Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Coleção


Uns colecionam coisas que lhes dão prazer, outros como eu, colecionam involuntariamente coisas que nos são nocivas, será que talvez isso nos dá prazer?

Ah! o cinismo. Grande consolo para uma eterna colecionadora de abandonos.

sábado, 19 de outubro de 2013

Homenagem a Vinícius de Moraes

VINÍCIUS DE MORAES (19/10/1913 - 09/07/1980)


Vi o documentário de Vinícius de Moraes ontem.  Impressionante a trajetória desse nosso "poetinha", que antes era chamado assim, porque muitos o consideravam um poeta menor e, hoje, nós o assim chamamos pelo afeto que sentimos por ele e sua obra. Um homem movido à paixão, se inquietava quando seu coração não batia mais nesse mesmo compasso, nesse mesmo ritmo. Foi casado nove vezes, um dado instigante de analisar. No documentário há uma indagação a esse respeito que me chamou a atenção: será que ele buscava de algum modo refutar os próprios versos "(...) que seja infinito enquanto dure" do "Soneto da fidelidade", nove tentativas talvez para provar que o amor pode ser infinito não só enquanto dure a relação, mas que a relação torne o amor infinito para além da própria duração no tempo e espaço?

Soneto da Fidelidade


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Ao longo do documentário, vários são os depoimentos de amigos que o estimaram e ainda o tem em alta conta. Isso é raro de acontecer. É claro que tudo não é cor de rosa, mas o que é? A meu ver, Vinícius foi um homem aberto às amizades. Numa dedicatória ele diz: "A Antonio Cândido, com a mão estendida para a amizade". Segundo amigos, tinha uma personalidade amorosa. A intensidade de sua alma foi como um sopro, uma grande brisa que acariciava as palavras e elas em troca gozavam de prazer e, esse prazer é tão real que até hoje ainda somos herdeiros desses gozos. Como não se comover ante "a arte não ama os covardes", de fato, o artista tem que dar a cara a tapa, se expor e por vezes até se impor. "Intimidade perfeita com o silêncio", ora quer tumulto mental maior do que quando estamos em silêncio? Ou ainda esse "quem de dentro de si não sai! Vai morrer sem amar ninguém!". Versos como esses nos impressionam pela forte carga emotiva de uma vida que se abandonava ao encontro de emoções constantes. Como não ficar com as veias em chamas ao ler no "O Mergulhador" os versos "meus lentos dedos loucos/Passeiam no teu corpo a te buscar-te a ti", vejam que os dedos buscam no corpo algo que está não só na superfície desse corpo, mas dentro dele, em suas profundezas. Tanto a falar e tão poucas ideias que se concatenam em criar um sentido, não, definitivamente não, sou apenas uma amante espectadora que nem sabe exprimir o que vê ou sente em comparação com esse extraordinário poeta.




O Mergulhador


Como, dentro do mar, libérrimos, os polvos
No líquido luar tateiam a coisa a vir
Assim, dentro do ar, meus lentos dedos loucos
Passeiam no teu corpo a te buscar-te a ti.

És a princípio doce plasma submarino
Flutuando ao sabor de súbitas correntes
Frias e quentes, substância estranha e íntima
De teor irreal e tato transparente.

Depois teu seio é a infância, duna mansa
Cheia de alísios, marco espectral do istmo
Onde, a nudez vestida só de lua branca
Eu ia mergulhar minha face já triste.

Nele soterro a mão como a cravei criança
Noutro seio de que me lembro, também pleno...
Mas não sei... o ímpeto deste é doído e espanta
O outro me dava vida, este me mete medo.

Toco uma a uma as doces glândulas em feixes
Com a sensação que tinha ao mergulhar os dedos
Na massa cintilante e convulsa de peixes
Retiradas ao mar nas grandes redes pensas.

E ponho-me a cismar… - mulher, como te expandes!
Que imensa és tu! maior que o mar, maior que a infância!
De coordenadas tais e horizontes tão grandes
Que assim imersa em amor és uma Atlântida!

Vem-me a vontade de matar em ti toda a poesia
Tenho-te em garra; olhas-me apenas; e ouço
No tato acelerar-se-me o sangue, na arritmia
Que faz meu corpo vil querer teu corpo moço.

E te amo, e te amo, e te amo, e te amo
Como o bicho feroz ama, a morder, a fêmea
Como o mar ao penhasco onde se atira insano
E onde a bramir se aplaca e a que retorna sempre.

Tenho-te e dou-me a ti válido e indissolúvel
Buscando a cada vez, entre tudo o que enerva
O imo do teu ser, o vórtice absoluto
Onde possa colher a grande flor da treva.

Amo-te os longos pés, ainda infantis e lentos
Na tua criação; amo-te as hastes tenras
Que sobem em suaves espirais adolescentes
E infinitas, de toque exato e frêmito.

Amo-te os braços juvenis que abraçam
Confiantes meu criminoso desvario
E as desveladas mãos, as mãos multiplicantes
Que em cardume acompanham o meu nadar sombrio.

Amo-te o colo pleno, onda de pluma e âmbar
Onda lenta e sozinha onde se exaure o mar
E onde é bom mergulhar até romper-me o sangue
E me afogar de amor e chorar e chorar.

Amo-te os grandes olhos sobre-humanos
Nos quais, mergulhador, sondo a escura voragem
Na ânsia de descobrir, nos mais fundos arcanos
Sob o oceano, oceanos; e além, a minha imagem.

Por isso - isso e ainda mais que a poesia não ousa
Quando depois de muito mar, de muito amor
Emergido de ti, ah, que silêncio pousa
Ah, que tristeza cai sobre o mergulhador!

Quando a atriz Camila Morgado começou a declamar "Os acrobatas" delirei, pois queria gravar um ou dois versos, mas todos eles eram tão, tão... que desisti e apenas frui cada um deles.

Os Acrobatas

Subamos! 

