Não sou uma pessoa culta e acho que nunca serei. Não é essa a minha intenção na vida. Mas aprecio a beleza da vida, a beleza natural das coisas e a beleza transformada pelas mãos habilidosas de determinadas criaturas. É esse, em minha diletante opinião, o caso da Tarsila do Amaral. As imagens que posto aqui, são algumas que vi na exposição (24/02/2012).
Tarsila nasceu na cidade de Capivari (SP), em 1º de setembro de 1886 e morreu em janeiro de 1973, aos 86 anos de idade. Tarsila nasceu em berço de ouro sim, no entanto, não se negou ao trabalho árduo quando perdeu quase tudo na Crise de 1929. Segundo Bel. José Roberto Guedes de Oliveira, ela foi à Paris para vender o único bem que lhe restou após a crise. Sem dinheiro, nesta cidade, começa a procurar emprego e, "Andando uns dias pelas ruas viu numa construção a placa 'Precisa-se de
pintor'. Entrou e foi admitida entre os pintores – todos homens – que lhe
ensinaram o ofício. Com alguns dias, pediram-lhe os documentos para
contratá-la, mas o dono da construção era o arquiteto Adrian Claude, que ao ver
o seu nome mandou chamá-la. Ficou muito chocado de ver Tarsila fazendo aquele
trabalho, convidando-a para decorar o seu apartamento. Tarsila desenhou nas
paredes a baia de Guanabara em sépia. Ganhou dinheiro bastante para voltar ao
Brasil e ficar algum tempo com folga."
Foi uma profissional apaixonada por seu ofício. O que terá acontecido com essa mulher para que ela mudasse seu estilo, ou poderia dizer a sua repetição mimética da tradição. Será que enjoou, que cansou de sempre ver a mesma coisa em todas as obras em Paris. Terá sido o tédio de ver a variação da mesma coisa que a fez olhar para seu interior e sentir saudades de nossas cores vibrantes, vivas e isso a impulsionou a assumir um estilo próprio, diferente de todas as recomendações e sugestões de seus antigos mestres.
Academia nº 4 - 1922 (antes do Movimento do Modernismo) |
Abaporu, 1928 (depois do Movimento Modernismo |
O "Abaporu", de 1928, foi um presente de Tarsila a Oswald de Andrade, seu marido. Em depoimento sobre esta monumental obra, de conhecimento universal, Tarsila explica: "Fiz este quadro para dar de presente ao Oswald, no seu aniversário. Aproveitei que ele não estava em casa e fiz aquela coisa monstruosa, aqueles pés enormes. Oswald levou um susto e telefonou para Raul Bopp, pedindo para vir correndo. Procurei um dicionário tupi – sempre gostei de ler dicionários – o que era aba: "homem". Na última página achei uma coisa diferente: poru: gente que come carne humana. Então ficou "Abaporu", "homem que come carne humana". (http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=186&rv=Literatura)
Na âmbito pessoal, casou-se quatro vezes. Viveu a vida da melhor forma que foi possível.Teve seus disabores amorosos com a traição de Oswald de Andrade com Pagu e tristezas profundas pela morte da única filha Dulce e a trágica morte de sua neta Beatriz, que ao tentar salvar a amiga que se afogava na piscina, acabou se afogando também.
Beatriz, 1940 |
No quadro composição (figura só), talvez seja um reflexo da dor de ter sido trocada por outra e da solidão terrível que a abateu pela separação de Oswald. Nesta pintura podemos inferir um quê de melancolia, de tristeza e saudade. Uma figura só com seus cabelos esfoaçantes, uma paisagem árida e um vazio muito grande na tela. O período em que ficou casada com Oswald, foi um dos mais produtivos da artista.
