Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Instante Infinito - Ana Freitas

Introdução

O que poderia eu dizer sobre espaço-tempo sob a ótica da Física? NADA. Ou ainda sobre o material, fotograma, que a artista Ana Freitas escolheu para materializar o pensamento do físico Mário Novello sobre espaço-tempo? Piorou, não sei NADICA de NADA. Então, comecei a fuçar o santo Google, que segundo a opinião da amiga de uma amiga minha, é mais útil que marido. Solteirona que sou e de posse de tal recomendação, adotei-o rapidamente tanto para a função profana quanto para a santa. Não me divorciei ainda, pois ele tem sido um marido desvelado e tenta suprir toda a minha ignorância premente. Pois bem, o pobre marido, por mais que queira e deseje profundamente, não consegue suprir todo o meu desconhecimento sobre física e fotogramas, mas me deu uma visão panorâmica sobre essas questões. Meu relato será em estilo novelesco, por partes, vamos ver em quantas ficam, Aguardem!

Parte 1

Lá vai as bobagens de meu caos mental sobre essa questões suscitadas acima. Falarei sobre minhas impressões sobre o dia de ontem (17/07/2013), que diga-se de passagem, foi revigorante mentalmente para mim e, nesse ponto, tenho que relatar tudin tudin. Roteiro: havia combinado com um amigo de ver a exposição "instante infinito" de Ana Freitas, almoçar, ver outra exposição "A Herança do Sagrado: obras-primas do Vaticano e museus italianos", no Museu Nacional de Belas Artes e, se desse, aproveitar para dar um oi para amigos do Clic na livraria cultura. Dia lotado, porque meu aniversário será dia 23/07/2013, e sempre aproveito para me mimar o máximo possível, afinal de contas, EUzinha MEREÇO e mereço MUIIIIIIITO. Vamos a trajetória.

Primeiro, não ouvi o despertador porque fui dormir tarde assistindo filme e desmaiei (de férias, sabe como é...)  e só acordei às 10:00. Hora que eu já deveria estar saindo de casa para ir me encontrar com meu amigo às 11:00. Pulei da cama, liguei ele remarcando para às 12:00. Corri para o chuveiro e, cadê a água? Vesti-me e fui ligar a bendita bomba. Depois de alguns percalços, consegui ligá-la. Volto contente para o chuveiro e já no finalzinho do banho, falta luz. Xingo até a terceira geração de tudo e de todos. Seco-me sem ter tirado todo o condicionador do cabelo (nem preciso dizer que o cabelo ficou uma bucha e quando o vento batia então, era a visão do tártaro). Desço correndo para pegar o buzão e o que acontece, hein hein? Um lindo e lennnnnnnnnnto congestionamento. Resumindo, cheguei atrasada 35 min, mas cheguei. O que seria da vida sem os imprevistos para dar aquele PLUS?

Pelo adiantado da hora, invertemos o roteiro e fomos almoçar em Niterói mesmo e depois pegamos o ônibus para o Leblon. Dentro do ônibus, meu amigo se dar conta de que não tem o endereço da galeria. Ligamos para todos os amigos para pegar o telefone do nosso colega que nos deu a dica da exposição e nada, ninguém sabia o telefone dele. Por fim, liguei para uma amiga e pedi-lhe para ver na internet, detalhe: não sabia o nome da galeria, não sabia o título da exposição, apenas o nome da artista. É claro que meu santo marido ajudou sem dúvida nessa hora e ela retornou a ligação me dando o endereço. Sempre morei no subúrbio e de Zona Sul, só conheço o nome. Meu colega conhece mais do que eu, graças aos céus e pegamos outro ônibus (lá se vai 3 ônibus) para chegar a galeria. Difícil né, mas não me arrependo e até superaria mais obstáculos para vivenciar o dia de ontem como o vivi. Talvez possam achar pouco, mas sempre experienciei uma gota tanto ou mais que um oceano. Nada é vazio para mim. Nada é pequeno ou grande, só os vejo como tal, na medida que me comovem ou afetam minha alma.

