Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

"Diário de uma perereca depilada" ontem às 16:02


Bem, é um conto longo, sobretudo, divertidíssimo, infelizmente não sou a autora, não sou tão boa quanto quem o escreveu. Recomendo a leitura a todo o gênero, sem distinção que queiram vislumbrar um tico do mundo feminino visto de uma perspectiva realista e sonhadora ao mesmo tempo. Às mulheres pudicas, não fiquem constrangidas com as palavras “menos reguladas pela norma culta da língua e pela moral hipócrita”


perspectiva sonhadora porque é por nós e pelos parceiros que nos submetemos ao “sacrifício”, é por eles que nos submetemos só para ver seus olhos brilharem de desejo ao nos ver e nos sentir em nossa intimidade mais externamente íntima [é redundante eu sei], esse é o nosso objetivo: a redundância dos prazeres advindos desse ato nosso de cada 7, 15 ou 30 dias.


Advirto que a minha história com esse texto é incompleta. Mas, pela repercussão que ele teve junto a meus amigos e amigas em outro site de relacionamento, decidi compartilhar com os meus amigos da netlog também. Na verdade, encontrei o texto numa dessas minhas incursões aos blogs alheios desse site. O fato é que houve uma enxurrada de pedidos para saber o nome do autor ou autora do texto, infelizmente não descobri, visitei o blog da moça que disponibilizou esse texto e não é ela a autora. Ela me respondeu que recebeu de uma amiga que também não é a autora e também não sabe quem é e que recebeu via e-mail. Coisas da internet, enfim, a história do telefone sem fio.


Peço que se alguém souber de quem é o texto, me informe para dar o crédito devido ao autora (o), pois adoraria saber e ver se tem textos tão bons quanto esse. Mas deixemos de lero lero e vamos a essa jóia feminina. Foi exatamente assim que copiei do blog.

Versão brasileira de algo que todas as mulheres sofrem


Diário de uma perereca depilada


"Tenta sim. Vai ficar lindo."
Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve, mas acho que pentelho não pesa tanto assim.
Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa.
Eu imaginava que ia doer porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria.
Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.
- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.
- Cavada mesmo.
- Amanhã, às.... Deixa eu ver...13h?
- Ok. Marcado.
Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui.
Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal.
Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.
Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas.


Uma mistura de Calígula com O Albergue.
Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- Querida, pode deitar.
Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca.


Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura.
Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça.
Meu Deus, era O Albergue mesmo.


De repente, ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.
- Quer bem cavada?
- É... é, isso.
Penélope, então, deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.
- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco, senão vai doer mais ainda.
- Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia p-o-r-r-a nenhuma do que ela fazia. Mas confiei.
De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).
- Pode abrir as pernas.
- Assim?
- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.
- Ar-re-ga-nha-da, né?
Ela riu. Que situação.
E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem.
Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.


Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca.
Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto.


Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu.
Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.


- Tudo ótimo. E você?


Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.


O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer.
Todas recomendam a todas porque se cansam de sofrer sozinhas.
- Quer que tire dos lábios?
- Não, eu quero só virilha, bigode não.
- Não, querida, os lábios dela aqui ó.
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios? Putz, que idéia.
Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.
- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.
- Olha, tá ficando linda essa depilação. Menina, mas tá cheio de encravado aqui.
Olha de perto.
Se tivesse sobrado algum pen-te-lhi-nho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali.
Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. "Me leva daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei à terra quando entre uns blá-blá-blás ouvi a palavra pinça.
- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.
Estava enganada.
Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.
Pior não podia ficar. Obedeci a Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
- Segura sua bunda aqui?
- Hein?
- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o "olho que nada vê". Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, pei-dar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:
- Tudo bem, Pê?
- Sim... sonhei de novo com o c-u de uma cliente.
Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks.
Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação.
Sei que ela deve ver mil c-us por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bun-da tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha mais pra contar a história. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xin-ga-men-tos, preces, tudo junto.
- Vira agora do outro lado.
Por-ra.. Por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem?
Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope.
E agora a vizinha inconveniente.
- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.
- Máquina de quê?!
- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.
- Dói?
- Dói nada.
- Tá, passa essa me-rda...
- Baixa a calcinha, por favor.
Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção.
Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.
- Prontinha. Posso passar um talco?
- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.
- Tá linda! Pode namorar muito agora.
Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança.
Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada e matar o primeiro homem que ver e não comentar absolutamente nada.!!! Não fiz nada disso... Um mês depois...
- Normal ou cavada?
Coisas de perereca, vai entender...

