que um lar lhe faltasse.
Ela era mar,
era floresta,
e podia sentir-se em casa
onde quer que estivesse."


(Cantos do pássaro encantado - Rubem Alves)