Todos os meses entro em estado de tensão máxima, é a maldita TPM. É um misto de nostalgia e superagitação mental. Alguns dizem que parece bipolaridade. Não sei, mas não consigo definir se é ruim ou não. Pois, se por um lado, choro igual bebezinho com fome só porque o arroz queimou, por outro, minha criatividade é acionada e fico na maior fissura (me dá um trabalho dos diabos me controlar. Olha que nem barbitúricos tomo, imagine só se o fizesse? rsrsrs).
Homens, acreditem! Não é nada fácil transitar entre esses dois estados de ânimo concomitantemente.
Para piorar ainda mais a situação, resolvi, nesse feriadão, assistir uma seleção de filmes: Meia Noite em Paris, Branca de Neve e o Caçador, Melancholia, Utopia, Valente e o videoclip da música final deste último filme, "Answer (mais adiante, num outro post - a saga continuará - falarei a respeito dela). Dentre esses 5, só um não puxa pra baixo. É "Meia Noite em Paris".
Marion Cotillard e Owen Wilson |
Meia Noite em Paris é um filme de Woody Allen. É leve, delicioso de ver. Uma comédia romântica. A estrutura espaço-temporal é uma arquitetura técnica bem elaborada. Um quê de loucura do Woody. Aliás, a maioria de seus filmes tem uma cisão com o tradicional. Ele é uma criatura que pode se dar a esse luxo. É cultíssimo e sabe como ninguém utilizar seu vasto conhecimento na elaboração técnica e conteúdo de seus filmes (nossa, acho que tem muito "ura" nesse parágrafo, mas vou deixar assim, senão não escrevo metade do que pulula nessa memória de ameba). Bem, voltando a ruptura do espaço-tempo, há uma intersecção no tempo presente e passado. Gil se descobre perdido em Paris à noite e, senta-se numa escadaria, quando aparece um carro antigo e seus ocupantes o chamam para dar uma volta e, essa volta, o leva para o passado, na década de 20.
O tempo presente é monótono, decepcionante, sem cor e sem vida para Gil, o escritor hollywoodiano desencantado com seu ofício. No entanto, o passado é vibrante, cheio de expectativas, agitado, criativo. Seu singelo passeio o leva a uma festa onde ele inacreditavelmente se encontra com Cole Porter, Scott Fitzgerald e sua excêntrica esposa, Zelda Fitzgerald, Ernest Hemingway entre outras celebridades históricas do mundo das artes. É o mundo onde a arte é o pilar central, no presente, ela é um mero adereço. Algo para ser apenas jogado de modo pedante por alguns Medalhões (como bem classificaria Machado de Assis).
No passado, a nata artística desfila serelepe. Tem-se representantes do cinema, da artes pictóricas, da dança, da música. Dentre os já mencionados, podemos acrescentar Pablo Picasso e sua amante Adriana, Salvador Dalí, Luis Buñuel, Gertrud Stein, Man Ray, Joséphine Baker, Paul Gauguin, T.S. Eliot, Henri de Toulouse-Lautrec, Henri Matisse, entre tantas outras personalidades brilhantes desse Clube das Artes.
Falando sobre clube, estou a ruminar essa questão há algum tempo. Lembro de alguns exemplos e vejo que não têm o mesmo sentido. Não sei se é por causa da velocidade de nossas vidas ou se por uma questão de ego exaltado. Mas o fato é que nos antigos pontos de encontros de artes não havia hora marcada com antecedência. Todos ou parte se encontravam num horário para tomar chá, café, bebidas, etc. Não tinha um agendamento prévio. Falava-se de tudo e de todos. Os ânimos ficavam exaltados, mas o que resultava era a própria arte em ação, em construção. Alguns se odiavam e debatiam em público seus gostos e desgostos artísticos. Lavava-se a roupa suja ali e depois outra vez.
Hoje, eu sinto uma certa apatia no mundo literário e, de modo geral, das artes. Os Clubes são herméticos, cheios de patotinhas tão infantis que me irritam. Não há abertura para discussão e, quando há, ficam ofendidos sobremaneira. A maioria que se encontra está em estado permanente de defesa desses egos. Os comentários se perdem em ferramentas digitais que poderiam revitalizar esse diálogo e suprir a distância entre artistas e artistas e entre espectadores e artistas.
Caramba! Se o meio digital tem possibilidades de interações diversas, parece que nesse âmbito, precisam ainda serem repensadas. Tudo bem que uns podem afirmar que disponibilizam o texto no meio virtual e se os visitantes gostarem ou não, tanto faz. Concordo do ponto de vista do gosto, mas discordo do ponto de vista da perda e do enriquecimento que esse diálogo poderia trazer às pessoas e à Cultura. Para exemplificar isso que estou me referindo tão alopradamente, vou lançar mão de uma algumas personalidades.
Primeira dupla, Goethe e Schiller. Eram amigos pessoais e divergiam na arte em que cada um acreditava. Goethe defendia o romantismo e Schiller atuava numa vertente chamada Sturm und Drang (tempestade e ímpeto). Quando Schiller morreu, Goethe perdeu seu grande interlocutor e incentivador. Eram críticos entre si. Um instigava o outro a prosseguir, mesmo que divergindo.