Subamos acima 
Subamos além, subamos 
Acima do além, subamos! 
Com a posse física dos braços 
Inelutavelmente galgaremos 
O grande mar de estrelas 
Através de milênios de luz. 
Subamos! 
Como dois atletas 
O rosto petrificado 
No pálido sorriso do esforço 
Subamos acima 
Com a posse física dos braços 
E os músculos desmesurados 
Na calma convulsa da ascensão. 
Oh, acima 
Mais longe que tudo 
Além, mais longe que acima do além! 
Como dois acrobatas 
Subamos, lentíssimos 
Lá onde o infinito 
De tão infinito 
Nem mais nome tem 
Subamos! 
Tensos 
Pela corda luminosa 
Que pende invisível 
E cujos nós são astros 
Queimando nas mãos 
Subamos à tona 
Do grande mar de estrelas 
Onde dorme a noite 
Subamos! 
Tu e eu, herméticos 
As nádegas duras 
A carótida nodosa 
Na fibra do pescoço 
Os pés agudos em ponta. 
Como no espasmo. 
E quando 
Lá, acima 
Além, mais longe que acima do além 
Adiante do véu de Betelgeuse 
Depois do país de Altair 
Sobre o cérebro de Deus 
Num último impulso 
Libertados do espírito 
Despojados da carne 
Nós nos possuiremos. 
E morreremos 
Morreremos alto, imensamente 
IMENSAMENTE ALTO.



Comemoremos com as canções "Berimbau" e "Canto de Ossanha".
http://www.youtube.com/watch?v=0JK34NqxmvU

Para quem quiser ler sobre a biografia do poeta, pode acessar o link http://anabelamotaribeiro.pt/64095.html Um blog muito bom. Gostei bastante.

Por fim, termino essa breve homenagem ao grandioso poetinha Vinícius de Moraes. Um feliz dia de Vinícius. Até breve!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A Impotência do Ser Solitário


Quando ainda estava na faculdade, a professora passou um trabalho sobre memória e elencou Walter Benjamin como teórico. Fiquei com a temática da morte e seus ritos. Bem, não vou me aprofundar nesse assunto, só o citei porque tem um pouco a ver com o que vou dizer. 

Ontem fui submetida a um procedimento cirúrgico que em geral pode significar algo que preocupa ou algo que pode te levar ao desespero. Câncer é uma palavra que ninguém quer ouvir como diagnóstico, principalmente porque a maioria de seus familiares sucumbiram a ela. O fato é que ainda terei que esperar por 45 dias até o resultado da biópsia. 

Mas retornando a Benjamin, antes os ritos desde a doença até a morte aconteciam na casa da pessoa. Hoje há um infinidade de procedimentos para prolongar a vida, mas no transcorrer deles, o doente fica em determinado momento completamente sozinho e abandonado porque os médicos e auxiliares, dizem eles, que não podem se envolver muito para não sofrer, pois seria uma carga pesada demais já que lidam com uma linha muito tênue entre vida e morte. Concordo, mas ainda assim não se resolve o problema da falta de humanização nessas horas de desespero e impotência diante da vida de um doente que ao sair numa maca do quarto, vê apenas as laterais dos corredores e pessoas a te observar com dó, pena ou indiferença e o teto com suas lâmpadas fluorescentes que te cegam, os olhares de cima e nada mais. 

O olhar daqueles que ficam no quarto tensos e ansiosos te deixam preocupada que por um instante você esquece de sua própria condição. Mas sempre há em meio a uma multidão de profissionais que olha para você como a próxima tarefa a ser cumprida para terminar seu plantão, um que te enxerga não como algo a ser resolvido, mas como um ser humano que está numa posição incômoda e desesperadamente precisando de um olhar terno. Essas pessoas são como anjos que aparecem de um momento para outro sem prévio aviso. Tive a sorte de ser olhada por um desses anjos. Estava nervosa e quase a cair no choro (sou uma manteiga derretida) quando ela aparece e começa a brincar comigo dizendo que meu nariz é lindo é claro que o choro ficou só na intenção de cair, pois meu nariz é tão pequeno que quando tiro foto de perfil ele desaparece, fiquei meio indecisa em rir e por fim dei um sorriso titubeante e ela só saiu de perto quando viu esse sorriso. Então me acalmei e fiquei a martelar na cabeça a melodia da música de Sting "Fragile" e a frase "How fragile we are" (como nós somos frágeis) http://www.youtube.com/watch?v=lB6a-iD6ZOY&list=PL0QfJdVEYqXZ2fBlhDUjvWZfh75C8mdD0&index=72, então relaxei e pensei: se essas são minha últimas imagens e pensamentos, que sejam pelo menos agradáveis. Aos que me rodeiam já havia dito o quanto são importantes para mim, quanto aos bens, são poucos e sem valor, de modo que tudo já estava bem encaminhado, até mesmo meu testamento quanto ao funeral que escrevi neste blog em forma de poesia  neste link: http://omundomentaldemaria.blogspot.com.br/2012/09/meu-testamento.html

Levei como leituras que não li, mas que estavam ali para me acalmarem os livros da poeta Rita Magnago "Travessia do Verso" já que se houvesse um cessar que ele pudesse ser transportado nos belos versos dessa amiga e as crônicas de Carlos Rosa Moreira que me faziam lembrar das belezas de Paris e me induziam a viver para vivenciar aqueles lugares tão bem descritos por ele. Além desses, minha amiga-irmã Maria Teresinha trouxe-me Dostoiévski "Os irmãos Karamazov", Georges Duby "Eva e os padres: damas do século XII" e "Damas do século XII: a lembrança das ancestrais". Pergunto: estava ou não pronta para a morte? rsrsrs Que seja o que tiver de ser. 

Hoje, para comemorar, estou a fazer uma rabada bovina. Estão servidos?

Até breve!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Platão, o Amor, o Êxtase e os Cavalos Alados

Platão e suas comparações magistrais. Diálogo FEDRO, sobre a Ideia e Reminiscência. Embora seja um excerto que exalta a elevação da alma, a analogia nos remete despudoradamente ao corpo, tão belo e perfeito que coloca no devido lugar: às CINZAS QUE SÃO os ditos 50 tons e gêneros correlatos.