Parte 2 - Na galeria


Bem, o espaço da galeria não poderia acomodar toda a afetação que a exposição de Ana Freitas me causou mentalmente (isso porque já é uma mente caótica). Fomos recebidos pelo simpaticíssimo Jaime P. Vilaseca que nos pôs a par do trabalho da artista. Contudo, quando ele falou que a exposição havia sido pensada a partir do confronto dialético da Ana com o físico Mário e, que ela tentou materializar o que o Mário pensava ser tempo e espaço, pirou meu cabeção (o tico e o teco levaram alguns minutos para absorver a informação), como diz uma música. Aloprei internamente, dado meu semblante fechado e circunspecto não transparecer meus surtos. Acho, segundo a descrição de como fazer um fotograma, que foi mais ou menos o que aconteceu comigo. É como se eu fosse o papel, a exposição e o que ela suscitou de meus pensamentos, foram os objetos e quando a luz é jogada (não sei se é de cima para baixo ou de baixo para cima), foram impressos em mim-papel e depois se fixaram em minha alma. A seguir, vamos ver alguns desses objetos mentais.

O processo da artista foi registrado em cadernos (é claro que me identifiquei com isso, tenho pilhas deles também) e estão disponíveis na exposição para o visitante ler. Para não dizer que eu surto sem motivos, olha o que a Ana se pergunta: qual a espessura do limite? O que me fez lembrar automaticamente da questão do Ser e do não-ser que não é de modo algum do Parmênides, pois se o ser é, onde fica o limite do que não é? Pois se tudo é ser, haveria linearidade, tudo plano sem fissuras ou desníveis. Como interpreto a realidade não como um continuum, devo conceber que tem de existir um não-ser e para tanto, que limite é esse entre o SER e o NÃO-SER (eita Górgias, me acode) e qual seria a espessura, grossa, fina, milimétrica ou incognoscível?

Pulemos agora para o Tempo. Manuseio um objeto que Ana denominou de "instante infinito" e que me faz pensar num tempo que se dobra sobre si mesmo. Pensando nisso, me cai direto na cabeça, Santo Tomás de Aquino e sua concepção sobre Os instantes (que provavelmente levarei toda minha vida e não ficarão muito claros para mim) em seus Opúsculos Filosóficos cujo título do segundo capítulo é: "como o instante está presente em todo tempo, na mesma coisa, diferente segundo a razão", antes, no proêmio, ele diz que para compreendermos os instantes, temos que conhecer a natureza da duração, pois "o instante é concomitante a toda duração". Ora, pensemos na afetação que a exposição causou em mim. Eu sou um determinado tempo que tem uma duração específica (não devo chegar aos 100 anos, por exemplo), no entanto, li essas considerações do Aquinate num determinado instante de minha vida, contudo, em outro instante de minha vida, retorno ao instante dos instantes de Tomás de Aquino. Bem, nada mais razoável do que concluir precipitadamente que existe um tempo e nesse tempo, finitos instantes e dentro desses finitos instantes, outros tantos finitos instantes abrigados dentro de um tempo finito pela duração. Isso levando em conta, apenas eu como amostra, mas, se levarmos em conta que existem trilhões de outros eus e objetos que também tem duração, então o tempo pode ser infinito contendo infinitos instantes e dentro destes, outros tantos instantes tão infinitos quanto. Como não concordar com o que o Cosmólogo Mário Novello diz: "A matéria, a energia, o espaço e o tempo se entrelaçam em um processo eterno", ou como ele pensa o espaço-tempo como algo diáfano, tênue, etéreo e fluido.



Uma outra maravilha da exposição é a ampulheta vazada que ela intitulou de Tempoeira. Perceba que se a ampulheta fosse fechada, estaria representando um tempo específico e criado, no entanto, ela vazada nos dar a real sensação de que o tempo se materializa na poeira que penetra pela abertura e vai se acumulando ou cai direto a outra extremidade. Chegará uma hora em que haverá tanta poeira acumulada que o tempo será visível para o espectador. A pergunta que pode surgir é: quanto tempo demorará para que o tempo se materialize? Eu digo que não importa o tempo, só o fato de ele escoar livremente já é condição fundamental para a sua materialidade, contudo, ainda está contido num espaço específico que é a ampulheta.

Por fim termino aqui meu relato experienciado na exposição de Ana Freitas que se consubstanciou em uma verdadeira vertigem mental. Uma experiência que Joaquim Marçal conclui ser um "tudo-ao-mesmo-tempo-aqui-agora-e-em-todo-lugar". 

Quem quiser ainda pode visitar seu trabalho que ficará até o dia 20/07/2013, na Galeria Portas Vilaseca, na rua Ataulfo de Paiva, 1079, loja 109 - subsolo - Leblon. O site é http://www.portasvilaseca.com.br/

Até breve!