Segunda dupla, Van Gogh e Gaughin. Talvez não divergissem tanto, mas têm suas particularidades e estilos próprios. Juntos exploraram e experimentaram o mundo das cores. Hoje percebemos o quão benéfico foi para as artes essa união entre os dois.
Agora vamos trazer a discussão para dias mais próximos a nós. Elejo meu adorado J. J. R. Tolkien e C.S. Lewis. Encontravam-se regularmente para lerem capítulos um do outro. Discutiam a estrutura da narrativa, o estilo, o pano de fundo. É claro que não concordavam sobre muitas coisas, mas o movimento de suas criações era visível, era corrente. Eles sabiam em que pé andava a arte de seu tempo e deles mesmos, porque eles faziam parte desse movimento.
Enfim, ainda desejo que em nossa atualidade possamos alcançar essa maturidade discursiva e não nos fechemos em nossos egos e deixemos escapar as possibilidades desse movimento em nossa arte verdadeiramente contemporânea do hoje, do agora. É isso o que desejo. Muito embora não seja artista, mas me considero uma grande apreciadora e amante de todos os tipos de artes.
Fontes: (quem não conhecer todos os personagens do filme, podem visitar essa página eletrônica http://www.ospaparazzi.com.br/celebridades/meia-noite-em-paris-saiba-quem-e-quem-4788.html - lá encontrarão uma relação de quem é quem).
No passado, a nata artística desfila serelepe. Tem-se representantes do cinema, da artes pictóricas, da dança, da música. Dentre os já mencionados, podemos acrescentar Pablo Picasso e sua amante Adriana, Salvador Dalí, Luis Buñuel, Gertrud Stein, Man Ray, Joséphine Baker, Paul Gauguin, T.S. Eliot, Henri de Toulouse-Lautrec, Henri Matisse, entre tantas outras personalidades brilhantes desse Clube das Artes.
Falando sobre clube, estou a ruminar essa questão há algum tempo. Lembro de alguns exemplos e vejo que não têm o mesmo sentido. Não sei se é por causa da velocidade de nossas vidas ou se por uma questão de ego exaltado. Mas o fato é que nos antigos pontos de encontros de artes não havia hora marcada com antecedência. Todos ou parte se encontravam num horário para tomar chá, café, bebidas, etc. Não tinha um agendamento prévio. Falava-se de tudo e de todos. Os ânimos ficavam exaltados, mas o que resultava era a própria arte em ação, em construção. Alguns se odiavam e debatiam em público seus gostos e desgostos artísticos. Lavava-se a roupa suja ali e depois outra vez.
Hoje, eu sinto uma certa apatia no mundo literário e, de modo geral, das artes. Os Clubes são herméticos, cheios de patotinhas tão infantis que me irritam. Não há abertura para discussão e, quando há, ficam ofendidos sobremaneira. A maioria que se encontra está em estado permanente de defesa desses egos. Os comentários se perdem em ferramentas digitais que poderiam revitalizar esse diálogo e suprir a distância entre artistas e artistas e entre espectadores e artistas.
Caramba! Se o meio digital tem possibilidades de interações diversas, parece que nesse âmbito, precisam ainda serem repensadas. Tudo bem que uns podem afirmar que disponibilizam o texto no meio virtual e se os visitantes gostarem ou não, tanto faz. Concordo do ponto de vista do gosto, mas discordo do ponto de vista da perda e do enriquecimento que esse diálogo poderia trazer às pessoas e à Cultura. Para exemplificar isso que estou me referindo tão alopradamente, vou lançar mão de uma algumas personalidades.
Primeira dupla, Goethe e Schiller. Eram amigos pessoais e divergiam na arte em que cada um acreditava. Goethe defendia o romantismo e Schiller atuava numa vertente chamada Sturm und Drang (tempestade e ímpeto). Quando Schiller morreu, Goethe perdeu seu grande interlocutor e incentivador. Eram críticos entre si. Um instigava o outro a prosseguir, mesmo que divergindo.
Segunda dupla, Van Gogh e Gaughin. Talvez não divergissem tanto, mas têm suas particularidades e estilos próprios. Juntos exploraram e experimentaram o mundo das cores. Hoje percebemos o quão benéfico foi para as artes essa união entre os dois.
Agora vamos trazer a discussão para dias mais próximos a nós. Elejo meu adorado J. J. R. Tolkien e C.S. Lewis. Encontravam-se regularmente para lerem capítulos um do outro. Discutiam a estrutura da narrativa, o estilo, o pano de fundo. É claro que não concordavam sobre muitas coisas, mas o movimento de suas criações era visível, era corrente. Eles sabiam em que pé andava a arte de seu tempo e deles mesmos, porque eles faziam parte desse movimento.
Enfim, ainda desejo que em nossa atualidade possamos alcançar essa maturidade discursiva e não nos fechemos em nossos egos e deixemos escapar as possibilidades desse movimento em nossa arte verdadeiramente contemporânea do hoje, do agora. É isso o que desejo. Muito embora não seja artista, mas me considero uma grande apreciadora e amante de todos os tipos de artes.
Fontes: (quem não conhecer todos os personagens do filme, podem visitar essa página eletrônica http://www.ospaparazzi.com.br/celebridades/meia-noite-em-paris-saiba-quem-e-quem-4788.html - lá encontrarão uma relação de quem é quem).
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