Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

sábado, 3 de novembro de 2012

Identidade e Movimento Poliédricos



Dentre bilhões de adjetivos, escolho o poliédrico para dar significado a minha visão das belas formas que se ofertam no Identidade Cultural e Movimento Culturista. É sempre um prazer ir ao evento. Não sou uma neófila compulsiva, mas sou viciada no novo que os participantes trazem em suas bagagens. Gosto desse movimento meio que mambembe e de improvisação. Para mim é isso que dá todo o vigor a arte. Impulsos que se manifestam naquele exato momento. Sabe porque digo isso? Vejamos, quando vejo um Márcio Bragança, uma Mel ou a filha da Bia Rustan que sentam naquela caixa acústica (gente, perdão, mas não sei o nome desse instrumento) e nela marcam o rítmo da brincadeira, (séria e lúdica ao mesmo tempo) qual crianças que sentem o mais genuíno prazer no que estão fazendo. Gosto de ser penetrada pelos versos e acordes do Identidade. Como posso eu também não gozar de tal momento. Outro coisa que faz do Identidade ser um movimento em construção é o envolvimento de pessoas desde o início como é o caso de Carlos Orfeu que distribuia panfletos na rua para divulgar esse intento artístico e que fez uma bela homenagem ao Naldo Velho.

Hoje não seguirei uma sequência quase exata rsrsr, logo porque já faz algum tempo e realmente não tenho uma memória privilegiada. Dependo em muito de meu caderninho em que anoto frações do que é dito e também estou meio, como um colega da tchurma disse, em manutenção (adorei essa expressão). Bem, começamos com o mote musical "Vinícius de Moraes" com o Marcio. Em sequência, a Wanda Monteiro nos deu uma visão da fronteira entre a língua e a linguagem. Segundo a escritora, a primeira dá a forma que traduz o que é e, a segunda, é a substância que molda o que pode ser. Na terceira capa do livro de Naldo Velho que foi lançado no evento, Wanda descreve a obra do poeta "Sua lavra cumpre o propósito da poesia, que é o de revelar novas significâncias aos entes e as coisa do mundo", ou seja, um "Nadavelho" em constante construção de neologismos semânticos (liga não, adoro as redundâncias. Como são intensamente saborosas, de lamber os beiços rsrs). 

Em seguida, houve uma sucessão de participantes que desfiaram versos do "rosário" de Naldo. Repetimos nós, os espectadores, um amém a cada poema lido. Foi aí que me perdi na cronologia. Transcendi e perdi o fio da meada. Espero que não fiquem bravos comigo. Foi uma sucessão vertiginosa entre poemas e músicas. Muito bom perder o rumo desse jeito. Quem precisa de retidão quando gestamos tantos embriões in loco?

"O céu está morto e a pedra mais viva que ele" - Não sei o porquê de ter anotado esse verso que Wanda declamou, mas que é lindo é (aliás, proponho que quem participou do evento possa preencher as lacunas do esquecido por mim). Lembrei da pedra de Drummond que tanto pano pra manga deu, pura polissemia. Adoooooro! É chato se ter apenas um lado chapado, nem dá margem a ser 3D. Wanda ainda fez brotar outros excertos dos poemas "É tempo" e "Liturgia da palavra" de Naldo que nos dá uma noção de seu belo trabalho. Poemas que "gostam de andar do lado errado da estrada ou caminhar em silêncio.

Naldo Velho preencheu parte de minha existência com esses versos: "lamber madrugadas" e "não me peçam poemas mansos, só sei caminhar aos tancos e barrancos. Sua dedicatória para mim, mostra o quão humano é a função do poeta "Poesia é ato de coragem/é dizer diferente/aquilo que todo mundo sente". Não li o livro ainda, apenas folheei e nessa ação dei de cara com o poema "Gente Enluarada" que tem a mania de desentranhar coisas do seu e de muitos umbigos. Essas pessoas conseguem sobreviver à ruina e constrói a cada dia um sonho. O autor se autodenomina como não sendo um poetas e sim, um exorcista e buscador de amplitudes. Digam, essas palavras dele não fazem doer a alma de tão boas que são?