"Quanto à beleza, __ como te disse, __ ela brilhava entre todas aquelas Idéias Puras, apesar de nossa prisão terrena, seu brilho ainda ofusca todas as outras coisas. a visão é ainda o mais sutil de todos os nossos sentidos. Não pode, contudo, perceber a sabedoria. Despertaria amores veementes se oferecesse uma imagem tão clara e nítida quanto as que podíamos contemplar para além do céu. Somente a beleza dá-nos esta ventura de ser a coisa mais perceptível e arrebatadora. Aquele que não foi iniciado ou que se corrompeu, não se eleva com ardor para o além, para a beleza em si mesma. Apenas conhece o que aqui se chama belo, e não adora aquilo que vê. Como um quadrúpede, dedica-se ao prazer sensual, tratando de unir-se sexualmente e de procriar filhos. Se for dado à intemperança, não terá medo nem vergonha de se entregar aos prazeres contra a natureza. O que foi iniciado há pouco, e que outrora muito contemplou, ao ver um rosto divino ou um corpo que bem encarna a beleza, sente certa estranheza e um pouco da antiga emoção e volta, pois, a olhar esse belo corpo, adora-o como adoraria um deus. E, se não tivesse receio de ser considerado monomaníaco, ofereceria sacrifícios ao objeto do seu amor como a um deus. Quando contempla o seu amor, apodera-se do amante uma crise semelhante à febre: modificam-se-lhe as feições, o suor poreja em sua fronte e um calor estranho corre pelas suas veias. Logo que percebe, através dos olhos, a emanação da beleza, sente esse doce calor que alimenta as asas da sua alma. Esse calor derrete os entraves da vitalidade, aquilo que, pelo endurecimento, impedia a germinação. O afluxo do alimento produz uma espécie de intumescência, um sopro de crescimento do corpo das asas. Esse ímpeto vai se espalhar por toda a alma.


Esta, quando as asas começam a desenvolver-se, ferve, incha e sofre da mesma maneira como padecem as crianças que, ao lhe nascerem novos dentes, sentem pruridos e irritação nas gengivas. Também a alma freme, padece e sente dores, ao lhe crescerem as asas. Quando contempla a beleza de um belo objeto, e dele provêm corpúsculos que saem e se separam __ o que gera a vaga de desejo (himeros), a alma encontra então o alívio para as dores e a alegria. Mas, quando está separada do amado, fenece. E as aberturas de onde saem as asas também contraem e, fechando-se, impedem a saída da asa que, presa no interior juntamente com a vaga do desejo a palpitar nas artérias, faz pressão em cada saída sem abrir caminho. Desse modo, a alma toda, atormentada em seu próprio âmago, sofre e padece, e no seu frenesi não encontra repouso. Impelida pela paixão, ela se lança à procura da beleza. Quando a revê ou a encontra de novo, reabrem-se-lhe os poros. A alma respira novamente e já então não sente o aguilhão da dor e goza, nesse momento, da mais deliciosa volúpia. Por isso não a abandona voluntariamente.” (Platão, “Fedro” [250 à 252])


Belíssimo não? lembro-me que na época em que li esse livro, eu encontrava-me em vias de me separar e é claro que a carência afetiva e física acabaram me deixando vulnerável emocionalmente e quando isso acontece comigo, o mais provável é que me apaixonasse (platonicamente) e não deu outra. A velha história da paixão da aluna pelo mestre. Foi esse professor que indicou a leitura. Ele era, para a maioria das mulheres, estranho e nada atraente, mas eu via naquele homem coisas impressionantes. Certa vez ele veio me perguntar algo e no exato instante em que olhou para mim, o sol incidiu sobre seus olhos e a cor de mel deles era simplesmente encantadora e, desse momento em diante, tudo nesse homem me apaixonava. Seu perfil era baixa de estatura, careca e cabelos longos nas laterais, olhos cor de mel, magro e nada belo segundo os parâmetros em voga. Mas quando começava a discorrer sobre filosofia e Grécia Antiga era simplesmente mágico. Li com sofreguidão o livro e quando cheguei na alegoria dos cavalos alados em diante, já impregnada por tantos discursos sobre o amor, fiquei mais suscetível ainda e nos meus sonhos surgiu esse poema, nada sutil ou metafórico.




Dois são os cavalos
que deveriam nos conduzir
ao êxtase supremo.
Um dos cavalos nos impele aos céus
o outro a fincar-se à Terra

O embate é ferrenho,
a alma se divide e titubeia
ante que direção tomar
nessa incrível disputa.

Corpo e alma
e uma única dúvida:
seguir o puro sangue
ou o cavalo mestiço?

A batalha dura
uma eternidade.
Defesas caídas,
o mestiço assume o controle

Já não ouço mais o puro.
Deixo o mestiço conduzir-me.
A luta agora é outra.
Apelos incontroláveis e
um só desejo: pequenas mortes

Corpo exausto,
abrupto silêncio,
o coração ainda bate forte
depois... paz.



No dia em que iríamos discutir essa passagem especificamente, fiquei incomodada por lembrar do sonho que tive com o entusiasmadíssimo professor. Pasmem agora, como eu havia esquecido de trazer o livro, ele emprestou o livro dele para mim e uma amiga, sentamos juntas e qual não foi minha surpresa, escrito ao lado dessa passagem estava "falo ereto", não aguentei e sai da sala rindo e ninguém entendeu nada. Pode, a criatura havia pensado coisa semelhante também. Como podia ficar ouvindo a leitura sem ficar envergonhada? Ah! os arroubos amorosos e oníricos. Enfim, ainda me lembro dessa pequena aventura platônica, só que já não me envergonho mais. Quem quiser ler a alegoria dos cavalos alados pode encontrar nas passagens 246-247, do diálogo FEDRO.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

De São Gonçalo à Paris com escala em Niterói

Este relato ainda faz parte das comemorações de meu aniversário (23/07).