Somos mescla de Matéria e Espírito


"Mas essas lutas no mundo moderno não são outra coisa senão os anos de aprendizagem, a educação do indivíduo na realidade dada, e adquirem dessa forma o seu verdadeiro sentido. Pois o término desses anos de aprendizagem consiste em que o sujeito apara suas arestas, integra-se com seus desejos e opiniões nas relações sociais vigentes e na racionalidade destas, ingressa no encadeamento do mundo e conquista neste uma posição que lhe é adequada". (HEGEL)

Para mim, o ser humano beira as raias da perfeição, não quando evita fazer o mal, mas sim quando o encara cara a cara. Acredito que isso que denominam ser o mal, seja apenas nossas pulsões mal ajambradas, condicionadas e recalcadas dentro de nossa mente por uma questão mais moral do que natural.

Quando vamos entender que tudo em nós é “santo” e que o que nos envenena a alma é a preguiça de vivenciarmos o Bem. Distorcemos “demoniacamente / ignorantemente” as questões fisiológicas do corpo e de nossa natureza humana para termos um bode expiatório, quando não temos coragem suficiente para assumirmos nossas responsabilidades diante da vida, da sociedade, mas, essencialmente de nós mesmos.

Sim, porque nos acovardamos mais diante de nós do que dos outros? É claro que no fundo sabemos ou suspeitamos o que e quem somos. Temos medo e buscamos máscaras para nos encondermos de nos mesmos, como se isso fosse possível. A nossa consciência é um Juíza impiedosa, por isso, é preciso que nos instruamos para conhecermos nossa fisiologia tanto material quanto espiritual e agirmos com sabedoria ou pelo menos com um mínimo de bom senso diante desse espetáculo que conheço como VIDA.

sábado, 19 de novembro de 2011

CARCARÁ

Música maravilhosa! Toda vez que a ouça, minhas vísceras se contorcem querendo ter nascido carcará também. Tantos a cantaram, mas os intérpretes que mais gosto são o Chico Buarque e João do Vale e Maria Bethânia, 1965. O número fez parte do espetáculo "Opinião".

Mas o que é Carcará? Segundo dicionários, o nome é uma variante etimológica da palavra tupi “karaka’rá”. Os ornintólogos classificam como uma ave de rapina da família dos falconídeos. Contudo, toda essa explicação acadêmica, nada fala dessa ave que é um símbolo, mais que representativo da região nordestina. É uma ave reincidiva, obstinada a viver. Tem garras, bico, força, perspicácia e uma vontade férrea para manter-se viva.

No post anterior, escrevi algo para um amigo, imbuida talvez por uma associação livre do meu consciente que captou, por instantes, o que meu inconsciente deixou escapar, toda vez que ouço algumas palavras e frases que me remetem ao que eu chamo de meu barro original, O NORDESTE. Árido, seco, mas por Deus, nunca entendi o porquê da potência que essa região exerce sobre seus filhos.

O que escrevi para meu amigo foi uma resposta a algumas palavras e frases de seu poema “Louco Querer”, cuja temática é amorosa e não regional. Mas tocou em meu íntimo e manifestei-me desse modo:

“Deu-me saudade do meu torrão natal, tão seco e tão árido. Respirei por longo tempo no lodo dos leitos dos rios intermitentes, assim como os peixes, para estar aqui, a frente do laptop a ler tão belas coisas que me levam de volta ao veio que me nutriu durante 13 anos. Ainda sinto nas veias aquele vigor de viver, viver profundamente. Obrigada, meu rosto está salgado”.

Talvez seja um chamado materno, que chora a ausência de seu filhos, pois aqueles que de suas entranhas vieram ao mundo, tem uma necessidade de voltar sempre, sempre e sempre. É uma fonte inesgotável e só ela consegue matar nossa sede. Mas por pura questão de sobrevivência e eternidade, saimos à revelia do berço e do regaço de seus braços, que protege até onde pode, mas depois, não consegue nos defender das intempéries cíclicas de sua própria natureza.

