Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Amós Oz e sua Caixa-Preta

A Caixa-Preta, hoje começei a ler esse livro. Muito interessante. O teor das cartas é forte. O expurgo de um amor doentio de Ilana por Alec e de Alec por Ilana. Também eu tenho uma caixa-preta que se oferece cotidianamente para mim, no intuito de que eu possa abri-la. No entanto, as personagens são diferentes. Ilana tem vantagem sobre mim, pois seu intelocutor, apesar da alma dura, sabe apreciar a escrita, o devassar de uma alma que alimentou por anos a frustração de uma relação, mas ao mesmo tempo a intensidade de tal relação.

As cartas de Ilana representam a espada enviada ao cavaleiro para sua salvação. Contudo, Ilana é a espada com fio duplo que rasga Alec a todo momento. Ela também é a perdição dele. A relação dos dois é morte certa para ambos. Sabe-se que ela era uma mulher adúltera, mas o que será que houve por trás desses adultérios? O que lhe faltava, amor, dinheiro (acho que nao era nenhum desses casos). O que era então?

Saboreiem uns trechinhos:

"O tempo está passando Alec, e nós dois estamos murchando. (...) E outra coisa: você me escreveu que as mentiras e as contradições da minha carta despertaram em você um silêncio de desprezo. O seu silêncio, Alec, e também o seu desprezo, me causaram um medo repentino. Será que você realmente não encontrou em todos estes anos, em todas as suas viagens, alguém que pudesse lhe oferecer uma mísera migalha de afeto? Lamento por você, Alec. Que coisa terrível: eu sou a única que agiu errado, e você e seu filho pagam toda a crueldade do castigo. Se você quiser, apague 'seu filho' e escreva Boaz. Se você quiser, apague tudo. No que se refere a mim, não hesite, faça tudo que puder aliviar seu sofrimento." (p.18-19)

"Estou sentada na escrivaninha dele, escrevendo para você e com isso estou pecando contra ele e contra a nossa menina. (...) Porque você não massacra Alec: você pica. Seu veneno tênue e lento não mata de uma vez mas me destrói e acaba comigo pouco a pouco. (...) Agora cemeça a espalhar-se em seu rosto aquele sorriso predatório, aquele amargo e fascinante sorriso. Sabe, Alec, uma noite eu gostaria de vestí-lo com uma túnica preta e colocar um capuz preto na sua cabeça. Você não se arrependeria, porque essa imagem me excita muito" (...) eu quis que você me apresentasse a conta. Estou ansiosa para pagar. (...) não esqueci por um momento sequer o que você é. (...) Sabia que a única coisa que receberia de você seria um sopro gélido de silêncio mortal. No máximo uma cuspida de humilhação venenosa. Não menos, mas também não mais. Eu sabia que tudo estava perdido." (págs.45, 46, 48)

Bem, estou no início do livro, vamos ver no que ela se tornará. gosto de ver como as nossas opiniões vão se modificando a medida em que avançamos no conteúdo da narrativa. É assim também com nossas vidas. Não dá para folhear o final, apenas intuir.

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