Combinei de almoçar com minha amiga no Plaza Shopping de Niterói no dia 20 de julho porque ela faz aniversário no dia 21, então, todos os anos nos encontramos e comemoramos juntas nossos aniversários (na verdade somos um grupo de três musquiteiras, mas a caçula está com uma filhinha linda e nem sempre pode estar junto conosco fisicamente). Mas antes do almoço eu tinha que fazer um exame em jejum. Após o exame, parto para uma lanchonete ou padaria para comer alguma coisa, pois já estava meio trêmula de fome (odeio ficar em jejum. Com certeza jamais serei uma freira). Nada me apeteceu nem na lanchonete nem na padaria (a flor do Rink não estava cheirosa). Parti para o Rei do Mate e pedi um capuccino grande, 4 pãezinhos de queijo e uma fatia de bolo de laranja. Depois de matar metade da fome, relaxei e peguei o livro de crônicas de Carlos Rosa Moreira, "A Montanha, o mar, a cidade" que havia comprado no dia 18/07 (mais um presente que me dei - eu me adoro mais ainda nesse mês e faço quase todas as minha vontades). Comecei a lê-lo e ia bebericando o café enquanto esperava minha amiga chegar. Entre uma página e outra, observava os transeuntes (como é de meu costume), meu humor melhorou consideravelmente. Quando escrevi este relato, eu disse que sabia o porquê de eu ter ficado azeda e que isso não vinha ao caso, pois era mais aconselhável mandar a situação para os confins da Conchinchina de meu inconsciente, já que não podia mandar para os confins da ponte que partiu (deu certo, pois já nem lembro o que havia me deixado chateada. Estou aprendendo a reter por pouco tempo dores e chateações - lição difícil, mas necessária).


Voltando. Comecei a ler a primeira crônica do Carlos intitulada "Em Paris" e foi muito engraçado para eu fazer comparação entre a crônica dele e a minha insignificância matinal em Niterói. Uma comparação histriônica. O cronista começa por descrever o ambiente de Paris com tanta leveza que quase senti a brisa da manhã me tocar. Tem algumas escritas que comparo ao movimento da fita daquelas ginastas olímpicas, giram sobre si mesma, fazem piruetas suaves e elegantes, mas não deixam de ser precisas e encantadoras. Gosto da fluidez da escrita desse escritor niteroiense. Fique a pensar que enquanto ele degustava Paris, eu me aventurava a perceber o ambiente a minha volta em Niterói, assim como ele havia feito no livro.

Rue Pot de Fer 
Havia um grupo de quatro moças muito animadas, principalmente porque uma criança de aproximadamente 1 aninho chamada Igor começou a chorar porque queria ficar na mesa das garotas e não com os pais. Enfim, Igor se livrou dos pais e foi fazer gracinhas com as meninas que adoraram ficar com ele. Foi tão bom observar isso que ampliei mais ainda meu campo de visão. Então terminei de ler e comecei a rascunhar esse relato e ria, um riso tão sincero que me enterneci por mim mesma. Senti prazer de escrever pela primeira vez. Foi também pela primeira vez que me diverti fazendo isso. A escrita para mim sempre foi angustiante, mas nesse dia foi como um sopro e você fecha os olhos para intensificar ainda mais a sensação de bem estar.

Tantas vidas que passavam diante de meus olhos sem se dar conta de que eram objetos de meu exame. Não se davam conta de que eram observadas por alguém e, que, de algum modo, estão fazendo parte de minha vida naquele exato momento em que meus olhos os acompanhavam até perde-los de vista. A vida é tão pujante, por que a gente as vezes a desperdiça? Perdemos tempo demais em desertos interiores e em lamúrias inúteis.

Por fim, levantei, fui ao encontro de minha amiga e passamos horas muito agradáveis.

Termino aqui com semblante sorridente e satisfeita por lembrar daquelas horas prazeirosas. Que tenhamos um Bom dia! Até breve.

domingo, 4 de agosto de 2013

Íon de Platão - O poeta existe?



Terminada a primeira leitura de Íon de Platão, pululam ideias e noções filosóficas semelhante à pipocas estourando dentro da panela. O rapsodo exposto como ridículo pela eurística platônica, me faz indagar sobre a ruptura entre a concepção mítico-poética como algo divino e menor, ao passo que a técnica é algo maior. A arte do rapsodo não aponta para uma técnica, portanto, pode ser tudo, menos algo que possa ser descrito ou levado a sério. 

A poesia como tal não é tratada se não há uma técnica sobre ela. O rapsodo não é poeta. Exerce apenas a função de meio de manifestação divina e não de criação. Mesmo que Homero seja tratado como poeta que cria, interpretei do diálogo que, mesmo ele [Homero], também não o é, já que este seria induzido pelos deuses, numa segunda camada vem o rapsodo que de igual modo, mas que em segunda via, é perpassado pelo divino numa sucessão advinda por Homero. Eis o excerto que martela os pobres tico e teco:

"Pois coisa leve é o poeta, e alada e sacra, e incapaz de fazer poemas antes que se tenha tornado entusiasmado e ficado fora de seu juízo e o senso não esteja mais nele. Enquanto mantiver esse bem, o senso, todo homem é incapaz de fazer poemas e de cantar oráculos. Mas como não é em virtude de uma técnica que fazem poemas e dizem muitas e belas coisas acerca desses assuntos, como tu acerca de Homero, mas em virtude de uma concessão divina, cada um é capaz de fazer apenas isto a que a Musa o inspira...."

No último parágrafo, penso eu que, Sócrates termina por ressaltar que o ser divino talvez seja divino não somente pelos deuses, mas também porque nós (os espectadores) assim os classificamos como tal, quer os deuses quer os poetas e rapsodos. Enfim, como sempre, os diálogos de Platão nos põe mais minhocas na cabeça do que certezas. Vixe mãe do céu.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Instante Infinito - Ana Freitas

Introdução

O que poderia eu dizer sobre espaço-tempo sob a ótica da Física? NADA. Ou ainda sobre o material, fotograma, que a artista Ana Freitas escolheu para materializar o pensamento do físico Mário Novello sobre espaço-tempo? Piorou, não sei NADICA de NADA. Então, comecei a fuçar o santo Google, que segundo a opinião da amiga de uma amiga minha, é mais útil que marido. Solteirona que sou e de posse de tal recomendação, adotei-o rapidamente tanto para a função profana quanto para a santa. Não me divorciei ainda, pois ele tem sido um marido desvelado e tenta suprir toda a minha ignorância premente. Pois bem, o pobre marido, por mais que queira e deseje profundamente, não consegue suprir todo o meu desconhecimento sobre física e fotogramas, mas me deu uma visão panorâmica sobre essas questões. Meu relato será em estilo novelesco, por partes, vamos ver em quantas ficam, Aguardem!