Talvez essa força advenha das vidas que sucumbiram e alimentam aquele solo. Ele está encharcado de nossos antepassados que, querendo resistir como o carcará, não perceberam que nossa natureza humana, tem nesgas racionais que nos impedem de “pegaR, mataR e comeR!”, pois isso não seria um ato isolado, mas o cotidiano, a via de regra.

Contudo, esse é um mantra gravado em nosso DNA. Respondemos a ele toda vez que necessitamos sobreviver, nos defender. Há um quê de irracional em todo ser humano, não somos os únicos, é verdade, Mas a natureza nordestina é forte, resistente. Para nos derrubar, é preciso ser mais forte, muito mais forte. Assimilamos muito rapidamente o que não podemos vencer, desse modo, é como se nos vacinássemos, e contivessemos dentro de nós, um antídoto para esse perigo latente e iminente de nossa aniquilação. Antes tê-lo junto do que longe. Numa simbiose que cura e mata simultaneamente.

http://www.youtube.com/watch?v=NZbxncygOPQ - Maria Bethânia
http://www.youtube.com/watch?v=4L0DInKUnzc - Chico Buarque e João do Vale

Carcará!
Lá no sertão...
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará....
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando
Carcará...
Vai fazer sua caçada
Carcará...
Come inté cobra queimada
Mas quando chega o tempo da invernada
No sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa no bico inté matá
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come
Carcará!
"Em 1950 mais de dois milhões de nordestinos viviam fora dos seus estados natais. 10% da população do Ceará emigrou. 13% do Piauí! 15% da Bahia!! 17% de Alagoas!!!"
(Carcará...)
Pega, mata e come
Carcará!
Num vai morrer de fome
Carcará!
Mais coragem do que homem
Carcará!
Pega, mata e come!!!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Eternidade Efêmera do Amor

Ontem li num post de M J S Barroso um texto de Arnaldo Jabor em que ele fala sobre os relacionamentos. Concordo com ele plenamente. Quem quiser ler o texto na íntegra pode acessar o link http://pensador.uol.com.br/comeco_de_namoro/. Neste outro link http://pensador.uol.com.br/autor/arnaldo_jabor... . Tem coisas ótimas do Jabor, mas não está bem organizado.

Ele começa dizendo que "Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. ". Vinícius de Morais ratifica afirmando num soneto "que seja eterno enquanto dure". Raul Seixas endossa dizendo "hoje eu sei que ninguém nesse mundo É feliz tendo amado uma vez...". Ora vivemos encharcados de esteriótipos e conceitos utópicos que não condiz com nossa realidade. Nos deixamos levar pelo que os outros dizem ser verdade, nunca buscamos a nossa “verdade” que pode ser agora e que pode não durar por toda a nossa vida. Nos colocamos sempre como refém do que se diz ou que a sociedade tenha ditado como regra.

Amo um poema intitulado “AMAR” de Florbela Espanca que não põe limites a seu amor, que se doa, que se entrega ao que eu poderia chamar de amor essencial e não particular, mas que dá margem a uma querela entre o que seja universal e particular, pois quando ela diz “E não amar ninguém” já fico esvaziada, pois o amor a dois é completamente singular. Mas diante de minha realidade, como negar que “quem disser que se pode amar alguém / durante a vida inteira é porque mente!”.

Eis o poema na íntegra:

“Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!

Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...”

(In: Obras Completas de Florbela Espanca, vol II, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 3ª ed. 1987)

Filme "A Pele que Habito"

Filme de Pedro Almodóvar, em exibição. Estrelado por Antonio Banderas, Elena anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, entre outros.


Sinopse

Roberto Ledgard (Antonio Banderas) é um conceituado cirurgião plástico, que vive com a filha Norma (Bianca Suárez). Ela possui problemas psicológicos causados pela morte da mãe, que teve o corpo inteiramente queimado após um acidente de carro e, ao ver sua imagem refletida na janela, se suicidou. O médico de Norma acredita que esteja na hora dela tentar a socialização com outras pessoas e, com isso, incentiva que Roberto a leve para sair. Pai e filha vão juntos a um casamento, onde ela conhece Vicente (Jan Cornet). Eles vão até o jardim da mansão, onde Vicente a estupra. A situação gera um grande trauma em Norma, que passa a acreditar que seu pai a violentou, já que foi ele quem a encontrou desacordada. A partir de então Roberto elabora um plano para se vingar do estuprador.

