Icaraí, 16 de julho de 2010.
RELATO DA SEGUNDA FESTA DE FILOSOFIA DA UFF
Em primeiro lugar quero agradecer a gentileza de Henrique e Almerinda por nos ter disponibilizado o local da festa e a boa vontade com que ele e sua esposa organizaram tudo para nos receber.
Aos poucos estamos nos conhecendo individualmente e não apenas como alunos do curso de Filosofia, nomeados numa pauta. A relação que estabelecemos em sala de aula não é a mesma que temos na esfera pessoal (mas isso todos já sabemos, é só uma estratégia para recordar os acontecimentos, já que se passaram cinco dias). Essa relação me parece mais viva e mais intensa. Nela somos reconhecidos de forma diferente do círculo acadêmico. Na festa encontramos indivíduos plenos de experiências vividas e ainda por viver, quer sejam elas equivocadas ou acertadas. Pensando nessa perspectiva, prefiro o âmbito individual ao geral.
Bem, deixemos de lero-lero e partamos para o relato que começa a partir das 14h até aproximadamente às 10:30, porque esse foi o período em que lá fiquei. Gradativamente o número de pessoas está aumentando em nossos encontros. Mesmo a festa tendo se realizado num sexta à tarde, o quorum pareceu maior do que na primeira festa. Tinha alunos da primeira, segunda e terceira turmas.
Quero publicamente me desculpar com alguns colegas como o Antônio e seus amigos por não cumprimentá-los, mas quando fui procurá-lo, já haviam ido embora. E também por não ter me despedido adequadamente da nossa anfritriã Almerinda. Perdão, aproveitei uma carona, por isso, sai às pressas. Senti falta de algumas pessoas e lamentei o contratempo de Denise, melhoras para seu pequerrucho.
Ai vão alguns mexericos. Tivemos dois churrasqueiros: Henrique e Miguel. Levy revelou seu lado piadista. Por falar nisso Levy, “choquei” com os côcos e as nozes. Mas a festa começou mesmo a ficar agitada quando Viviane e Alexandre chegaram com sua “filhoquinha”. Não imaginam que vigor essa PEQUENA criança tem.
Estão pensando que ficou entediada por estar rodeada de adultos na festa, enganam-se redondamente. Encarou todos nós tête-à-tête com desenvoltura. Eu estava um pouco afastada, mas deu para perceber que ela, de posse de um taco de sinuca que tinha o dobro de seu tamanho, aconselhava os rapazes e as meninas a jogar sinuca e pingue-pongue. Andou, correu, conversou com quase todos e, por fim, dormiu nos braços de Henrique e de Nádia (não sei se essa é a grafia correta de seu nome, só sei que não é assim:EDNA, rsss), esposa do Ricardo.
A Nádia, pobrezinha, sofreu conosco. Ficamos falando mal do marido dela, dizendo que ele era um arrogante, pois havia falado no nosso antepenúltimo encontro no “Bin”, que seria difícil alguém tirar uma nota maior que a dele, no máximo igual a dele. Foi mal Ricardo, sabemos que você não é uma pessoa torpe e, quando pedimos algum esclarecimento a respeito de algo que você compreendeu e nós não, sempre se predispõe a nos auxiliar. Agora, cá entre nós, você e Henrique combinaram disputar notas em uma determinada disciplina nesse semestre, isso é verdade não é? (ops! ouvi até os guizos e um gosto de veneno na boca) Gente, façam suas apostas.
Continuando a falar em Ricardo, vocês não podem imaginar o nosso “guru” despido de toda seriedade, numa disputa renhida com Henrique no pingue-pongue. Acreditem, vi esses dois homens voltarem a ser crianças, completamente absortos nessa competição. Querem saber quem ganhou? HENRIQUE, foi o vencedor (se escutei bem). Afinal de contas, ganhar Ricardo não é uma tarefa fácil. Portanto Henrique, PARABÉNS! Almerinda, coroe nosso colega de louros e o trate muito bem nessas férias como prêmio, mas, se ele vacilar, puna-o exemplarmente, com as bençãos das mulheres.
Passemos então a segunda parte de nossa festa. Com a chuva e o vento frio, nos transferimos para o salão fechado e, como de praxe, fizemos um pequeno sarau. Desta vez, não me intimidei com a competência da performance de Vivi em recitar seus versos, perdi a vergonha e li alguns poemas também. Os autores lidos na reunião foram, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Mário de Andrade, Marco Lucchesi e Hilda Hilst.