Parte 1

Lá vai as bobagens de meu caos mental sobre essa questões suscitadas acima. Falarei sobre minhas impressões sobre o dia de ontem (17/07/2013), que diga-se de passagem, foi revigorante mentalmente para mim e, nesse ponto, tenho que relatar tudin tudin. Roteiro: havia combinado com um amigo de ver a exposição "instante infinito" de Ana Freitas, almoçar, ver outra exposição "A Herança do Sagrado: obras-primas do Vaticano e museus italianos", no Museu Nacional de Belas Artes e, se desse, aproveitar para dar um oi para amigos do Clic na livraria cultura. Dia lotado, porque meu aniversário será dia 23/07/2013, e sempre aproveito para me mimar o máximo possível, afinal de contas, EUzinha MEREÇO e mereço MUIIIIIIITO. Vamos a trajetória.

Primeiro, não ouvi o despertador porque fui dormir tarde assistindo filme e desmaiei (de férias, sabe como é...)  e só acordei às 10:00. Hora que eu já deveria estar saindo de casa para ir me encontrar com meu amigo às 11:00. Pulei da cama, liguei ele remarcando para às 12:00. Corri para o chuveiro e, cadê a água? Vesti-me e fui ligar a bendita bomba. Depois de alguns percalços, consegui ligá-la. Volto contente para o chuveiro e já no finalzinho do banho, falta luz. Xingo até a terceira geração de tudo e de todos. Seco-me sem ter tirado todo o condicionador do cabelo (nem preciso dizer que o cabelo ficou uma bucha e quando o vento batia então, era a visão do tártaro). Desço correndo para pegar o buzão e o que acontece, hein hein? Um lindo e lennnnnnnnnnto congestionamento. Resumindo, cheguei atrasada 35 min, mas cheguei. O que seria da vida sem os imprevistos para dar aquele PLUS?

Pelo adiantado da hora, invertemos o roteiro e fomos almoçar em Niterói mesmo e depois pegamos o ônibus para o Leblon. Dentro do ônibus, meu amigo se dar conta de que não tem o endereço da galeria. Ligamos para todos os amigos para pegar o telefone do nosso colega que nos deu a dica da exposição e nada, ninguém sabia o telefone dele. Por fim, liguei para uma amiga e pedi-lhe para ver na internet, detalhe: não sabia o nome da galeria, não sabia o título da exposição, apenas o nome da artista. É claro que meu santo marido ajudou sem dúvida nessa hora e ela retornou a ligação me dando o endereço. Sempre morei no subúrbio e de Zona Sul, só conheço o nome. Meu colega conhece mais do que eu, graças aos céus e pegamos outro ônibus (lá se vai 3 ônibus) para chegar a galeria. Difícil né, mas não me arrependo e até superaria mais obstáculos para vivenciar o dia de ontem como o vivi. Talvez possam achar pouco, mas sempre experienciei uma gota tanto ou mais que um oceano. Nada é vazio para mim. Nada é pequeno ou grande, só os vejo como tal, na medida que me comovem ou afetam minha alma.

Parte 2 - Na galeria


Bem, o espaço da galeria não poderia acomodar toda a afetação que a exposição de Ana Freitas me causou mentalmente (isso porque já é uma mente caótica). Fomos recebidos pelo simpaticíssimo Jaime P. Vilaseca que nos pôs a par do trabalho da artista. Contudo, quando ele falou que a exposição havia sido pensada a partir do confronto dialético da Ana com o físico Mário e, que ela tentou materializar o que o Mário pensava ser tempo e espaço, pirou meu cabeção (o tico e o teco levaram alguns minutos para absorver a informação), como diz uma música. Aloprei internamente, dado meu semblante fechado e circunspecto não transparecer meus surtos. Acho, segundo a descrição de como fazer um fotograma, que foi mais ou menos o que aconteceu comigo. É como se eu fosse o papel, a exposição e o que ela suscitou de meus pensamentos, foram os objetos e quando a luz é jogada (não sei se é de cima para baixo ou de baixo para cima), foram impressos em mim-papel e depois se fixaram em minha alma. A seguir, vamos ver alguns desses objetos mentais.

O processo da artista foi registrado em cadernos (é claro que me identifiquei com isso, tenho pilhas deles também) e estão disponíveis na exposição para o visitante ler. Para não dizer que eu surto sem motivos, olha o que a Ana se pergunta: qual a espessura do limite? O que me fez lembrar automaticamente da questão do Ser e do não-ser que não é de modo algum do Parmênides, pois se o ser é, onde fica o limite do que não é? Pois se tudo é ser, haveria linearidade, tudo plano sem fissuras ou desníveis. Como interpreto a realidade não como um continuum, devo conceber que tem de existir um não-ser e para tanto, que limite é esse entre o SER e o NÃO-SER (eita Górgias, me acode) e qual seria a espessura, grossa, fina, milimétrica ou incognoscível?

Pulemos agora para o Tempo. Manuseio um objeto que Ana denominou de "instante infinito" e que me faz pensar num tempo que se dobra sobre si mesmo. Pensando nisso, me cai direto na cabeça, Santo Tomás de Aquino e sua concepção sobre Os instantes (que provavelmente levarei toda minha vida e não ficarão muito claros para mim) em seus Opúsculos Filosóficos cujo título do segundo capítulo é: "como o instante está presente em todo tempo, na mesma coisa, diferente segundo a razão", antes, no proêmio, ele diz que para compreendermos os instantes, temos que conhecer a natureza da duração, pois "o instante é concomitante a toda duração". Ora, pensemos na afetação que a exposição causou em mim. Eu sou um determinado tempo que tem uma duração específica (não devo chegar aos 100 anos, por exemplo), no entanto, li essas considerações do Aquinate num determinado instante de minha vida, contudo, em outro instante de minha vida, retorno ao instante dos instantes de Tomás de Aquino. Bem, nada mais razoável do que concluir precipitadamente que existe um tempo e nesse tempo, finitos instantes e dentro desses finitos instantes, outros tantos finitos instantes abrigados dentro de um tempo finito pela duração. Isso levando em conta, apenas eu como amostra, mas, se levarmos em conta que existem trilhões de outros eus e objetos que também tem duração, então o tempo pode ser infinito contendo infinitos instantes e dentro destes, outros tantos instantes tão infinitos quanto. Como não concordar com o que o Cosmólogo Mário Novello diz: "A matéria, a energia, o espaço e o tempo se entrelaçam em um processo eterno", ou como ele pensa o espaço-tempo como algo diáfano, tênue, etéreo e fluido.