Composição (figura só), 1930 |
Trabalhadores, 1938 |
Ela também retratou diferenças na esfera social, embora alguns possam dizer que ela apenas retratou, não se envolveu na questão propriamente. Muitos estudiosos também afirmam essa mesma falta de vigor em Machado de Assis. Eu digo que seria muito hipócrita da parte de Tarsila denunciar a questão social, já que toda a sua vida, foi pautada nas benesses que o dinheiro propiciava. Quanto a Machado, na condição social dele, a denuncia arraigada, provavelmente o teria eliminado do meio literário de sua época. O que muita gente faz é querer comparar um comportamento anacrônico de determinadas personalidades históricas.
A Negra |
Esta foto foi encontrada em meio as coisas de Tarsila, não é certo que seja a foto da ama de leite da artista, mas é possível que seja. Óbvio que A Negra é uma imagem afetiva de sua infância.
Segunda Classe |
Interessante essa pintura. Tarsila, acostumada a viajar em primeira classe, tão diferentes de seus retratados. Não devia ser muito agradável viajar nesses vagões ou ela interpretou a partir de uma comparação?
Morro da favela, 1945 |
Gostei muito da visita guiada, porque a guia, quase sempre, nos dá uma visão do todo da exposição. Tivemos sorte com a que nos guiou, super extrovertida e fazia com que o público interagisse com o que estava exposto, além de situar a obra à vida da autora. Como por exemplo a pequena reflexão sobre o convívio na favela e nos grandes centros urbano, nas obras Morro da favela e E.F.C.B (1924). Uma visitante falou algo curioso sobre a convivência social. Muito embora, alguns possam achar ingenuidade por causa da violência. Mas eu confirmo, porque sou testemunha ocular e "auditiva" (rsrsr). Num morro, favela ou o que agora denominamos comunidade, existe uma certa construção coletiva sim. Conhecemos os vizinhos pelos nomes ou os nomes de seus pais. Até a figura da fofoqueira foi lembrada. Figura que sabe todas as "notícias" locais e se encarrega de informar a todos. Lembrei, nesse ponto, de Walter Benjamin por lamentar o desaparecimento da narrativa oral. Ora, quem mais exerce essa função do que ninguém menos que a fofoqueira. rsrsrs
E.F.C.B. (Estrada de Ferro Central do Brasil) - 1924 |
Por outro lado, nos grandes centros urbanos, apesar dos grandes ajuntamentos humanos, a convivência social é baseada num distanciamento completo. Uma pessoa pode morrer sozinha dentro de um apartamento e sua presença só ser notada quando o estado de putrefação se fizer insuportável aos vizinhos de porta. Só então, é que se aciona os bombeiros ou a polícia. Quase ninguém sabe o nome de seu vizinho. São uns completos estranhos.
Manacá, 1927 |
Também é chamada de Quaresmeira |
Agora falo sobre a tela Manacá, que é uma árvore de 8 a 15m de altura e que eu não conhecia. Só conheço o Grupo Manacá, que por sinal é maravilhoso. Disponibilizo tanto a imagem como o som em homenagem a essa pequena árvore.
O Grupo Manacá, a voz e as letras das músicas desse grupo são maravilhosas, tão suaves como as cores presentes nas flores da árvore.
Grupo Manacá no programa Altas Horas
Aproveitando um pouco as cinza do Carnaval do Rio de Janeiro, a guia nos brindou com o samba "Meu lugar" de Arlindo Cruz. Explicou que o quadro Carnaval em Madureira, foi pintado por conta da ida de Tarsila à Madureira com alguns amigos franceses.
Carnaval em Madureira, 1924 |
Um gostinho do samba Meu Lugar de Arlindo Cruz. E aqui termino meu relato da visita que fiz a Exposição de Tarsila do Amaral, no CCBB. Não posso deixar de lembrar da carta exposta, que a artista escreve para a mãe. Um toque da intimidade da relação que ela mantinha com a figura materna.
O meu lugar,
é caminho de Ogum e Iansã,
lá tem samba até de manhã,
uma ginga em cada andar.
O meu lugar,
é cercado de luta e suor,
esperança num mundo melhor,
e cerveja pra comemorar.