Primeiro quero dizer que detesto ver o filme legendado, pois não me deixa tempo para observar o todo do filme. No caso de Amodóvar é mais complicado ainda. Ele explora todos os planos com cores, espaços ampliados e, com o raio da legenda, não consigo prestar atenção aos detalhes que são da maior importância, em se tratando desse esteta.

Segundo, quero dizer que discordo em alguns aspectos dessa sinopse, por exemplo, a questão do estupro. Deixei porque a situação sugere isso. Mas as coisas não se dão exatamente assim. Não falo mais, senão vai perder a graça.

Minha opinião é que o filme centra um gênero de terror. Mas um terror diferente do que comumente aparece. As cenas se apresentam com uma assepsia hospitalar (não no sentido de bactéria, mas no sentido da quase ausência de sangue). O nível de violência é tão intenso que chega a ser inclassificável. Logo pensei em Walter Benjamin, o filósofo alemão, que se interessou pela questão do mutismo dos soldados que haviam voltado da guerra. O grau de terror, diante do vivido naquela situação, não é contemplado no plano da linguagem ou da compreensão racional do homem de modo geral, daí o mutismo que nada diz, mas que tudo diz ao mesmo tempo. O não expressado é denso, é tenso, beira o absurdo, a loucura na sua mais alta patologia, que, no entanto, é possível nos colocarmos no lugar do vilão e termos por ele pena ou até mesmo uma certa empatia.

A cena do aprisionamento, me fez lembrar do Mito da Caverna de Platão, em que o homem encontra-se acorrentado e circunscrito a um lugar que não conhece o que tem a sua volta. Só que ao invés de ele se preparar para conhecer a realidade do mundo externo, terá que desvelar dentro de si, um recôndito onde sua alma possa sobreviver.

Na cena final, existe um contraste entre o mundo material e o mundo humano impressionante. Ao passo que o mundo material é pujante, a expressão das personagens revela-se abatida, numa apatia visível em suas faces. É como se a vida dessas pessoas estivesse por um fio, e este fio se equilibra na tensão entre está se mantendo vivo fisicamente e estar quase que completamente morto internamente.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Por que a Sexualidade da Mulher tem de ser Escamoteada?



Desde que o mundo é mundo, a questão do corpo e da alma se impõe. Ao longo de todos esses séculos, a sexualidade passou por diversas interpretações e, ao que parece, a que mais permaneceu foi a de que o corpo é traiçoeiro e a alma deve ser pura, imaculada. Hoje, as coisas mudaram bastante, mas ainda persiste determinado julgamento moralista e preconceituoso. Por exemplo, o "deslize" do homem é sempre considerado e respaldado na clássica frase "a carne é fraca", no entanto, quando esse mesmo delize é dado por uma mulher, ela é taxativamente tida como "puta ou prostituta".Ora essa conotação passa por um cunho ou critério machista que nos oprimi e denigre nossa condição de mulher. Mas o pior é muitas mulheres compartilham dessa mesma opinião. O fato é que tanto homens como mulheres devem encarar a sexualidade como um componente integrante da nossa condição humana e que ambos generos ainda não sabem reconhecer que o problema não se encontra na matéria e sim em nosso pensamento que usa a matéria como subterfúgio para satisfazer nossos desejos confusos e não assumir de frente a responsabilidade de nossas escolhas e tudo o que ela acarreta.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

“(...) minha inabilidade ante teu infindo contexto (...)


Sempre fui fascinada por Literatura, em especial, pela Poesia. O que mais me extasia é a combinação das palavras. Essa é a fonte de tudo. Drummond em seu poema “procura da poesia” também se pergunta sobre essa questão e afirma onde podemos encontrar a poesia no reino das palavras:

“(...)Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...)”