Uma outra maravilha da exposição é a ampulheta vazada que ela intitulou de Tempoeira. Perceba que se a ampulheta fosse fechada, estaria representando um tempo específico e criado, no entanto, ela vazada nos dar a real sensação de que o tempo se materializa na poeira que penetra pela abertura e vai se acumulando ou cai direto a outra extremidade. Chegará uma hora em que haverá tanta poeira acumulada que o tempo será visível para o espectador. A pergunta que pode surgir é: quanto tempo demorará para que o tempo se materialize? Eu digo que não importa o tempo, só o fato de ele escoar livremente já é condição fundamental para a sua materialidade, contudo, ainda está contido num espaço específico que é a ampulheta.

Por fim termino aqui meu relato experienciado na exposição de Ana Freitas que se consubstanciou em uma verdadeira vertigem mental. Uma experiência que Joaquim Marçal conclui ser um "tudo-ao-mesmo-tempo-aqui-agora-e-em-todo-lugar". 

Quem quiser ainda pode visitar seu trabalho que ficará até o dia 20/07/2013, na Galeria Portas Vilaseca, na rua Ataulfo de Paiva, 1079, loja 109 - subsolo - Leblon. O site é http://www.portasvilaseca.com.br/

Até breve!




quarta-feira, 24 de abril de 2013

Edgar Zúñiga Jiménez - Artista plástico.


Hoje o dia está lindo, ensolarado e sem aquele calor insuportável. Revendo essa série desse artista, percebo que quando estou desistindo da humanidade, vem a arte e me convence a dar mais uma chance. Fico estarrecida com a capacidade humana de produzir sentido e beleza às coisas. Nunca entendi muito bem a relação de Nietzsche com a arte, mas se for algo parecido com isso, acabei de entender, mesmo que tenha sido desenhado (sempre soube que meu cérebro é movido à manivela). Meu intelecto para os doutos é medíocre e para os ignorantes é louco, pendo mais para o não ser do que para o ser rsrsr. Estou ferrada mesmo, para as duas espécies sou um ser perjorativo (só psicanálise na veia para se tentar resolver essa existência rsrsrsrs).

Mas voltando à Arte, lembrei da Capela Sistina e da imagem de Deus e sua Criação: o Homem. Deus estende o dedo para tocar o homem, esse religare me leva a crer que as lentes que filtram o humano até mim é sem dúvida a Arte plástica, literária e todas as outras formas. É ela a intermediária, é ela que me traz a beleza quer divina ou profana. Essa série me remete a Atlas e aos totens. Mesmo sendo belo, o mundo as vezes nos impinge um peso quase insuportável, por outro, nos revela belezas mil. "Eita nóis", quer mais caos do que isso? rsrsrsrs.

Neste link podemos encontrar um pouco da biografia desse maravilhoso escultor da Costa Rica.


terça-feira, 23 de abril de 2013

Lançamento: Letras rebeldes, fluidos insensatos - Novaes


Ontem li um conto do livro de um amigo que foi lançado recentemente. Não farei aqui uma crítica sobre o livro, logo porque não o li por inteiro, apenas um conto, o que ja foi suficiente para eu concluir que fiz um excelente negócio. Dizem que negócios são negócios, amigos a parte. No caso específico da aquisição dessa obra, o ditado não se sustenta, pois negócio é negócio mesmo, mas o amigo faz parte. Mas por que cargas d'água estou a falar essa bobajada toda, o que quero dizer é que me deu imenso prazer ler os insensatos fluidos mentais de Novaes.

Um aspecto que adoro nos livros de poesia e contos é que não preciso começar pelo começo. No caso do livro do Novaes, começei pelo fim. O conto é "A Carta", muito interessante a forma como ele nos dispõe dentro da narrativa, num tempo real de leitura, com os mecanismos mentais e instrumentos reais (a transparência) que nos possibilita uma interação ativa, real e ao vivo.

A indeterminação da língua originária da carta faz com que possa ter sido escrita em qualquer lugar com a mesma problemática de governos ditatoriais ou falta de liberdade de expressão ou simplesmente a negação do nosso direito de ir e vir e opinar. 

O absurdo que toda essa circunstância causa no sujeito, foi bem traduzida (como sempre) na descrição do jornalista "Um sujeito vivido, algo amargurado, cético, como se sua alma tivesse sido talhada a golpes brutos de realidade". A imagem da realidade como um cinzel a talhar e esculpir o sujeito me impressionou pela precisão e pela comunhão entre imagem e letra. Aliás, esse parágrafo é de uma beleza estética de comparações incríveis. Um apelo sensorial externo e interno belíssimo (vou diminuir os adjetivos para não ficar entediante): sentimento e armas e ferimentos; vidas e fio; filetes de sangue em lágrimas; dores reais e filosóficas que penetram pelo físico e influencia o psicológico, mental e intelectual.

A imprecisão do diálogo entre John e o narrador é bacana, não se sabe onde nem quando ou em que momento da vida de ambos a história veio à tona. O sentido ideológico-político do contista (não no sentido partidário, mas no sentido de crítica, de indignação e denúncia) ficou muito bem pontuado. A luta travada pelo rebelde em detrimento de seu cárcere foi tão forte quanto uma arma na mão. A inventividade e criatividade do autor na mensagem codificada é muito, muito legal. Essa superposição de sentidos é porreta de boa meu caro amigo. Fiquei a imaginar se ele escreveu as duas cartas e depois mesclou as mensagens (mais uma interação leitor-autor e não leitor-personagem. Deu muito trabalho essa articulação entre o todo "ingênuo" da carta e o xeque-mate do rebelde com a transparência? Curiosíssima rsrsrsr).

Quanto ao personagem do jornalista, fica um alerta de que nem sempre devem divulgar algo sem que pese realmente as consequências do que se está publicando. Será que ele teve a "decência" de retificar, melhor, seria possível retificar o equívoco e restaurar a honra daquele rebelde? Isso me fez refletir que atualmente, não dá mais para acreditar na aparente imparcialidade da mídia. O que testemunhamos cotidianamente nos telejornais e nos jornais impressos é de uma parcialidade passional por parte dos jornalistas. Não são fiéis ao fato e sim ao que lhes convém.