O meu lugar,
tem seus mitos e seres de luz,
é bem perto de Oswaldo Cruz,
Cascadura, Vaz Lobo, Irajá.
O meu lugar,
é sorriso é paz e prazer,
o seu nome é doce dizer,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
O meu lugar,
é caminho de Ogum e Iansã,
lá tem samba até de manhã,
uma ginga em cada andar.
O meu lugar,
é cercado de luta e suor,
esperança num mundo melhor,
e cerveja pra comemorar.
O meu lugar,
tem seus mitos e seres de luz,
é bem perto de Oswaldo Cruz,
Cascadura, Vaz Lobo, Irajá.
O meu lugar,
é sorriso é paz e prazer,
o seu nome é doce dizer,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
Ah que lugar,
a saudade me faz relembrar,
os amores que eu tive por lá,
é difícil esquecer.
Doce lugar,
que é eterno no meu coração,
e aos poetas traz inspiração,
pra cantar e escrever.
Ai meu lugar,
quem não viu Tia Eulália dançar,
Vó Maria o terreiro benzer,
e ainda tem jongo à luz do luar.
Ah que lugar,
tem mil coisas pra a gente dizer,
o difícil é saber terminar,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
Em cada esquina um pagode um bar,
em Madureira.
Império e Portela também são de lá,
Em Madureira.
E no Mercadão você pode comprar,
por uma pechincha você vai levar,
um dengo, um sonho pra quem sonhar,.
Em madureira.
e quem se habilita até pode chegar,
tem jogo de ronda, caipira e bilhar,
buraco, sueca pro tempo passar,
Em madureira.
E uma fézinha até posso fazer,
no grupo dezena, centena e milhar,
pelos setes lados eu vou te cercar,
Em madureira.
Lalalaialalaialalaia, em madureira
Lalalaialalaialalaia, em madureira
é caminho de Ogum e Iansã,
lá tem samba até de manhã,
uma ginga em cada andar.
O meu lugar,
é cercado de luta e suor,
esperança num mundo melhor,
e cerveja pra comemorar.
O meu lugar,
tem seus mitos e seres de luz,
é bem perto de Oswaldo Cruz,
Cascadura, Vaz Lobo, Irajá.
O meu lugar,
é sorriso é paz e prazer,
o seu nome é doce dizer,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
O meu lugar,
é caminho de Ogum e Iansã,
lá tem samba até de manhã,
uma ginga em cada andar.
O meu lugar,
é cercado de luta e suor,
esperança num mundo melhor,
e cerveja pra comemorar.
O meu lugar,
tem seus mitos e seres de luz,
é bem perto de Oswaldo Cruz,
Cascadura, Vaz Lobo, Irajá.
O meu lugar,
é sorriso é paz e prazer,
o seu nome é doce dizer,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
Ah que lugar,
a saudade me faz relembrar,
os amores que eu tive por lá,
é difícil esquecer.
Doce lugar,
que é eterno no meu coração,
e aos poetas traz inspiração,
pra cantar e escrever.
Ai meu lugar,
quem não viu Tia Eulália dançar,
Vó Maria o terreiro benzer,
e ainda tem jongo à luz do luar.
Ah que lugar,
tem mil coisas pra a gente dizer,
o difícil é saber terminar,
Madureira, lá, laiá.
Madureira, lá, laiá.
Em cada esquina um pagode um bar,
em Madureira.
Império e Portela também são de lá,
Em Madureira.
E no Mercadão você pode comprar,
por uma pechincha você vai levar,
um dengo, um sonho pra quem sonhar,.
Em madureira.
e quem se habilita até pode chegar,
tem jogo de ronda, caipira e bilhar,
buraco, sueca pro tempo passar,
Em madureira.
E uma fézinha até posso fazer,
no grupo dezena, centena e milhar,
pelos setes lados eu vou te cercar,
Em madureira.
Lalalaialalaialalaia, em madureira
Lalalaialalaialalaia, em madureira