Hoje, mais um dia de dia comum, sem grandes expectativas, logo porque nesse calor, minha única expectativa é de estar à sombra e num lugar fresco.
Fui para o trabalho normalmente. Deu minhas aulas e ao fim do ofício, louca pra chegar em casa, tomar um longo banho frio e almoçar. Qual não foi meu desprazer ao colocar o tal bilhete único (único mesmo, não tinha outro) e ver a informação SALDO INSUFICIENTE.
E agora? Sem dinheiro (porque a anta aqui, não anda com dinheiro), nem cartão (só o único) e mesmo se tivesse, onde estava nem caixa eletronico tinha. Enfim, estava na merda. Quem me salvaria? Quem? Quem? Meu filhote. Fiquei esperando numa praça até meu filho chegar. Sentei em baixo de uma árvore. Tinha uma brisa gostosa.
Pouco tempo depois, um morador de rua senta junto a mim. Um aluno veio falar com ele. Depois ele tirou sua marmita e começou a almoçar. Como é de se esperar, é claro que ele não me ofereceu, mas do que justificável. Mas a comida dele estava com um cheiro tão bom que meu estomago chegou a roncar timidamente. Ele comeu tudo, para a sobremesa banana e laranja.
Satisfeito, iniciou uma conversa comigo e se apresentou. Seu nome era Paulo Sergio, reclamou que a Cedae havia demorado para reparar um cano estourado em frente a UERJ e ao ponto de ônibus lotado de alunos que sairam de 4 escolas no entorno e o trânsito começou a dar nó. O Paulo ficou sonolento e disse que tiraria um cochilo, mas estava com medo que eu o roubasse. Afinal de contas, ele tinha escutado minha conversa com meu filho pelo telefone e eu disse que estava sem um tostão furado no bolso - acho que ele devia ter umas economias guardadas na mochila. Bem, o tranquilizei e prometi quenão o roubaria e, logo depois, o cochilo tinha se transformado num sono quase profundo.
Paulo é um mendigo conhecido, pois eu velava por seu sono até que meu filho chegasse, quando um outro homem veio de bicicleta e o acordou. Nesse mesmo instante chegou meu filho. Levantei e deu um tchau pro popular Paulo e segui meu trajeto interrompido pelo bilhete único. Mas, por via das dúvidas, vou passar a andar com uma graninha no bolso que possa pagar pelo menos a passagem de ida e volta para casa. LIÇÃO APRENDIDA. Mas sai no lucro, conheci o Paulo Sergio, um homem e não um mendigo, que hoje me deu a honra de sua companhia.
Querida, isso é uma crônica e muito boa, que bacana ver como o texto flui fácil para você. Achei ótimo o seu Bilhete Único ter te deixado na mão, do contrário seríamos privados dessa ótima estória, rsrs. Sua estória me fez lembrar uma experiência parecida que tive com meu ex-marido. Na época, uns 28 anos atrás, eu pegava dois ônibus para ir ao trabalho. Saía de casa com o dinheiro de um na mão e quando descia no ponto pegava o dinheiro do outro. Nesse belo dia, meu então digníssimo mexeu na minha bolsa, pegou tudo e eu não tinha dinheiro para o segundo ônibus, isso em Irajá, às 7h da manhã. Sabe o que eu fiz? Te conto na reunião de sexta, rsrsrs.
ResponderExcluirRsrsrs, poxa Rita, infelizmente não poderei ir. Em outra ocasião voce me conta. Fiquei curiosa. Eu sei bem o sufoco, já sofri com o 312 (Ramos - pça. Mauá)lotado até os degraus.
ResponderExcluirHelene, que crônica incrível!
ResponderExcluirJá passei por algo parecido, mas como aqui em Valença quase todo mundo se conhece, o trocador já me deixou passar para pagar depois (eu fiz) e em outra ocasião um passageiro completou minha ´passagem, diga-se de passagem ainda existem Humanos no mundo, eu mesma já fiz isso também!
Afinal, quantos Paulos encontramos na rua e não percebemos salvo por situações como esta que você descreveu? É minha cara, às vezes, nós mesmos somos invisíveis aos olhos alheios, o que dirá um mendigo? Valeu pela experiência de conhecer Paulo e não esquecer mais uma reserva...
Bjoks
Em horas como essas, rebate a pergunta em minha consciencia: até que ponto o progresso está vinculado ao que é humano? Parece que todo progresso sectariza. Chego sempre a conclusão de que o mundo menor é bem maior.
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