O livro encontra-se a venda no site do Clube de Leitura Icaraí. No dia 05/07/2013, ele será debatido pelo grupo.


Eu havia dito ao Novaes que leria seus contos em doses homeopáticas porque sou extremamente prolixa. Às vezes me perco em mim mesma, que dirá na literatura, aí é que dificilmente consigo fazer síntese e me achar. Aliás, para mim, a literatura é só complexidade. Findo por aqui minhas impressões sobre este conto. Até mais ver.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Um presente de páscoa


Hoje escrevo esse post para comemorar a Páscoa. Muitos presenteiam com ovos de chocolates, mas eu preferi dar de presente a mim e a todos os amigos esse haicai escrito pelo poeta Luis Antonio Pimentel, membro da acadêmia Fluminense de Letras, porque não há nada mais divino para mim do que a poesia. Pois ela é capaz de alimentar almas, expurgar dores, festeja a vida e as vezes até a morte tanto dos que produzem quanto dos que usufruem. Todos que me conhecem sabem da minha predileção pela poesia e pela filosofia. Elas tem uma relação direta. Daí que uma não exclui a outra, já que umas das fontes fundamentais da filosofia é Homero. Isso sem falar das musas e a arte de cada uma delas. Considero a Filosofia como fonte de sabedoria justamente porque seu nascimento se deu por inspiração poético-divina.

Entao, nada mais justificável do que oferecer aos amigos esse extraorndinário Macrocosmo condensado no Microcosmo desse pingo de orvalho.  Essa Cosmologia física tão bela que me tocou profundamente nesta manhã. 


Obrigada Elô, por enfeitar minha vida com esse perfume outonal.


Que é um haicai?
É o cintilar das estrelas
num pingo de orvalho.

(Luis Antonio Pimentel)

quinta-feira, 7 de março de 2013

Nuno Ramos - Artista plástico

Síntese minha sobre a obra do artista plástico Nuno Ramos

FORMA QUE SE DEFORMA E SE TRANSFORMA EM OUTRA FORMA

Essa síntese foi pensada quando vi essa obra. É um jarro inteiro que é levantado e jogado de qualquer modo, com a queda, ele se rompe e a imagem do conteúdo se esparramando é visualmente muito interessante. Sua matéria prima flutua entre o sólido e o líquido, nas obras dele, podemos perceber a permeabilidade entre os materiais.

O quadro é o que sai para fora da tela


















http://www.nunoramos.com.br/portu/comercio.asp?flg_Lingua=1&cod_Artista=98&cod_Serie=42

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Simples e o Complexo - o raso e o profundo

Hoje me lembrei que outro dia me perguntaram qual era o tipo de pessoa que eu apreciava. Na hora, não soube responder porque fiquei a pensar e repensar. Hoje o assunto voltou à baila em minha mente e posso garantir, que o tipo é indiferente, mas a qualidade do tipo é que me importa. Nunca me prendi a esteriótipos ou estética. Gosto do ser humano e de suas idiossincrasias. 


Mas fiquei a matutar mais um pouco e cheguei a seguinte redução "categorial": o tipo de vertente rasa ou profunda. O primeiro perfil, não é como se pode imaginar de imediato algo sem valor ou depreciativo, ao contrário. A criatura simples pode ser visitada em seus recônditos sem que escorreguemos perigosamente. É como um rio de águas límpidas, transparentes em que você só precisa inclinar o corpo um pouco em sua superfície e seja capaz de ver o interior. Talvez essas sejam dotadas de uma puerilidade que nos alivie as angústias existenciais ou acentue ainda mais (va lá se saber se elas para chegarem a tal estado não tenham passado pelos mesmos processos que nós, meros mortais). Não saberia dizer realmente se existem pessoas com esse grau de pureza (algumas pessoas me passaram pela mente ao pensar nesse tipo - Chico Xavier, Madre Teresa de Calcutá, São Francisco de Assis ou as crianças), bem, mas pelo visto, pensei em pessoas extraordinariamente extraordinárias. Portanto, nem de longe poderia suportar tal comparação com meu modo de ser, dado a minha imprudência e incompetência em viver. 


Por outro lado, o segundo perfil, já tem de cara um aviso na entrada de "máximo cuidado". É um pefil mais do que interessante, mais do que escorregadio, abissal, escuro, cheios de reentrâncias que nos levam a fendas que, talvez adentrando em uma delas, não seja mais possível o retorno. Pensei, poxa, então resta o meio termo. Pensei, pensei e finalmente concluo que cheguei a um patamar em minha vida que o caminho do meio não me interessa. Consequentemente, resta-me arriscar o que antes não fazia, pois vivia no caminho do meio, "Ou isto, ou aquilo" bem me faz lembrar Cecília Meireles. Escolhi uma via que me deixou estagnada, morta principalmente para mim. Talvez ainda surja uma outra alternativa como uma espécie de pequena fissão do simples numa parcela do complexo, uma pequena rachadura que me permitisse viver bem. Ou será que a fusão seria o mais adequado (será que é possível dois todos num todo consensualmente? 


Acho que já somos assim mesmo, só não nos damos conta dessa simbiose porque sempre estamos preocupados em nos classificar entre uma coisa ou outra.  

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Jornada Humana

Interssante pensar que um dos ramos da nossa jornada humana tenha advindo da ingenuidade, criatividade e coragem. (pensando nos aborígenes na Austrália) - TV Escola.


Percebe-se que a arte era um instrumento não só mítico, mas de conhecimento prático. 

 Há que se imaginar que muita água correu sobre esse vasto mundo até chegar onde estamos.


E ainda se fala em raça pura, preconceito de cor. Gente idiota. Não tenho paciência nem estômago pra isso.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Arte de Flanar - um modo de filosofia espúria?


Essa semana eu vi uma postagem de um antigo professor recomendando um texto sobre o Agamben e cujo blog é intitulado "Flanagens" - essa palavra me deixou curiosa, mas deixei para lá. Contudo, ao pegar uma revista e ler um artigo do professor da UFSC, Wellington Lima Amorim, "A arte de flanar" relembrei do blog e resolvi espiar com mais vagar. Então o que é Flanar? Segundo João do Rio, "Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque [não elucidou e eu tão menos sei o que é basbaque] e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem", ou, ainda, "flanar é a distinção de perambular com inteligência".