Eis mais uma lacunar anotação. É sobre a música (não me lembro qual). É uma música que se deve ouvir ao abrir a janela todos os dias, deixar que o sol aqueça o corpo e os versos a alma. A Mel falou que "já bebi caminhos de puro desassossego".

Agora um ponto de quentura corporal foi o estilo repentista de Janaína Cunha e Wanda Monteiro com poemas que enlaçam o corpo e ascendem a um patamar nada casto, mas extremamente divino. Adorei a disputa poética, que por tabela, atingiu um rosto que rapidamente se enrubesceu, mas morro e não digo quem foi, kkkkk. Sabe que me passou pela cabeça que gostaria de ler um poema intitulado "Palavras desavergonhadas" (alguém se habilita? é só uma sugestão). A Érica, solícita, logo aparece com seu "Terapia" trazendo uma rima toda prosa que escorregou na corda bamba. Além disso, trouxe paliativos como poemas aromáticos com odor de cedro, cerejeira e ipê. Contudo, não fugindo ao momento de inquietude, anotei esse verso: "se poesia fosse prostituta seria infeliz, mas venderia". Ananita declara que Jorge, o amado, era maior que sua carne". Depois Marcio e Wanda me faz recordar com saudades profundas a Elis. O sambinha que alegrou meu corpo e sacudiu a alma e nos incita a vivermos de amor. Para que de dia ela (e) lave roupa e de noite me beija a boca (sorry, não sei de quem é).

A dupla Joilson e Ingrid foi maravilhoso. Ingrid sacode os versos de Joilson que saracoteiam entre as mesas, quase peguei alguns, mas os deixei ir, versos são de natureza livres e quando vem até nós, eles são revestidos por nossas interpretações (como bem disse Janaína) e partem para outros portos onde serão novamente reinterpretados. Mel contribuiu com seu característico vigor que faz tremer o coração quando pega aquela caixa. Uma alternância perfeita entre música e poesia. Lá fiquei a ver o desfile de ambas. Em seguida tivemos a Alessandra Moraes que ama "todas as formas de vidas" e nos faz ver que "todos temos uma casa abandonada" onde os fantasmas nos olham. Eu digo que amo a forma de viver poeticamente dos poetas. Hélio Sória canta os Beatles e foi uma festa danada. Mel e Bia Rustan entram numa Bifurcação e afirmam que "hoje [sabem] que [seus] passos certos são os mais incertos" e que "nosso amor é miragem e areia no deserto". Uns atravessam e outros escorrem pelas mãos.

Por último, falo do projeto "Trilha sonora para livros". Achei a ideia muito inovadora. Sempre temos trilhas para filmes, mas nunca havia pensado numa música que me remetesse a um livro. Adorei a ideia do leitor ser embalado com a voz da garota que é muito bonita. Da performance do Don Juan que queria ir embora para a casa poesia e ficar entre o silêncio e a mudez. Por fim, cito a poesia mística que respeita "o universo por me fornecer tudo isso". Cara, a garota tem uma memória que me deu uma inveja tenebrosa. O poema dura em média, pelo que ela falou para a Janaína, uns 15 minutos. Mas acho que ela precisa trabalhar melhor o modo como deve apresentá-lo (precisa de tempo e vagar. É um poema-livro, algo meio que biográfico, não sei ao certo, pois o tempo era curto e não foi possível ela apresentar tudo). Mas fiquei impressionada, me fez lembrar um ator portugues, António Fonseca, que apresentou "Os Lusíadas" de cor. Um feito pra mim, por isso dediquei-lhe um post http://omundomentaldemaria.blogspot.com.br/2012/06/apresentacao-teatral-de-os-lusiadas-de.html (para quem quiser saber um pouco mais).

Bem, é isso. Até breve!

2 comentários:


  1. Ah, Helene Camille que lindo texto
    onde descreve belos momentos daquela tarde
    que passou e foi tão linda.
    Adoro profundamente ler suas palavras aquarelando momentos, acontecimentos etc, etc, etc...
    Um forte abração Hele Camille

    Carlos Orfeu

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  2. Sempre é lindo. São voces que fazem com que o dia tenha valido a pena. Faltou um pedaço, o pedaço de Valença, pois senti falta da Juliana Guida e do Carlos Brunno. É sempre um prazer compartilhar momentos com o Identidade.

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