Não se sabe como a combinação das palavras se efetua. Ela tem vida própria. É arisca, não se verga a qualquer um. Ela sabe que é querida, que é esperada, mas ela só se doa a poucos, a poucos mesmo. Diria que esse encontro só se compara ao encontro de duas almas. E isso se dá no ambito do imponderável, do incomensurável, do mísitico, do inaudito, do indizível. Desse encontro, nada se pode dizer, não há o que dizer.

Ao longo de minha vida, busco esses poucos privilegiados quer sejam célebre quer seja amigos, conhecidos, busco em todos os lugares que tenho acesso. Classifico-me como uma olheira poética, a serviço de mim mesma. Busco a beleza dos versos para mim. Cada indivíduo tem um contexto de vida que difere do meu, isso produz nele um olhar e um sentir diferente, contudo, eventualmente, pode coincidir com o meu gosto.

O mundo virtual está sendo um campo muito fértil para minha labuta e, por incrível que pareça, encontrei num site de relacionamento, cuja fama não é das melhores, um desses privilegiados. Ainda bem que não sigo legiões, sigo meus instintos, meu coração e minha alma, que vezes sem conta, me deixam mais confusa do que equilibrada, diga-se de passagem. Mas o fato é que encontrei um desses escolhidos da poesia. Abaixo destaco um verso do poema de Leilson Leão, intitulado “Poema e Poeta Vazio”

“(...) minha inabilidade ante teu infindo contexto (...)” --> Leilson Leão

Não sei o que passou na cabeça do poeta nessa hora, mas eu sei exatamente o que enterliguei automaticamente quando li esse verso. Talvez ele tenha me permitido traduzir um sentimento que antes estava velado no encontro de minha alma com outra alma.

Leilson, recorro ao nosso poeta Drummond, para que me defenda, pois este afirmava que um poema só é do poeta antes de ele o publicar, depois que isso ocorre, é de todos. E peço que me perdoe se fui leviana em usar teu verso com fins egoísticos. Pois como não tenho talento como tu, me apropriei de tua obra para expressar algo que não conseguia dizer com minhas reles palavras.

http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema02... (aqui encontramos o poema “Procura da Poesia” recitado pelo próprio Drummond).

www.recantodasletras.com.br/autores/leilson e http://pt.netlog.com/leilsonleao/blog/blogid=22...- (Nesses dois links encontramos disponível “O poema e o Poeta Vazio” do poeta Leilson Leão)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vicky Cristina Barcelona

Wood Allen - O SALVADOR do dia dos mortos

Filme Vicky Cristina Barcelona de Wood Allen, de 2008.

Só mesmo Wood Allen, boa companhia e um bom vinho para salvar o meu dia, do dia dos mortos literalmente. Filme belíssimo. Atores extraordinários como Javier Bardem, Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penelope Cruz.

Vicky representa, a meus olhos, a prudência, a razão, mas ao mesmo tempo o desvelamento de coisas que normalmente escondemos embaixo do tapete, para não pensarmos nas razões que nos move na vida.

Cristina figura o impulso, a busca constante de razões para viver, nunca se contentando com o já estabelecido, a ansia de novos caminhos é seu motor imóvel.

Maria Helena é a desmedida, o descontrole completo e seu inquestionável conhecimento disso.

Juan Antonio, ah!!!!!!!!!!!!! esse é o degustador, a presença quando nos olhamos no espelho e que nos revela a ausencia de algo que denuncia a incompletude de nossas almas.

Daug ou é Doug? Não sei. É o que chamamos normalidade. É o que eu chamo de hipocrisia sociática. Ele é o GUARDIÃO dos valores que a sociedade elege como o ideal. Ele condena, mas se excita com o "anormal" de Cristina, com o que a sociedade censura. Não é isso o que todos fazemos?

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Niver de Carlos Drummond de Andrade

Com o corre corre do dia de ontem (31/10/2011), acabei esquecendo de dar meus parabéns para o meu queridíssimo poeta Carlos Drummond de Andrade. Beijos meu querido, no entanto, como não precisas de presentes da matéria, deixo que sintas o prazer que minha alma goza ao ler teus poemas. Olha que só escolhi alguns versos, minha alma ainda é muito pequena pra te caber inteiro.

SENTIMENTO DO MUNDO

"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, (...) "

POEMA DE SETE FACES

(...)
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração. (...)"