O autor do texto da revista defende a ideia de que a filosofia brasileira esta contida nas obras de Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis, Lima Barreto, João do Rio entre outros de nossa Literatura. Bem, mas o que flanar tem a ver com isso? O professor Wellington fala sobre um peregrino curioso e que "Será sempre nas ruas e nas estradas dos espaços urbanos que encontraremos esse tipo curioso: flaneur. Esse personagem é aquele que investiga, busca algo que está velado, escondido, é um viajante, um peregrino, um observador arguto ao qual a rua e a estrada são a sua morada". Bem, não conheço a obra dos outros autores, apenas um pouco a de Machado de Assis. Porém, fiquei com água na boca para conhecer os outros, principalmente o João do Rio, que há muito ouço falar com as melhores recomendações. Em seguida ele diz que "Esses autores fazem dos rejeitos da cidade matéria de reflexão, em companhia de detentos, prostitutas, catadores de lixo etc. São nesses espaços esquecidos que nossos pensadores refletiram sobre a condição humana".

Depois ele dá uma outra noção de flanar e flaneur que, em princípio, fico ressabiada em encaixar Machado de Assis. "A arte de flanar é a capacidade de observar o incomum é a habilidade de apreender tudo aquilo que se destaca da massa, que não é funcional, que está à margem de todo processo de modernização" e flaneur "é aquele que se recusa a se tornar um homem comum, um personagem anônimo na multidão", em seguida ele cita a definição de Nunes Bittencourt "Uma pessoa desprovida de instrução formal e de bens materiais, mas que é dotada de espírito avaliativo e sensibilidade cultural para apreciar aquilo que é belo ou sublime, se encontra longe da esfera vulgar da tipologia das massas, caracterizada justamente pela ausência de critérios seletivos em suas avaliações". Encontrei uma certa dificuldade em compreender e confesso que aqui eu me perdi um pouco, portanto, ainda vou amadurecer um pouco a ideia. Mas a mim parece que há algo muito consistente a ser pensado sobre isso. Ele conclui que A Filosofia no Brasil é marcada pela contingência, precariedade e pela presentidade. Esse último elemento, presentidade, é essencial para se entender o zeitgeist de uma determinada cultura. (...) o fazer filosófico no Brasil consiste em reflexões de nossa condição trágica e precária a partir de relatos do nosso cotidiano". Para ele, flaneur é alguém que exalta o tempo presente, vive uma vida sem objetivos". Foi precisamente nessa última frase que empaquei e não consegui articular a figura de Machado.

O artigo adentra mais em alguns outros conceitos, mas por hora, fico a ruminar apenas nessa concepção de filosofia e sua ontologia calcada em rejeitos. Estranho pensar que nossa filosofia nasça dessa forma. Estou a pensar nesse exato momento na palavra ESPÚRIA. Já emiti opinião de que se quisermos saber a quantas anda a humanidade, devemos fazer perguntas no submundo, de preferência às prostitutas. 


Será que poderiamos classificar a filosofia brasileira como Filosofia Espúria? Enfim, vou parar por agora antes que dê pane geral na cachola rsrsrs

sábado, 12 de janeiro de 2013

O Hobbit - J.R.R. Tolkien


Bem, findo o livro "O Hobbit", eis como me sinto lendo um post do grupo Tolkien Brasil (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=468665749858768&set=a.458414514217225.103476.429355973789746&type=1&theater), me inspirou e eu comentei isso lá, aqui e além rsrs:

Talvez seja por isso que eu gosto tanto da obra do Tolkien. Não li toda a obra dele, mas a impressão que tenho é que o mundo fantástico para Tolkien, era sua própria vida. Ele a colori com matizes intensos e delicados ao mesmo tempo. Pinceladas leves, mas que imprimem naqueles que o leem ou ouviram sua narrativa, uma marca indelével. Sua obra, para mim, é um Elogio à família, a riqueza da simplicidade das coisas que normalmente deixamos de observar no corre corre da vida moderna e urbana. 

  
Ontem terminei de reler o livro "O Hobbit" e ao longo da história, ve-se claramente a oralidade do autor, é como se de fato a escrita estivesse no mesmo passo da voz dele narrando aos filhos. Partes exaltadas tão necessárias para prender a atençao dos pequenos, as músicas que sempre encantam as crianças e fazem com que elas interajam e entrem naquele mundo narrado. Alías, falar de pequenos, é mais uma indicação de que esse mundo fantástico, talvez, tenha sido criado com a intenção de fazer com que eles sejam a parte mais importante (Bilbo é menor que os anões e é o herói; Frodo igualmente), os gigantes são tolos e nem conseguem entender-se entre si. A ruptura da linearidade da narrativa causando aquele frisson nas crianças para saber o que acontece e ele retoma o ponto anterior da narrativa explicitando o ocorrido para que nada fique de fora, mas a técnica causa essa excitação e o autor conduz filho e leitor as imensidões, as fendas, os abismos de sua imaginação tão genial aonde ele quer. Somos todos ouvidos e vistas, confesso-me completamente maleável e adoro isso, rsrsrs.

CARAMBA, vou parar por aqui, ja deu para ver que eu AMO MUITO TUDO ISSO.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Narrador / Personagem - pensando os elementos da narrativa


Estou a pensar sobre a coerência da fala do narrador e do personagem. Como podemos definir por exemplo, quando um personagem não tem grande erudição, mas sua fala demonstra um profundo conhecimento psicológico calcado em aspectos teóricos? Como posso considerar a estrutura narrativa e a construção dos personagens?

Será que a sensibilidade e a observação da vida e suas conclusões tiradas desse contexto são suficientes para a verossimilhança dos personagens? Acho que sabedoria não requer diploma, mas a linguagem com a qual a literatura é inscrita, depende do sentido que as palavras dão ao texto e, com elas, podemos dizer quando é simples ou complexa ou complexas mesmo sendo simples. Se ponho um analfabeto falando sobre questões científicas com linguajar específico (como classificamos: coerente ou incoerente?), por outro lado, um erudito pode falar de modo menos erudito (então, como montar essa equação na hora de criar personagens sem cair em incoerencias e contradições?)