Alexandre (de visual novo) propôs uma leitura coletiva do poema “Tabacaria” do Pessoa. Ótima pedida, pois só assim ouvimos a voz de nossos colegas mais tímidos, como o Luiz, que quando de posse da palavra, transforma-se num verdadeiro porto seguro, sua voz sai límpida e precisa.
Agora, vejam que exemplo de apuro poético, Miguel recitou de cor, Fernando Pessoa, apesar de baco insistentemente querer lhe atrapalhar, ainda assim, ele foi até o fim. Não se contentando com um poema apenas, ele recitou mais um, só que esse era muito profundo e de difícil compreensão (para nós ouvintes), já que depois de tantos vinhos, cervejas e outros néctares dionisíacos, não conseguiamos concatenar as ideias com muita clareza. Então ele repetiu os versos para que tivessemos a chance de irmos para casa com a alma imbuída de tão belas palavras. Surtiu tanto efeito que até a filhinha de Viviane falou “ele está repetindo tudo de novo”. Valeu Miguel!
Dessa vez não houve muita música, acho que ficamos acanhados. Por outro lado, tivemos uma voluntária para cantar, porém, o Nelson não sabia acompanhá-la no violão, que lastima. Marcos, por sua vez, só mostrou seus instrumentos na hora em que eu estava indo embora, não sei se ele tocou. Espero que sim. Apreciarei seus dons na próxima.
Uma outra novidade é que além de lermos coletivamente, também criamos um poema a vinte e duas mãos, os autores: Viviane, Natan, Marcos, Luiz, Alexandre, eu (Maria), Ricardo, Levi, Henrique, Érico e uma outra pessoa que não consegui decifrar a letra. Alexandre, não consegui entender bem seu verso. Por favor corrija-o assim que puder. Eis nossa obra prima. É preciso lapidá-lo? Será melhor preservá-lo em sua forma bruta?
Seus olhos aguçados
Percorrem todo o meu ser
Prismas por onde percorro
Passos que sempre me leva a você
Me levam ao êxtase do prazer
Você é meu vinho, minha cachaça
Meu gosto de porre afoito e inconstante
Vinho apolíneo, cachaça dionisíaca
Êxtase impreciso no final do instante
Instante tão vasto e tão infinito
Infinito que desdobra as vísceras do meu ser
Tão infinitamente você
Gostaria tanto de te entender
A possibilidade é mais que a verdade
A felicidade não existe. É uma quimera.
Dedico, no dia do amigo, esse relato a todos aqueles que foram e aos que não puderam comparecer a nossa festinha. Um abraço. Nos encontramos no segundo semestre.
Abs,
Maria
É um blog inspirado na Maiêutica para responder a perguntas que insistem em não aceitar respostas. Pretendo reconstruir meu mundo. Por hora encontra-se suspenso de qualquer juízo, embora saiba que há um substrato existencial do qual não posso me isentar.
Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Filosofesta I
Piratininga, 19 de junho de 2010.
FILOSOFESTA
Este foi o título com o qual nos depararamos à porta da festa. Foi um bom prenúncio de nossa reunião. De fato não me decepcionei. A festa foi ótima. Teve boa música, boa comida, pessoas super legais, agradáveis e criativas.
Farei um breve relato, mas me perdoem por não lembrar de todos os detalhes, pois não enxergo bem, não escuto bem e tenho péssima memória (é a idade), por isso, não fiquem chateados aqueles de cujos nomes não lembro e da sequência exata dos acontecimentos.
Atrações:
1. Quero em primeiro lugar agradecer a gentileza e delicadeza da anfitriã em nos ceder sua casa super aconchegante e primorosamente preparada para nos receber.
2. Os bebes: cerveja, refrigerante, um tal de refrigerante batizado (cá entre nós, eu não sabia o que era isso, levei um tempinho para descobrir. Não espalhem, pois parecerá que sou idiota) e vinhos (deliciosos por sinal, nem preciso dizer que fiquei alegrinha [com muita compostura viu]). Os comes: caldo verde, cachorro quente, caldo de feijão, biscoitinhos, torta salgada (falo apenas o que eu comi). Tudo estava muito gostoso. Durante os comes e bebes, a esposa do Henrique nos falou sobre a educação no Brasil sob o Regime da Ditadura, principalmente sobre a Filosofia que foi banida durante este período.
3. Depois dos comes e bebes. André e Henrique nos informaram a respeito de algumas novidades do nosso Curso, tais como a aprovação do Programa de Tutoria e a abertura de uma disciplina de Grego oferecida pelo departamento de Filosofia em que o enfoque não está voltado apenas para a gramática. André também notificou que ele e Kelly estão representando a Revista Cult e a Revista Princípios, portanto, quem se interessar pelas revistas, dirijam-se a eles.
4. O Nelson leu um conto de sua autoria. O conto ainda não tem um título. O enredo diz respeito a decisão do MP de fechar uma casa de prostituição. O conto tem uma sutil comicidade e, por outro lado, expõe questões sociais que, desde sempre, estão presentes em diversas sociedades.
5. Logo a seguir tivemos Viviane interpretando uma poesia de Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade e de nossa colega Cláudia. Um primor de apresentação.
6. Em seguida tivemos a honra de ouvir nosso colega da Rural (me perdoe por não lembrar seu nome), mas lembro-me perfeitamente de sua voz maravilhosa, parece um locutor (ótimo candidato a orador da turma). Leu textos de Oscar Wilde que falavam sobre liberdade, um direito individual, que, aliás, foi negado ao escritor por um determinado tempo, porque escolheu viver da forma que achava melhor.
7. Ápice da festa, a banda da Drica fez um ensaio aberto só para nós, filósofos. Tivemos o prazer de ouvir músicas composta por eles e, em especial, “amar” um poema de Florbela Espanca (de quem sou fã) musicado por eles (um luxo).
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!
Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca
ADOREI. Pausa para a banda.
8. Mas a festa continuou. Daqui em diante já não me lembro cronologicamente dos fatos (o vinho já estava fazendo efeito). O André leu um texto da revista Princípios sobre literatura (Chico Buaque, Machado de Assis e um outro que em decorrência de eu ter bebido muito da “água do esquecimento”, não consigo me lembrar). Depois, entraram em cena Nelson no violão cantando uma composição própria e depois nosso colega Cláudio Medeiros deu uma palinha para nós. Choquei com a multiplicidade de ambos (escritores, filósofos e cantores). Pelo menos são essas as facetas que conheço deles. Ah! Não sei qual foi a ordem se antes ou depois de cantar o Cláudio também leu um conto dele. A culpa é do vinho Cláudio, mas não me lembro muito bem, acho que falava a respeito da saudade de uma mulher (se não for isso, me perdoe). Eis que aqui termino meu relato porque às 2:00 da manhã fui para meu cafofo em São Gongolo.
O QUE FALTOU: a presença de todos os nossos colegas da primeira, segunda e terceira turma.
1. Denise, senti sua falta. Logo você que é a fotógrafa da turma. Ficaremos sem essas fotos para nosso futuro álbum de formatura.
2. Já que não temos fotos Levi, será que você não se habilitaria a fazer um desenho animado imaginando toda nossa turma nesse evento?
3. Cadê nossos colegas: Alan, Antonio, Lenita, Roberto, Ricardo, Fernanda Novarino, Fernanda Cristina, Elza, Naiara, Rafaga, Luciene, Ana Catarina, Sônia e todos os outros que não foram. Senti a falta de todos.
Abraços,
Maria
Impotência Catatônica
Reproduzo aqui o texto da poeta Elisa Lucinda, por concordar com sua crônica e manifestar meu estado de impotência catatônica, quiçá provisória. Reproduzo como forma de gritar o que calo e temo pelos nossos filhos e por todos nós.
Eis o texto que a Elisa escreveu para sua amiga Cissa Guimarães:
O que matou Rafael?
Estou em Paulínia e fico sabendo da notícia da morte de Rafael, filho da minha querida Cissa Guimarães. Meu coração começa a sangrar e a doer como se fosse o dela, como se a gente fosse parente e, quase como se fosse menino meu, embora nada chegue aos pés da dor dela. Claro que morrem milhares de jovens nesse país a toda hora e nem ficamos sabendo da prematura e anônima notícia, e por isso que dirão que só nos comovemos com essa perda porque é filho de artista conhecida. Ora, é e não é. Essa atenção se dá não só porque temos acesso ao fato, porque ele sai no jornal, mas principalmente porque o artista nos representa. Cissa simboliza alguns signos: força feminina, independência, modernidade, informalidade, honestidade, uma vez que seu nome nunca esta envolvido em falcatruas, responsabilidade materna, porque todos sabem que ela criou os três filhos, sem contar seu carisma e sorriso, que desde a primeira versão do Vídeo Show, fazem dela uma espécie de gente da nossa família. Por isso nos importamos tanto, por isso dói na gente porque fica representando nossos filhos e os filhos de quem não sai no jornal. O menino dela é menino nosso.Tenho em minha mente a imagem dela lendo meu poema Chupetas, punhetas,, guitarras" no espetáculo O Semelhante. Ela adora esse poema e, como minha convidada, chorava lágrimas sinceras ao dizer os versos: `...faço compressas pra febre, afirmo que quero morrer antes deles...." Por causa dessa imagem nem tive coragem de ligar para ela e, impossibilitada de dar-lhe meu abraço por estar em viagem, busquei nas palavras algum remédio que buscasse o entendimento desta tragédia. Por isso pergunto: "O que matou esse jovem de menos de vinte anos? O que lhe roubou o futuro?". Pelo o que li e vi na TV, a impunidade integra ,de novo, o elenco da barbárie. Policiais que estavam no local, ao que parece, foram outra vez coniventes com quem desrespeita a lei que representam. Não conheço os assassinos de Rafael e nem quero aqui ser leviana, mas toda hora vejo uma legião de famílias que não prioriza o amor pelo seu semelhante no conteúdo educacional dos seus filhos. Não é só para bandido que a vida não vale nada. Não. Ela também não vale para o menino que, com o carro que talvez nem possa manter, dá cavalo de pau em um túnel fechado cuja placa de interdição ele não aceita. Há jovens criados com a perversa ilusão de que tudo podem e que diante de seu poder e dinheiro não existem porta fechada, respeito, lei. Desde quando mataram o índio em Brasília que me caiu essa ficha:Alguém dentro de casa ensinou, através de palavras ou ações, a esses meninos infratores da classe média e da alta, que a vida não vale nada. Esse assunto tem raízes mais profundas e nos leva a questionar como estamos educando nossos filhos. Gente ou monstro? Precisamos saber se estamos educando nossos filhos dentro da cultura da paz e afinados com os Direitos Humanos. Nesse sentido entendo que violência no futebol, na escola, pegas de carros, e outras agressões no trânsito, o recorde de vendas de armas de fogo que o Brasil atingiu nos últimos anos, excesso de vaidades anabolizantes, a corrida louca pelo dinheiro e outros sórdidos sensos comuns integram para mim a cultura da guerra. Hoje, mesmo com casamento gay, preconceitos ainda destilam suas variadas conseqüências em nosso mundo contemporâneo que ainda mata mulher por "amor". Então que evolução é essa? A que nos convoca esse novo tempo? Por isto e para isso escrevo, meus senhores, para que não fiquem impunes os cúmplices desse crime por atropelamento, para que os pais parem de uma vez por todas de armar seus filhos por fora oferecendo-lhes carrões, cartões de crédito sem limite, nenhum juízo, e passem a amá-los por dentro mostrando todos os valores que o dinheiro e o poder não compram, mas que podem salvar uma vida. Cissa, meu amor, quem me dera essas palavras pudessem restituir o tecido rasgado do seu peito nessa hora. Quisera poder adormecer seu coração, anestesiar o seu olhar sobretudo o que recordará a partida do seu fruto. Não posso. Só sei que o tempo fará com que, o que hoje é ausência, vire presença luminosa e eterna na sua memória e que você, o Raul e seus outros filhos construam com valentia e calma essa sublimação. Nem a morte apaga o que o amor construiu, isso eu sei. Termino essa crônica com o verso do tal poema que aqui está a serviço de seu coração generoso : "choram Meus filhos pela casa, eu sou a recessiva bússola, a cegonha, a garça, com o único presente na mão: saber que o amor só é amor quando é troca e a troca só tem graça quando é de graça."
Beijos, sua Elisa Lucinda.
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